Alexandre Amâncio tem um currículo que fala por si. Este bracarense, que foi viver com os pais para o Canadá quando tinha apenas três anos de idade, já ocupou os cargos de diretor de arte e diretor criativo para vários jogos da gigante Ubisoft, incluindo títulos aclamados como Far Cry 2, Assassin’s Creed Revelations e Assassin’s Creed Unity, nos quais chegou a liderar equipas com mais de mil pessoas. Agora, o ex-veterano da Ubisoft vai liderar o Elipsis, um novo estúdio de videojogos sediado em Portugal.
Atualmente, Alexandre Amâncio é vice-presidente de estratégia de propriedades intelectuais na FunPlus, uma empresa suíça especializada em videojogos para dispositivos móveis (sendo responsável por títulos populares como State of Survival, Frost & Flame: King of Avalon e Sea of Conquest: Pirate, entre outros). Mas os planos da FunPlus para Portugal são outros.
“O estúdio vai ter, digamos, duas cabeças. De um lado, vamos fazer o desenvolvimento de propriedades intelectuais e colaborar com outros estúdios da FunPlus, para ajudar a desenvolver essas propriedades. Não só construir os universos, mas desenvolver os universos noutros produtos, como bandas desenhadas, filmes ou séries. Temos pessoas cá que são de categoria mundial nesses domínios. E a outra parte vai ser o desenvolvimento das nossas próprias propriedades na criação de jogos”, explicou Alexandre Amâncio, que irá liderar o estúdio, localizado na Fintech House, em Lisboa, em entrevista à Exame Informática.
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O estúdio Elipsis arranca com nove pessoas já contratadas, entre alguns portugueses que “já trabalharam em alguns dos maiores jogos dos últimos dez anos, como Star Wars e Avatar“, e também especialistas estrangeiros que se mudaram especificamente para Lisboa por causa deste novo projeto. O plano, nos próximos três anos, é aumentar para 50 o número de pessoas a trabalhar no estúdio Elipsis, revela o responsável.
Um plano que é uma ambição
Alexandre Amâncio foi o primeiro a dar o passo, quando há um ano e meio mudou-se para a capital portuguesa. “Gostamos da energia da cidade e do país”, revela. E, diz-nos, viu por cá um espírito muito semelhante ao que se viveu em Montreal, no Canadá, que em poucos anos se tornaria numa referência internacional dos videojogos, atraindo empresas de grande envergadura e sendo o ponto de nascimento de vários jogos de sucesso global.
“Gostaria de fazer a mesma coisa [em Lisboa]. Trazer pessoas com muita experiência e depois desenvolver o talento local aqui”, conta o executivo da FunPlus. Mas com uma ressalva – acredita que é possível fazer jogos com projeção global, mas sem que os jogos ou o próprio ecossistema cresçam ao ponto de perder identidade ou ficar refém dessa grande escala. “Queremos fazer jogos numa escala mais pequena – a pessoa pode entrar, divertir-se uma ou duas horas e ter satisfação sem ter que jogar centenas de horas. Estamos a ver uma transformação no domínio dos jogos. A indústria está a adaptar-se a tendências novas”, analisa.
O primeiro projeto ‘made in Portugal’ está em andamento. O Elipsis já criou a chamada “bíblia do universo de jogo”, que na prática cria as fundações da história, das personagens, da mitologia e de outros elementos que estarão na base do jogo. “É uma mitologia profunda que estamos a criar, é única”, adianta Alexandre Amâncio. “Os jogos que vamos fazer são jogos para computador, mas que depois vão para as consolas e se calhar para os dispositivos móveis. (…) Posso dizer que vai ser um produto completamente original, vai ser mais do que um produto, não vai demorar muito tempo até começarmos a falar dele. Para o ano que vem já posso dar mais notícias”.
Mas o estúdio não quer estar só focado nos videojogos, quer ter uma presença transversal em diferentes meios de entretenimento. Daí a necessidade de criar um ponto de partida, a tal bíblia, da forma mais completa possível, para que depois seja mais fácil criar novas histórias, explorando diferentes meios de divulgação. “A história que vamos contar em cada um dos meios é feita para esses meios e vamos buscar pessoas desse meio”, garante. Na realidade, o primeiro projeto da Elipsis foi estruturar uma banda desenhada que a FunPlus criou para o jogo de smartphone Sea of Conquest.
Agora, o objetivo da FunPlus e de Alexandre Amâncio é garantir não só que o projeto tenha sucesso – o executivo não quis revelar o valor de investimento feito na Elipsis –, como Portugal possa ser um País com cada vez mais oportunidades para quem quer fazer carreira na indústria dos videojogos.
“Há montes de talento aqui em Portugal, há pessoas que são apaixonadas por jogos e alguns saem do País porque não encontram oportunidades aqui. E há talento para que mais empresas possam vir para cá”.
O homem mais rico do mundo, mais extravagante e mais opinativo, Elon Musk, dono e senhor de sucessos indiscutíveis para o comum dos cidadãos e para o planeta, bem como para outras galáxias, vai entrar na campanha de Trump no estado mais decisivo de todos: a Pensilvânia.
Todos os dias, durante uma semana, irá encontrar-se com eleitores para apelar ao voto em Trump, defender a total liberdade de expressão e o direito ao porte de armas. Musk já injetou 75 milhões de dólares num dos fundos eleitorais republicanos, e mais do que isso deverá enviar até 5 de Novembro. Nos EUA, muito dinheiro faz ganhar eleições, e isso não falta ao dono da Tesla e de mais 5000 empresas e projetos, presentes e futuros.
Se necessário, Musk enviaria um SpaceX para fazer campanha na Lua, em Marte ou na estação espacial. Votou em Biden, mas mudou de ideias após o atentado que Trump sofreu na Pensilvânia: «O verdadeiro caráter e coragem de um homem vê-se nesses momentos».
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Nada está a correr bem para Kamala. As previsões começam a consolidar a vantagem do ex-presidente nos sete estados que decidem a vitória. A vice-presidente está à frente na média das sondagens nacionais, embora em queda, mas isso não faz um presidente. Em que pensará Biden, por esta altura?
