Recorrentemente dou por mim com saudades dos meus tempos de estudante universitário em Évora. Por muitos motivos. Porque nessas idades as preocupações são outras; porque em Évora conheci um grupo de amigos de exceção; porque foi lá que conheci o amor da minha vida; e porque, nesses tempos de leveza de espírito, simplicidade e paixão, conseguia deslocar-me a pé para quase todo o lado.
Havia quem tivesse carro (o que não era o meu caso), mas tal não era essencial. Quem não tivesse veículo motorizado não se sentia minimamente ancorado, limitado em movimentos. É certo que essa possibilidade se devia às características e dimensão da cidade, mas ainda assim deixa saudade.
Hoje vivo no Algarve e a minha realidade mudou drasticamente. Cedo me apercebi que o Algarve não funciona como uma região tradicional. O Algarve funciona como uma grande área metropolitana onde se englobam todas as cidades. Grande parte das pessoas, no Algarve, não faz a sua vida na cidade onde vive (como de resto também acontece com as pessoas dos grandes centros urbanos). Uma pessoa atravessa com facilidade o Algarve quase de ponta a ponta apenas no seu trajeto casa-trabalho, ou mesmo por questões sociais e de lazer. Podemos dizer que essa realidade também encontra paralelo naqueles que vivem em redor de Lisboa e do Porto, que muitas vezes são obrigados a percorrer muitos quilómetros para irem trabalhar. Mas aqui entra um importante fator de diferenciação – rede de transportes públicos.
No Algarve não existe uma rede integrada de transportes públicos. Não é completamente impossível viver-se sem carro, mas a sua ausência condiciona em muito a vida de cada um. Existem transportes públicos, mas são escassos, fortemente dependentes da sazonalidade da região e não acompanham a realidade da mesma. Resultado, a larga maioria das pessoas necessita de um veículo para se deslocar. Veículo esse que é ocupado por pouco mais do que o próprio condutor, dada a dispersão das atividades de cada um pelo território. Torna-se difícil uma diminuição do impacto das deslocações.
E não é só para os cidadãos locais que os transportes públicos funcionam mal. Com o grande “boom” das companhias aéreas de baixo custo, os utilizadores que chegam ao aeroporto de Faro, através dessas companhias e que constituem um outro tipo de turismo, poucas alternativas encontram para a sua mobilidade do que táxis ou veículos de aluguer.
Há que ligar o Algarve por mais do que uma SCUT, onde já pululam os pórticos para a futura introdução de portagens. Há que facilitar a mobilidade dos cidadãos dentro das próprias cidades e entre estas.
Falo desta região, por ser uma realidade que me é mais próxima. Mas com facilidade se encontraria paralelo em outros centros não urbanos.
Num país que se arroga apostador nas energias renováveis, pouco apostamos na diminuição do nosso impacto no ambiente pela forma como nos movemos. Não apostamos em transportes públicos, reduzimos a rede ferroviária, ao mesmo tempo que incentivamos ao uso do automóvel com a proliferação de autoestradas pelo nosso país.
É importante mudar o paradigma para que, mais do que simplesmente utilizarmos fontes de energia pretensamente renováveis, nos empenhemos em reduzir o seu consumo.