É um verdadeiro cenário de guerra, o que, por estes dias, se vislumbra no passeio marítimo da Costa de Caparica, com crateras no pavimento, postes arrancados e bares parcialmente destruídos. Desde o início do ano, já foram várias as ocasiões em que as ondas galgaram o paredão, entre as praias do Norte e do CDS, arrasando tudo à sua passagem. Das escadas de acesso ao areal, restam apenas as estruturas de ferro, a pairar sobre um mar revolto, que engoliu por completo a areia da mais concorrida zona balnear da grande Lisboa.
Aparentemente indiferentes ao ambiente de caos que os rodeia, alguns pescadores à linha aproveitam a acalmia do tempo para tentar a sua sorte nos molhes. Entre eles está Eduardo Alves, 51 anos, técnico de análises clínicas, natural de Lisboa, a viver na Costa há duas décadas, que assegura nunca ter visto nada assim. “A última vez que as praias ficaram sem areia, como agora, foi há três anos. Repuseram-na, mas acabou por ser levada pelo mar. A diferença, desta vez, foi a destruição causada pelas tempestades, que agravaram ainda mais a situação”, observa. Quando Eduardo se mudou para a Costa, ainda existia uma língua de terra entre o Bugio e a Cova do Vapor, que, na sua opinião, “servia de proteção” a toda esta zona litoral. “As constantes dragagens enfraqueceram-na e os resultados estão à vista”, diz. Por outro lado, “os esporões estão mal feitos, porque, como os ventos dominantes são de norte ou de sul, acabam por não proteger a costa”, considera, antes de lançar mais uma vez a linha.
Para o GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, a zona da Costa de Caparica é um dos casos mais alarmantes em todo o litoral português. Segundo Lurdes Brandão, vice-presidente da associação ambientalista, “a culpa desta situação é do Programa Polis”, que não foi concluído e não terá cumprido o seu papel. “Uma intervenção desse tipo, numa zona litoral de risco, não pode só atender a questões turísticas e económicas, ignorando a proteção da orla costeira, que deveria ser o seu objetivo principal. Das duas uma: ou o programa não foi cumprido ou nada disto foi salvaguardado.” A engenheira ambiental considera que a situação “está cada vez pior” e com tendência a tornar-se “recorrente, devido a esta sucessão de tempestades violentas e também por causa da subida do nível do mar”.
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Reportagem nas praias de Vila Praia Âncora, Barra, Furadouro, Pedrógão, Areia Branca, Praia Grande, Adraga e Costa da Caparica. Saiba o que correu mal, os prejuízos e os cenários para o futuro.
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