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
O recente ataque de ransomware à Agência para a Modernização Administrativa (AMA) causou disrupções na sua rede, paralisando várias plataformas e serviços digitais geridos pela entidade, cujo acesso esteve, preventivamente, indisponível ao longo dos últimos dias.
No rescaldo do incidente, que continua a ser investigado pelas autoridades competentes, várias dúvidas foram levantadas, das possíveis motivações às consequências do ataque, e nos últimos dias, o surgimento de uma fuga de informação (ou leak) da Autoridade Tributária (AT) trouxe novos receios. Mas há ligação entre estes dois casos?
O Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) avança, numa nota enviada à imprensa, que o leak que tem sido mencionado publicamente “não está relacionado com o incidente que afeta as infraestruturas da AMA”.
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“O leak em causa, constituído por grupos de credenciais expostas, resulta de atividade criminosa com recurso a infostealers e instrumentos semelhantes. A publicação deste tipo de leaks é algo que ocorre com alguma regularidade”, afirma, acrescentando que “a AT, sempre que tem conhecimento de grupos de credenciais expostas, tem como procedimento forçar a renovação de credenciais dos utilizadores visados”.
Como noticiado pelo Expresso esta semana, nove mil credenciais de acesso ao Portal das Finanças foram divulgadas, com a informação a fazer parte de uma lista que foi originalmente divulgada em agosto, mas que, entretanto, passou despercebida até agora. Ao semanário, o Ministério das Finanças avançou que os dados não resultaram de um ataque informático à AT.
À Exame Informática, David Russo, diretor executivo da Academia Nacional de Cibersegurança e CTO da CyberS3c.pt, explica que é preciso perceber que “neste caso, houve aqui uma grande coincidência, porque tivemos a AMA que teve o problema que teve, que ainda está a ser investigado, portanto não podem existir especulações”.
Por contraste, o leak em questão “foi a consequência da compilação de dados recolhidos através de um infostealer”, um tipo de malware “desenhado especificamente para recolher informações sensíveis dos dispositivos que estão comprometidos”. Este tipo de software malicioso é usado para “filtrar credenciais – dados pessoais, informações financeiras – ou seja, qualquer dado que possa ser vendido” por cibercriminosos.
Tal como detalha o responsável, “na maioria dos casos, não está sequer relacionado com a própria organização”. “Isto não significa que seja da própria organização, porque a mesma até pode ter regras muito específicas de segurança da informação, mas basta os utilizadores não terem consciência destes problemas e saírem deste ambiente protegido” para serem afetados por este tipo de ameaça.
“O Portal das Finanças não tem autenticação de duplo fator por alguma razão de implementação, mas acredito que estejam já a trabalhar nisso, bem como eles [AT] ativamente, mal souberam do leak procederam a forçar a alteração da password e como existem sistemas que estão a monitorizar acessos indevidos”, indica. “A AT, como tantas outras entidades, estão sempre a monitorizar e a perceber quando existe algum tipo de situação anómala. Mas, enquanto utilizadores, também temos uma quota-parte de responsabilidade”.
Como realça o responsável, “nós enquanto utilizadores também temos esta responsabilidade do nosso lado, que é a usarmos passwords diferentes para cada serviço, não reutilizá-las e usar um gestor de passwords e, acima de tudo, tentar manter o nosso computador, ou os locais onde metemos as nossas passwords, o mais ‘limpos’ possível, ou seja, ter uma navegação segura. Isto significa o quê? Não clicar em tudo, não fazer downloads ilegais, manter o software atualizado – ou seja, ter uma boa ciberhigiene”.
Ter este tipo de práticas é essencial para minimizar o impacto das ciberameaças e evitar que sirvamos “como intermediários para um cibercrime” ou que coloquemos outras pessoas à nossa volta em risco, destaca David Russo.
AMA sem “evidência de exfiltração de dados pessoais” até ao momento
No que respeita ao ataque de ransomware que afetou as infraestruturas da AMA, o CNCS indica que “o processo de análise forense e resolução deste incidente decorre a bom ritmo, tendo sido implementadas medidas paliativas e de reforço, que garantem a segurança adequada no restabelecimento dos serviços afetados”.
Em linha com a informação avançada pelo CNCS, o Ministério da Juventude e Modernização informa em comunicado que “até ao momento não existe evidência de exfiltração de dados pessoais”, acrescentando que o restabelecimento dos serviços está a ser progressivamente atualizado através de uma plataforma criada para o efeito. De acordo com o Ministério, espera-se que o portal Gov.pt “esteja totalmente recuperado até às 23h59 de dia 17/10”.
“A equipa envolvida na resolução do incidente continua a trabalhar de forma exaustiva, para garantir a reposição de todos os serviços, com as condições de segurança adequadas”, realça o Ministério da Juventude e Modernização. “A AMA está a seguir, de forma rigorosa, todos os procedimentos necessários para garantir a reposição dos sistemas de forma segura”, indica.
O incidente foi divulgado pela AMA no dia 10 de outubro. Embora, na altura, a entidade não tenha feito referência ao tipo de ataque sofrido, o CNCS deu conta de que foi notificado de um incidente de ransomware que comprometeu as infraestruturas geridas pela entidade e que teve um “impacto substancial” nos seus serviços.
O Ministério da Juventude e Modernização indica que, após a divulgação do incidente, a “AMA ativou, imediatamente, os protocolos de segurança para resposta a este tipo de ataques junto de autoridades nacionais competentes em matéria de cibercrime e cibersegurança, a Polícia Judiciária e o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), respetivamente”.
Nos dias seguintes, e em colaboração com as autoridades competentes, a entidade procedeu ao reestabelecimento “progressivo e seguro” do atendimento nas Lojas do Cidadão, assim como do acesso a algumas das suas plataformas e serviços digitais.
Neste mesmo período, o incidente foi participado pela AMA à Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), cumprindo o prazo legal de notificação até 72 horas após a ocorrência, com o envio de um relatório, o qual relata a existência de uma violação nos seus sistemas e o desconhecimento de acesso ou exfiltração de dados pessoais.
Foram também implementadas “medidas preventivas e corretivas” para garantir a segurança no processo de restabelecimento de serviços afetados, que estão a ser reforçadas tendo em conta os resultados da análise forense que está a decorrer, avança o Ministério da Juventude e Modernização.
