A missão de Pedro Matos Soares, o físico da atmosfera do Instituto Dom Luiz da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, neste VISÃO FEST Verde, era explicar como e por que razões o clima está a mudar – mas o seu maior trunfo foi ter traduzido em poucas palavras que os maiores prejudicados, os que correm maiores riscos, com a aceleração das alterações climáticas no planeta, somos nós que o habitamos.
Os mapas que trouxe à Estufa Fria, em Lisboa são bem elucidativos. Confirmam que sempre houve variabilidade climática no planeta, da temperatura e das emissões de CO2, mas sempre foram arrefecimentos e aquecimentos que decorrem durante milhares de anos. “Escalas longas de variação, portanto”, sublinhou o geofísico. “Mas o que testemunhamos agora são escalas muito menores, que ocorrem em 100 anos, 50 anos… E a correlação com o aumento dos gases com efeito de estufa na atmosfera é inequívoco”.
Isto tudo para dizer “quão extraordinário o momento que vivemos hoje em dia”, reafirmando que os valores atuais, e as projeções que permitem fazer, estão fora da variabilidade normal. “Não são próprios do planeta Terra”, insistiu Matos Soares. “Uma coisa são variações em milhares de anos, outra é este aumento forçado, acelerado do clima.”
“O maior problema não é a mudança do clima, é a rapidez com que acontece”
Os efeitos, já estampados no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), já são mais que visíveis – como o degelo, o aumento do nível da água do mar e da temperatura. “Nos últimos anos, batemos o recorde da subida média de temperatura 19 vezes”, acrescentou o especialista. Mas não é só. “Temos variações em todas as variáveis meteorológicas”.
Exemplos? “Temos visto o drama que se vive no ártico, com recordes de diminuição da superfície gelada e também da espessura do gelo. A cada ano que passa, temos menos volume de gelo. Se temos degelo, temos subida do nível do mar. “Em cem anos, o aumento é dez vezes maior.”
O grande problema, sublinha, “não é a mudança, é a rapidez com que acontece. Ano após ano, deparamo-nos com o aumento de situações extremas, batemos recordes em fogos com maior dimensão – e não só nas zonas mediterrânicas, mais propensas a isso. São cada vez maiores e em todas as latitudes do mundo.”
“Dos 33,4 milhões de deslocados no mundo, 24,9 milhões são devido a desastres naturais”
E quem vai viver com tudo isso? “A questão mais problemática dos efeitos das alterações climáticas é a vida das pessoas. Quando temos fogos e inundações extremas, temos deslocados. Se antigamente, a maioria destes casos estavam irremediavelmente associados a guerras e a conflitos, hoje vemos que o paradigma mudou.” Os números contam o resto. “Em 33,4 milhões de deslocados no mundo, há 8.5 milhões que fogem de conflitos armados. Os outros 24,9 milhões são devido a desastres naturais.”
Mas não se pense que há aqui uma mensagem sem esperança – afinal o conhecimento atual dá-nos” ferramentas para enfrentar o problema”. E isto quer dizer modelos físico-matemáticos que nos permitem conhecer o clima até ao final do século.
“Sabemos, por exemplo, como vai ser o clima em Portugal e que há uma redução dos níveis de precipitação, sobretudo a sul, que é onde hoje já temos mais problemas de abastecimento de água.” Tudo acompanhado com aumentos de temperatura entre os 3 e os 6 graus, e meia dúzia de ondas de calor anuais, que, em alguns casos, podem chegar aos 40 dias. “Mas esta informação permite-nos enfrentar o futuro de forma diferente. Cabe-nos a nós, enquanto sociedade, tomar decisões ou forçá-las para melhor lidar com o problema.”
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