“O estilo de vida descartável é mais um problema do que uma solução”. Na apresentação da ativista ambiental, Joana Guerra Tadeu, que tem mais de 13 mil seguidores no Instagram, ficamos a saber que consumimos o dobro de há 50 anos e que praticamente 99% daquilo que compramos é deitado ao lixo em menos de seis meses. Está, pois, na hora de pensar a sério e agir já, a começar a mudar hábitos, porque “o planeta precisa de ambientalistas imperfeitos”.
No segundo dia do VISÃO FEST Verde, a Minimalista que se empenha diariamente em cultivar e divulgar um estilo de vida consciente, explicou como podemos fazer para evitar cair na armadilha de “ficarmos reduzidos a consumidores para nos sentirmos cidadãos”. Infelizmente, é o que tem acontecido até agora, “quando vamos ao shopping comprar coisas de que não precisamos só porque é mais barato ou por estarmos aborrecidos”, por exemplo.
Cultivar o ativismo ambiental não é fácil, pelo menos no começo, já que implica contrariar comportamentos automáticos e resistir aos do modelo dominante. Coisas simples como sair de casa e não trazer nada da rua pode constituir um desafio. A jovem mãe, que não compra vestuário há mais de cinco anos, recordou um episódio que muitos pais conhecem: ao passar na padaria, depois na frutaria, e dizer “não, já temos em casa” à filha Aurora, com três anos, porque já tinham em casa, levou a pequena a fazer uma birra. “Podemos ser agentes de mudança sem ser pela via do consumo”, adiantou. E com um bom argumento, a que não devemos fechar os olhos: o de termos atingido, em agosto, a data de sobrecarga da Terra.
Como ser mais ecológico
Formada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, ex jornalista, ex consultora de gestão bancária e co-fundadora da primeira rede e loja online portuguesa de curadoria sustentável, Joana decidiu aplicar o minimalismo à maternidade. Começou a treinar o desapego com as prendas, apostada a cultivar a maternidade sustentável, criou um podcast para jovens mães para discutir a maternidade sustentável e, sempre que possível, com menos lixo.
Estabelecer um limite de prendas, ter a coragem de dizer não a presentes desnecessários em datas festivas e reutilizar bens de consumo foram algumas das medidas que passaram a fazer parte das suas rotinas. “Porque é que temos de usar material descartável nas festas?” Não se trata apenas dos plásticos, mas também de outros bens de consumo. Joana contou como surpreendeu familiares ao comunicar-lhes que não ia usar fraldas descartáveis. Um gesto que vem na continuidade de outros, como usar o copo menstrual em vez dos tampões e não passar a roupa a ferro. A meta ter mais tempo e menos coisas, o que implica conversar e negociar na relação com os outros, de forma a criar mudanças mais efetivas e melhores para todos a médio prazo.
Minimalismo é…
… “Consumir proporcionalmente às suas necessidades e não proporcionalmente às suas capacidades de compra.” Ou seja, apoiar as nossas decisões de consumo em valores e numa lógica de equilíbrio. Comprar por instinto, ou porque se teve um aumento de rendimento e se pode, não faz sentido, até porque, depois, vai ter de se destralhar. Um exemplo do que pode fazer, seguindo uma atitude minimalista: “Comprem um par de calças como se estivessem a comprar uma casa.” Não se faz por impulso. O princípio é adotar o mesmo critério a tudo aquilo que se adquire, de forma consciente. Na alimentação, o critério pode ser “prefiro local” e agir de acordo com ele. Outras sugestões fáceis de implementar: Usar uma caixa no frigorífico com a etiqueta ‘come-me primeiro’, onde estão alimentos que sobraram, para evitar o desperdício; preferir enlatados a congelados; reduzir o consumo de água e de energia em casa (reparar fugas de água, deixar de passar a ferro), consumir menos carne e praticar a auto suficiência, “fazer o nosso pão, a nossa horta”.
Menos vulnerabilidade ao consumismo
Possuir menos, gastar menos, perder menos tempo e energia em atividades que não são amigas do ambiente e usá-los junto dos que mais gostamos. “Façam todas as vossas compras como se fossem gigantes; pensem antes e tenham um orçamento familiar, avaliem os consumos e calculem a pegada ecológica e a de escravatura daquilo que compram”.
Cultivar o consumo ético e intencional é a via para ficar menos vulnerável ao consumismo e por em prática a máxima “menos é mais”. E a economia? Não vai sofrer com isto? Joana apoia-se, mais uma vez, em dados, para responder: “Tratar o lixo para um aterro ou para a incineração produz, por mil quilos de lixo, dois empregos; se criarmos maneiras de reciclar produzimos 12 empregos; e se criarmos negócios para reutilizar esse lixo estamos a falar de 118 empregos.” Dito isto, de que é que estamos à espera?
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