Já no dia 14 de outubro, após uma reavaliação do risco por parte do CNCS, “as entidades parceiras da AMA foram informadas de que as medidas implementadas garantem a segurança adequada no restabelecimento dos serviços afetados”.
Recorde-se que, tal como já foi alertado pela AMA num recente comunicado, “ressalva-se que no caso de existirem eventuais contactos, através de qualquer canal, com pedidos de informações pessoais para recuperação de credenciais da Chave Móvel Digital, estes devem ser ignorados”.
O ‘bar’ a que nos referimos no título é, obviamente, figurativo, mas não é todos os dias que os diretores executivos de três das mais influentes empresas do setor tecnológico partilham o mesmo palco, no mesmo dia – considerando, ainda para mais, que são rivais. Jensen Huang, CEO da Nvidia, Pat Gelsinger, CEO da Intel, e Lisa Su, CEO da AMD, partilharam no evento Tech World, organizado pela Lenovo e que está a realizar-se em Seattle, nos EUA, aquelas que são as suas visões de futuro. E estão todos a pensar no mesmo – Inteligência Artificial (IA).
“A Inteligência Artificial será a maior das revoluções industriais que já vimos”, começou por dizer Jensen Huang, da Nvidia, a empresa que tem tido um crescimento explosivo, justamente por causa da grande procura por processadores especializados para treinar sistemas de IA.
“Estamos a reinventar a computação da forma mais grandiosa possível. O que antes era programação, agora é aprendizagem automática. O código da programação era para ser executado em CPU [unidades de processamento central], a aprendizagem automática é para as GPU [unidades de processamento gráfico]”, acrescentou.
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A Nvidia e a Lenovo anunciaram novos sistemas dedicados para a IA, incluindo um para o setor automóvel
Jensen Huang vê a Inteligência Artificial a crescer em duas direções distintas. Do lado do consumo, através dos chamados agentes, assistentes digitais que funcionam como robôs digitais – nós damos as instruções, o sistema vai buscar a informação necessária e depois executa a tarefa. A outra grande revolução acontecerá na área industrial, através da robótica, que na prática é a Inteligência Artificial, mas aplicada ao mundo físico, com o qual passa a poder interagir.
“Vamos ter colegas de trabalho que são agentes de IA. Serão bons em marketing, em design de chips, em programação, em gestão das linhas de produção. Vão trabalhar connosco para sermos mais produtivos. E teremos uma superprodutividade”, defendeu ainda o CEO da Nvidia.
Uma amizade improvável
Se a Nvidia é a estrela do momento, por causa da elevada procura que os seus processadores especializados estão a ter por parte das maiores empresas do mundo para treinar modelos de IA, a Intel está, de certa forma, no extremo oposto. Isto porque apesar de os CPU serem importantes no contexto do processamento de informação e treino de algoritmos de IA, não são tão relevantes quanto as GPU. E, nessa área, a Intel não tem o mesmo poder e presença das rivais Nvidia e AMD. Além disso, os próprios CPU da Intel têm vindo a perder alguma relevância, como mostram os exemplos da Apple ter criado os seus próprios processadores baseados numa arquitetura diferente (ARM) e de os equipamentos Windows estarem a tentar fazer o mesmo caminho, com os portáteis Copilot+. Resultado? As receitas e lucros da Intel têm ficado aquém do esperado e a empresa tem vindo a despedir milhares de funcionários nos últimos meses e anos. E mesmo assim, Pat Gelsinger, CEO da Intel, tem um recado para todos (incluindo a Exame Informática): “Os rumores da nossa morte são severamente exagerados”.
Para o CEO, “a arquitetura x86 está a prosperar”. “Está a passar por um período de customização, de expansão e de capacidade de escala. Mas o nosso ecossistema está robusto e a crescer”, garantiu no palco do Lenovo Tech World, que a Exame Informática está a acompanhar.
Apesar da confiança demonstrada, o evento em Seattle serviu como local de anúncio para uma amizade improvável: as rivais Intel e AMD, duas das maiores empresas de processadores do mundo, criaram um grupo conjunto (e que conta ainda com a participação de empresas como a Google e Microsoft, e gurus da tecnologia como Linus Torvalds, do Linux, e Tim Sweeney, da Epic Games) para assegurar o futuro da arquitetura x86 nesta nova realidade de mundo digital.
Pat Gelsinger, CEO da Intel, anunciou a criação de um grupo de aconselhamento para assegurar o futuro da arquitetura x86
“Pela primeira vez, o Pat e a Lisa [AMD] concordam numa coisa”, disse a brincar o executivo da Intel. Mas há outra área na qual os líderes das duas gigantes tecnológicas concordam – não há como fugir da revolução da Inteligência Artificial.
“Estamos a entrar numa das mais entusiasmantes eras de inovação. E para alguém que trabalha nesta área há 40 anos, isto é muito profundo. É como quando chegou a internet. (…) Todos os dispositivos vão tornar-se num equipamento com IA, todas as pessoas terão IA na ponta dos dedos”, defendeu ainda Pat Gelsinger. E Lisa Su, CEO da AMD, está no mesmo comprimento de onda.
“A IA é a tecnologia mais importante que já vi na minha carreira. Ainda estamos nos primeiros dias, mas o ritmo de inovação está a ser muito rápido. Fizemos mais progresso em dois anos do que fizemos nos últimos dez. Vejo isto como uma oportunidade para resolver os problemas mais desafiantes do mundo”, sublinhou a líder da gigante americana.
Lisa Su está consciente que “toda a gente quer mais poder de computação para IA”, sobretudo no que diz respeito a grandes empresas do segmento com quem estão a trabalhar, como a Microsoft, OpenAI e Meta. E a única forma de dar resposta a esta grande procura é criando sistemas que são cada vez mais poderosos do ponto de vista da computação, mas mais eficientes do ponto de vista dos custos (seja de aquisição, seja de manutenção, seja do ponto de vista energético).
Lisa Su, diretora executiva da AMD, anunciou um novo sistema de treino de sistemas de IA criado em conjunto com a Lenovo
Neste sentido, a AMD anunciou no Lenovo Tech World um novo sistema dedicado especificamente para tarefas de IA generativa, o MI325X, que está a ser desenvolvido em conjunto com a tecnológica chinesa. “É um dos casos em que a coinovação e o codesenvolvimento permitem acelerar a inovação e a adoção da IA”, garantiu Lisa Su.
Além da parceria com outras tecnológicas para responder aos desafios da grande procura da IA, a AMD está também a adotar uma postura agnóstica e, neste momento, os sistemas da AMD já suportam mais de um milhão de modelos e ferramentas de Inteligência Artificial, dos mais populares PyTorch, Triton e Hugging Face, a outros desconhecidos, mas com aplicações em indústrias e problemas específicos. “Estamos comprometidos com o ecossistema de software aberto”, garantiu a diretora executiva da AMD.
Nélson Vassalo pondera emigrar no início de 2025, daqui a menos de três meses. Uma decisão tomada em função de não conseguir comprar uma casa com um preço honesto – 250 mil euros é o seu limite –, depois de o contrato de arrendamento de onde mora não ter sido renovado, sem justificações, através de uma “carta fria, enviada de surpresa”.
A morar há três anos com a namorada num T2 com cerca de 80 metros quadrados na zona da Penha de França, em Lisboa, começou por pagar 850 euros de renda que já subiram aos 930 euros.
Nestes três anos, Nélson já viu centenas de imóveis, desde alguns antigos a precisarem de obras por 250 mil euros, outros decentes prontos a habitar acima de 400 mil euros.
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Aos 38 anos, tem uma empresa de programação, com clientes sobretudo nos EUA, e considera que até tem um rendimento mensal acima da média. Mas defende a importância de a prestação da casa não exceder os 33%, isto é, um terço do rendimento total do agregado familiar, como estipula a taxa de esforço do crédito à habitação.
Foto: José Carlos Carvalho
Nélson Vassalo
Não há casas a preços honestos
Depois de o contrato de arrendamento não ter sido renovado, Nélson Vassalo, 38 anos, e a namorada vão mesmo ter de sair do T2 na Penha de França, em Lisboa, onde pagam 930 euros. Há três anos à procura de casa para comprar, Nélson já viu centenas de imóveis, desde alguns antigos a precisarem de obras por 250 mil euros a outros decentes, prontos a habitar, acima de 400 mil euros. Defensor de a prestação da casa não exceder os 33% do rendimento mensal, para Nelson o grande elefante na sala para decidir comprar casa é o dinheiro necessário para a entrada. “A entrada inicial é cada vez mais uma montanha a ultrapassar. Seria entre 40 mil e 50 mil euros se escolhesse uma casa de 350 mil”, contabiliza.
Por ter mais de 35 anos, Nélson não beneficia de nenhuma das mais recentes medidas de apoio à habitação: isenção de Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) e de Imposto de Selo e ter garantia do Estado para obter um financiamento de 100% no crédito à habitação na compra da primeira casa.
Para ele, o grande elefante na sala para decidir comprar casa – além da prestação mensal que no caso de um empréstimo de 250 mil euros ficaria abaixo dos mil euros da renda atual – é o dinheiro necessário para a entrada inicial.
“A entrada inicial é cada vez mais uma montanha a ultrapassar. Seria entre 40 mil e 50 mil euros se escolhesse uma casa de 350 mil”, contabiliza.
Por ter mais de 35 anos, Nélson não beneficia de nenhuma das mais recentes medidas de apoio à habitação: isenção de Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) e de Imposto do Selo e ter garantia do Estado para obter um financiamento de 100% no crédito à habitação na compra da primeira casa.
Apesar da veia ativista ‒ integra o movimento Porta a Porta e tem participado em todas as manifestações em defesa do direito à habitação ‒, Nélson Vassalo sente o pulsar das pessoas a diminuir.
3,9% Crescimento médio do preço por metro quadrado em Portugal, entre o segundo e o terceiro trimestre deste ano, segundo o INE. é o valor mais elevado, entre trimestres consecutivos, desde que este organismo faz este estudo
“Saí da universidade e apanhei com a crise económica, com a troika em Portugal, entre 2011 e 2014. Ultrapassada, levo com a crise da habitação, sem qualquer IRS Jovem, nem benesses estatais, nem qualquer possibilidade de ajuda familiar”, elenca desiludido.
Este é um caso como muitos outros que vão espelhando a grave crise de habitação que o País vive. Existem casas mas são caras e insuficientes para tanta procura. E o problema parece não ter solução imediata.
As medidas tomadas pelo anterior governo, como o Mais Habitação, ou das já anunciadas pelo executivo de Luís Montenegro, como a isenção de IMT para os jovens até aos 35 anos, entre muitas outras, parecem não ser suficientes para resolver o problema.
O custo das habitações continua a subir e a procura mantém-se elevada. E se tal exclui muita gente do mercado, quem comprou casa há mais de dez anos vê o seu imóvel com valorizações chorudas, nalguns casos atingindo o dobro do valor investido no ato da aquisição. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, o preço das casas em Portugal registou, no segundo trimestre deste ano, um aumento de 3,9% face aos três meses anteriores, o maior crescimento de sempre, de um trimestre para outro, desde que este organismo começou a fazer esta série de estudos.
O preço do metro quadrado médio no País atingiu, no final do trimestre, os 1644 euros, um incremento de 54% no espaço de cinco anos.
No período em análise, a zona da Península de Setúbal foi a que registou a maior valorização média, atingindo os 80%. A Área Metropolitana do Porto, com um incremento de 76%, surge em segundo lugar nas regiões onde as casas mais subiram em termos médios. Também o Alentejo Litoral, fruto do crescente turismo na região e da aposta na segunda habitação, viu os preços escalarem quase 70%.
Do 8 ao 80
Em apenas uma década, Portugal passou do “País das casas vazias” para uma nação que atravessa uma das maiores crises de habitação da sua História. A razão é que nunca se construiu tão pouco, uma tendência que começou logo após a crise financeira de 2008 e que teimou em manter-se nos anos seguintes (ver infografia O setor imobiliário à lupa no século XXI).
Segundo uma análise da JLL, empresa especializada em serviços imobiliários, em 2023 foram construídas 23 652 casas, um número mais de cinco vezes inferior ao que acontecia no início dos anos 2000, quando a construção de novos fogos ultrapassou os 120 mil anualmente. Se analisarmos as séries mais longas conseguimos perceber que na primeira década deste século construíram-se em média 80 mil casas por ano. Já entre 2011 e 2021, a média anual de edificação de novos fogos ficou-se pelos 13 540. E as vendas não caíram tanto como o número de casas que iam sendo construídas. Como resultado, o stock de imóveis existentes foi-se esgotando e atualmente o País tem uma procura muito superior à oferta, o que levou a uma forte pressão nos preços ao longo dos últimos anos.
“Portugal tem um grande problema no acesso à habitação. Temos uma oferta desajustada do poder de compra dos portugueses, principalmente para aqueles que estão a comprar casa pela primeira vez”, diz Ricardo Sousa, diretor-geral da Century 21 em Portugal e Espanha.
Não podendo pagar os preços pedidos nas áreas urbanas, muitos jovens procuram agora casas mais pequenas ou com uma localização cada vez mais periférica, de forma a poderem suportar a prestação do imóvel. Zonas como a Península de Setúbal, sobretudo aquelas que são servidas por ferrovia, são das mais procuradas e as que começam a ter os preços a disparar. Segundo o INE, o preço médio por metro quadrado nesta região foi dos que mais subiram no espaço dos últimos cinco anos.
Foto: Marcos Borga
Inês Azevedo
Investimento para a vida
À procura de casa nova, há sete anos Inês Azevedo, 40 anos, fez um investimento para a vida. Apesar de o orçamento familiar ser suficiente para comprar um T3 entre 250 mil e 270 mil euros, valores de 2016-2017, Inês e o marido tiveram receio de arriscar ir até ao limite e preferiram manter a prestação ao banco, que não chegava aos 350 euros mensais.
Compraram um T3 por 135 mil euros nas Colinas do Oriente, no Montijo, às portas da cidade, que hoje Inês Azevedo garante valer mais do dobro, mais de 270 mil euros. A trabalhar como agente imobiliária desde 2021, há pouco tempo vendeu, na mesma zona, uma casa com características inferiores à sua por 225 mil euros e ainda um apartamento com dez anos por 305 mil euros.
Atualmente, tem o apartamento arrendado, e já ponderou vendê-lo aos atuais inquilinos, mas por enquanto ainda se vai manter como proprietária durante mais alguns anos.
“Estamos a assistir a um afastamento das principais cidades e, muitas das vezes, a procura de casas já vai além dos concelhos limítrofes, onde existem novos fluxos de procura, porque é lá que as pessoas encontram casas mais baratas. São esses os imóveis que têm tido maior procura. E, nesses locais, os preços têm subido muito”, esclarece Paulo Caiado, diretor da APEMIP, a associação que representa os mediadores imobiliários em Portugal.
Foi o que aconteceu com Miguel Monteiro e o namorado, que moraram, desde outubro de 2022, num T2 no Lumiar, em Lisboa, sem contrato de arrendamento, sem recibos e com uma renda de mil euros, com a garantia de que subiria para 1200 euros em janeiro de 2024. Por tudo isso, começaram antes à procura de casa para comprar.
Sair de Lisboa era uma possibilidade, pois Miguel, 26 anos, tem raízes no Samouco, em Alcochete, e o companheiro em Cascais. Um T3 seminovo (com um ano) com 120 metros quadrados, por 320 mil euros no Pocinho das Nascentes, no Montijo, foi no ano passado a melhor solução encontrada.“Por este preço, na Avenida de Roma, em Lisboa, só vi casas em prédios velhos e nem com um terço da área. Pelo mesmo valor ainda tive em conta uma vivenda na Atalaia, também no Montijo, mas foi vendida num abrir e fechar de olhos, que nem consegui marcar a visita”, conta à VISÃO.
Durante o processo, Miguel Monteiro sentiu uma grande volatilidade no mercado e muita pressão por parte dos vendedores. Quem quer comprar tem de agir de imediato.
Ambos engenheiros com bons salários, ficaram a pagar os mesmos mil euros de prestação, com uma boa taxa de esforço de 25%, e como ambos tinham dinheiro investido na instituição bancária conseguiram fazer o credito à habitação pelo prazo máximo de 40 anos para pagamento da hipoteca (têm menos de 30 anos).
Esta deslocalização da procura e a opção por tipologias mais pequenas tem tido um efeito de quebra nos preços de transação, o que poderá denotar que o imobiliário está em queda. Mas tal não é verdade. “Em termos de valor médio de transação de imóveis, tivemos uma descida de 4% no primeiro trimestre deste ano e de 2% no segundo. Mas isto não significa que os preços dos imóveis baixaram. O que está a acontecer é que nós estamos a ir ao mercado encontrar casas de um valor mais baixo para que as pessoas as possam comprar. A procura está agora mais centrada nas periferias das cidades e este movimento está a provocar uma descida do valor médio das transações, mas, em contrapartida, está a provocar maior pressão de preços nessas zonas, que até agora tinham preços mais em conta”, explica Ricardo Sousa.Os dados do INE mostram bem esta tendência. Quando olhamos para o distrito de Lisboa podemos reparar que um concelho como Vila Franca de Xira, que é servido por ferrovia, apesar de ter o preço médio por metro quadrado a menos de metade do de Lisboa, viu o seu valor crescer mais de 60% em cinco anos.
No meio de toda esta equação, a tendência inflacionista provocada pela pandemia, agravada pelo início da guerra na Europa, fez os preços dos materiais de construção dispararem. E, para agravar a conjuntura, existe uma grande falta de mão de obra disponível – a AECOPS estima que faltem em Portugal 80 mil trabalhadores na construção civil –, o que encarece ainda mais o custo da construção. Os trabalhadores que existem fazem o seu preço, mais alto, devido ao desencontro entre oferta e procura.
É uma espécie de tempestade perfeita e todos os analistas são unânimes: tão depressa os preços não irão baixar, pois dois dos principais fatores que influenciam a formação do preço irão manter-se elevados. “Edificar uma casa será cada vez mais caro no futuro. Os materiais de construção tenderão a subir de preço, não há abundância de terrenos urbanos, o que aumenta o seu valor, e a escassez de mão de obra irá torná-la cada vez mais cara”, diz Paulo Caiado.
Além disso, o mundo assistiu ainda a um menor investimento por parte dos privados no imobiliário.
“Este é um mercado muito sensível a mudanças. E a subida das taxas de juro e a instabilidade geopolítica afastou muitos investidores deste setor. Quando o retorno do investimento do imobiliário fica perto do da dívida, os investidores preferem entrar no segundo, porque, embora seja menos rentável é mais seguro”, garante Maria Empis, diretora do departamento residencial da JLL.
E dá um exemplo: “Em 2023, com todo o turbilhão económico e político que se vivia em todo o mundo, o investimento no imobiliário comercial diminuiu 50% em todo o planeta. Criou-se a bolha perfeita para não se investir em imobiliário. E, sem novas casas, os preços sobem.”
No meio da tempestade, quem comprou casa há mais de dez anos vê agora o seu imóvel muito valorizado. Que o diga Inês Azevedo, de 40 anos. À procura de casa nova, com as mesmas características daquela onde morava na urbanização Malvarosa, em Alverca do Ribatejo, a 15 quilómetros de Lisboa, há sete anos fez um investimento para a vida.
Apesar de o orçamento familiar ser suficiente para comprar um T3 entre 250 mil e 270 mil euros, valores de 2016-2017, Inês e o marido tiveram receio de arriscar ir até ao limite, até porque têm dois filhos pequenos, e preferiram manter a mesma prestação ao banco que não chegava aos 350 euros mensais.
A busca levou-os a Santo Estêvão, Benavente, antes de irem ao Montijo, acharem a zona tranquila e com acessos fáceis à capital, onde trabalham. Entre visitas a casas novas e outras seminovas entre os 150 mil e 170 mil euros, compraram um T3 por 135 mil euros nas Colinas do Oriente, às portas da cidade. “Não era a urbanização de sonho – agora até está em franco crescimento –, mas tinha tudo o que queríamos: garagem, ar condicionado, arrecadação, lareira, soalho flutuante e uma cozinha moderna branca”, descreve Inês.
Depois de uma permanência de dois anos e meio, o casal sabia que tinha sido um bom investimento e hoje Inês Azevedo garante que o imóvel vale mais do dobro, mais de 270 mil euros. A trabalhar como agente imobiliária desde 2021, há pouco tempo vendeu, na mesma zona, uma casa com características inferiores, por 225 mil euros e ainda um apartamento com dez anos por 305 mil euros.
Atualmente, tem o apartamento arrendado, e já ponderou vendê-lo aos atuais inquilinos, mas por enquanto ainda se vai manter como proprietária por mais alguns anos.
Começar por comprar um apartamento em mau estado, a precisar de uma remodelação total, foi para Patrícia Sá Pinto, arquiteta e consultora imobiliária, a forma de chegar quase dez anos depois à casa ideal.
Habituada a lidar com compra, remodelação e revenda de imóveis, em 2016, quando um cliente não quis um T1 em Oeiras, junto ao Palmeiras Shopping, Patrícia avançou com uma proposta em nome próprio. Adquiriu o T1, no último andar de um prédio antigo (de 1974), com terraço e vista para o mar, por 70 mil euros. A seguir gastou cerca de 16 mil euros a pôr a casa funcional, moderna e bonita e ali morou até 2023.
Com o mercado imobiliário em alta e a querer dar o salto para uma casa mais recente, com garagem e arrecadação que antes não tinha, Patrícia Sá Pinto vendeu os seus 40 metros quadrados por 260 mil euros e investiu tudo num imóvel mais caro (330 mil euros), mais recente (de 2008) e maior (com 70 metros quadrados), mantendo-se fiel a Oeiras, a sua localização preferida.
Os preços foram disparando e quem tinha casas em zonas com procura conseguiu fazer excelentes negócios, como mostram estes dois exemplos. No entanto, Ricardo Sousa adverte que os atuais proprietários de uma casa usada terão de ser cada vez mais realistas na sua definição de preço. “Antes, tudo o que vinha ao mercado tinha uma taxa de absorção muito rápida e neste momento o rendimento das pessoas não estica e vai obrigar os vendedores a fazer cedências.”
Um ligeiro alívio
A procura irá manter-se em alta, pois, segundo o gestor da Century 21, as pessoas “estão no mercado” por necessidades provocadas pelas mudanças de estrutura familiar. “A pandemia obrigou a adiar muitas decisões, desde casamentos, divórcios, emancipação dos mais jovens, etc., que agora estão a ser tomadas, criando uma dinâmica muito ativa na procura de casa”, afirma.
40 Mil Número de empresas de construção e de imobiliário que faliram entre 2011 e 2014, durante a vigência da Troika, período em que o País tinha excesso de casas e ninguém para as comprar
Na sua opinião, as atuais taxas de desemprego também ajudam a este dinamismo. “Se analisarmos as séries longas dos indicadores económicos, percebemos que sempre que o desemprego está a níveis baixos, a procura de casa aumenta consideravelmente”, justifica Ricardo Sousa.
Mas não só. A descida das taxas de juro também irá provocar um maior aquecimento do mercado imobiliário. Se compararmos ao ano passado, a Euribor, taxa que serve de indexante para os contratos de compra de habitação, estava acima dos 4%. Além disso, o Banco de Portugal, como medida prudencial, obrigava os bancos que cediam crédito hipotecário a fazer simulações de taxas de esforço dos compradores com uma taxa “stressada” de mais 3%, ou seja, o juro final que servia para analisar se um casal tinha ou não capacidade de comprar uma casa ficava acima dos 7%. Agora, não só a Euribor desceu como o banco central alterou esta medida para 1,5%. “A diferença é que uma família que apenas pudesse comprar uma casa de 150 mil euros, agora pode ir aos 180 mil euros, ficando com a mesma prestação”, afirma Ricardo Sousa.
Intervenção do Estado?
Desde que tomou posse, o Governo de Luís Montenegro já anunciou uma série de medidas de apoio para dinamizar o mercado da habitação e muitas outras estão agora previstas no Orçamento do Estado, que está a ser debatido na Assembleia da República.
Para os especialistas, estas medidas são importantes mas ficam muito aquém do que o mercado necessita para se resolver realmente a crise da habitação em Portugal.
“As medidas que estão a ser tomadas podem convergir para que possamos ter mais casas, mas considero que é indispensável que se assuma, de uma forma pragmática, que só haverá casas significativamente mais baratas com a intervenção do Estado”, diz Paulo Caiado.
Foto: José Carlos Carvalho
Patrícia Sá Pinto
Ter olho para o negócio
Começar por comprar um apartamento em mau estado, a precisar de uma remodelação total, foi para Patrícia Sá Pinto, arquiteta e consultora imobiliária, a forma de chegar, quase uma década depois, à casa ideal.
Habituada a lidar com compra, remodelação e revenda de imóveis, em 2016, quando um cliente não quis um T1 em Oeiras, junto ao Palmeiras Shopping, Patrícia avançou com uma proposta em nome próprio. Adquiriu o T1, no último andar de um prédio antigo (de 1974), com terraço e vista para o mar, por 70 mil euros. A seguir gastou cerca de 16 mil euros a pôr a casa funcional, moderna e bonita e ali morou até 2023.
Com o mercado imobiliário em alta e a querer dar o salto para uma casa mais recente, com garagem e arrecadação, que antes não tinha, Patrícia Sá Pinto vendeu os seus 40 m² por 260 mil euros e investiu tudo num imóvel mais caro (330 mil euros), mais recente (de 2008) e maior (com 70 m²), mantendo-se fiel a Oeiras, a sua localização preferida.
Perante esta afirmação, resta perguntar: E como seria feita essa intervenção?
“O Estado tem do seu lado três fatores com um enorme impacto no preço de uma casa, talvez de metade do seu valor. Os terrenos, a estrutura fiscal que incide sobre a construção e a possibilidade de licenciar num prazo mínimo um determinado projeto. E como moeda de troca, pode exigir um preço controlado dos imóveis. De outra forma, dificilmente haverá casas acessíveis”, explica o dirigente da APEMIP.
Maria Empis defende uma maior agilidade nas leis que regem o setor, pois as que existem “criam imensas dificuldades” para se conseguirem licenciamentos. “Temos um RGEU [Regulamento Geral as Edificações Urbanas] muito exigente e que não é alterado há muitos anos. É quase impossível em Portugal, com os novos métodos e tecnologias que hoje existem”, avança. E dá um exemplo: “Há pelo menos oito anos que tenho tido contacto com operadores imobiliários especializados em edifícios para arrendamento, os chamados build to rent. Fiz muitos planos de negócios, mas as leis em vigor, a dificuldade de licenciamento, os elevados impostos e toda a restante equação tem afastado os investidores. Há regras exigidas que hoje em dia não fazem sentido e acabam por encarecer o imóvel, ao ponto de não ser rentável para quem aplica o seu dinheiro.”
Apesar da vontade política e do dinheiro do PRR destinado para a habitação ‒ o plano do Governo prevê a edificação de 59 mil fogos para o parque público, mais 33 mil do que os 26 mil inicialmente previstos, até 2030 ‒, os especialistas mostram-se um pouco céticos em relação à capacidade de construção instalada que existe no País. “As empresas de construção estão em plena laboração. Como é que se aumenta a oferta sem aumentar o número ou a capacidade das empresas?”, questiona Paulo Caiado.
Para o líder associativo, uma das soluções poderá passar pela industrialização da construção, ou seja, a utilização de novos métodos de construção, com o recurso a estruturas em ferro e madeira, entre outros materiais, modernos, que permitem que as casas já venham parcialmente feitas da fábrica. “Desta forma, conseguiríamos que as casas pudessem ser construídas de uma maneira mais rápida e sem necessitar de tanta mão de obra. Esse será um caminho importante e talvez o mais rápido para resolver o atual problema, atendendo à conjuntura atual”, diz Paulo Caiado.
Ricardo Sousa afina pelo mesmo diapasão e defende que os códigos de construção deveriam ser revistos, de forma a incorporar as novas tecnologias que hoje já são usadas em outros países. “As leis atuais não permitem que se construa de uma forma célere, o que dificulta uma rápida resolução do problema da habitação”, diz.
E vai mais longe. “Temos uma problema de base de otimização do solo. O Governo tem no seu programa medidas que podem ser estruturantes e que terão um impacto relevante. E essas é que deveriam ser prioritárias, mas, pelo que temos visto, têm sido essas a não avançar, nomeadamente a revisão dos planos urbanísticos nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, de forma a aumentar a densidade de construção em algumas zonas e a permitir a melhor utilização do bem escasso que é o terreno, de modo a repensar como poderemos construir mais habitações no mesmo espaço de terra”, conclui Ricardo Sousa.
Os desafios são muitos e uma boa parte do problema pode ser resolvido politicamente. Contudo, qualquer medida que venha a ser tomada demorará ainda alguns anos até que os resultados possam ser visíveis. E enquanto isso, o País das casas vazias permanecerá mergulhado numa crise habitacional como há muito não se vivia.
A atribuição do Nobel da Economia aos académicos Daron Acemoglu, James A. Robinson e Simon Johnson, em reconhecimento do seu trabalho sobre a importância das instituições na prosperidade dos países, acontece no momento mais oportuno. Precisamente, quando as instituições, intimamente ligadas à democracia, estão mais frágeis e sob maior ataque.
Conforme escreveram os dois primeiros, num livro que se tornou um best-seller mundial, sabiamente intitulado Porque Falham as Nações, a realidade económica e social de cada país não é determinada pela geografia, a demografia ou a cultura, mas antes pela capacidade que as suas sociedades tiveram para construir instituições que conseguem, em simultâneo, proteger os direitos individuais e garantir a concorrência económica. Com esses alicerces torna-se mais fácil promover a inovação e, com ela, a prosperidade. E como bem salientou o Comité Nobel no anúncio do prémio, os três economistas demonstraram, com os seus estudos, que “as democracias são, em média e a longo prazo, as melhores para promover o crescimento económico e social”.
Ao receber a notícia, Daron Acemoglu manifestou o seu natural contentamento, mas também não escondeu a sua preocupação com a realidade atual. Especialmente, por sentir que as instituições democráticas estão hoje cada vez mais fragilizadas num número crescente de países. E é impossível não concordar com os seus receios, quando se percebe que muita dessa fragilidade é consequência do ataque constante de que são alvo, tanto pelas forças populistas, apenas interessadas em espalhar o caos, como pelo domínio avassalador das grandes empresas tecnológicas, que criam monopólios imunes a qualquer regulação, minando a confiança nas instituições e fomentando a desigualdade.
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Face a esta realidade, é cada vez mais urgente defender e, acima de tudo, fortalecer a democracia. E é ainda mais importante que quem está no centro do sistema político, e tem, por isso, o dever de proteger as instituições democráticas, não se abstenha dessa função. A confiança nas instituições democráticas é essencial para a sociedade e até para o progresso económico, como salientou o Comité Nobel. Essa confiança não pode estar a ser continuamente fragilizada, através de jogos políticos inconsequentes, por mais que ajude a alimentar atenções mediáticas, sem outra consequência que não seja a de fazer aumentar a polarização e a intolerância.
A interminável novela a que o País assiste, há semanas, em redor do Orçamento do Estado (OE) não terá um destino diferente de todas as outras que, por vontade ou inoperância dos seus autores, se prolongam para lá do número de episódios que os espectadores consideram aceitáveis: irá acabar, naturalmente, com um enorme cansaço da audiência, obrigando, porventura, a mudanças drásticas de guião e, até quem sabe, ao desaparecimento súbito de alguma personagem – devido a outros compromissos ou a uma inesperada força maior. Com uma certeza: ninguém irá ficar com saudades dos últimos episódios.
O pior de tudo é que corremos o risco de a novela do OE se prolongar ainda por mais algumas longas semanas, como se isso fosse uma exigência dos espectadores, sempre à espera de mais um novo e emocionante capítulo. A verdade é que, a cada episódio, a única coisa que se tem conseguido fazer é aumentar a desconfiança no sistema político. E, com isso, minar a confiança na própria democracia – com as consequências que os três laureados com o Nobel da Economia bem identificaram.
A instabilidade política não existe apenas quando um país tem de estar permanentemente em eleições, porque nenhum partido consegue uma maioria estável para governar – como, aliás, se vê por essa Europa fora. Instabilidade política é também o que vivemos, em Portugal, há vários meses: não saber, exatamente, quanto mais tempo pode estar o Governo em funções e se, a qualquer momento, não teremos de voltar às urnas… sem a certeza de que isso possa, na verdade, criar alguma estabilidade.
O problema mais grave que temos de enfrentar hoje não é, no entanto, o da instabilidade política. É, isso sim, o da crescente desconfiança dos cidadãos em relação às instituições e ao funcionamento da democracia. Quando as democracias falham, falham também as nações.
Estamos habituados a ver na história um suceder de avanços. Esperamos que as novas gerações sejam inovadoras, revolucionárias. Esperamos um confronto geracional com os mais velhos, entre um mundo novo e um mundo velho, entre o conhecido e o desconhecido, entre o igual e o diferente.
E agora? Estaremos, pela primeira vez na história, a ter uma geração nova mais “velha” que as anteriores.
Preâmbulo importante:
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A mesma geração que, há 5 anos, protestava pelo clima, pela urgência de uma transformação do estilo de vida e da economia, hoje apregoa a “liberdade financeira”, o caminho para o enriquecimento pessoal, numa economia que, por essa via, está a levar à ameaça de destruição do planeta.
A mesma geração que há 5 anos afirmava, pela primeira vez, a mais plena liberdade de identificação de género e sexual desde o Império Romano, agora vota massivamente em partidos conservadores.
A mesma geração que cresceu sempre com colegas e amigos de tantas nacionalidades na escola moderna, repete narrativas falsas, de que a imigração está por detrás da crise no mercado da habitação (que já estava em agravamento há vários anos) e da sobrelotação dos serviços públicos de saúde e educação. Ou, mais absurdo ainda, que os imigrantes ora vêm para roubar trabalhos, ora são preguiçosos e não querem trabalhar…
O que aconteceu à minha geração?
Há uma crise de empatia brutal, na atualidade. Dois fatores talvez consigam explicar o que aconteceu, sobretudo aos mais novos.
A pandemia fechou o mundo em casa. Impossibilitou o convívio, a troca de ideias, o cruzamento de mundos e de experiências ou a própria novidade das experiências. Quanto do que somos, de como somos não foi criado nessa idade original da autonomia e da independência na nossa vida, que é a adolescência?
O facto de termos fechado os mais jovens em casa privou-os de conhecer o mundo através dos amigos. Não conheceram a pobreza através do colega que não tinha dinheiro para almoçar. Não conheceram o preconceito que se exerce na sala de aula aos alunos de determinadas zonas, determinadas culturas ou determinadas classes sociais. Não conheceram a pluralidade sexual através do amigo que estava a questionar a sua sexualidade ou o tratamento sexista e objetificante que se faz às raparigas.
Esta privação criou uma geração onde muitas pessoas têm pouco mundo, poucas referências, pouco conhecimento dos problemas dos outros. Uma geração de pessoas centradas na sua própria realidade apenas porque não conheceram muitas outras.
Pior, uma geração onde muitas pessoas vivem, como na alegoria da caverna de Platão, a ver o mundo pelas sombras projetadas na parede. Ou, neste caso, no telemóvel. Foi durante a pandemia que o Tiktok se instalou como a rede social de eleição.
Os algoritmos das redes sociais controlam o que vemos. Dividem-nos por tipos de pessoas, categorizam os nossos interesses e selecionam, por nós, os nossos conteúdos. Será só isso? Desde o escândalo da Cambridge Analytica, o Brexit e a eleição de Trump, que sabemos o perigosíssimo potencial dos algoritmos para nos manipular, para nos passar “informação” enviesada com um determinado objetivo político ou comercial. Isto, associado ao facto de o Tiktok ser uma rede social chinesa, pouco transparente, talvez explique porque é que os EUA e a própria União Europeia travam um combate para lhe impor restrições.
Quanto da narrativa da liberdade financeira não serve o status quo do poder e de quem mais tem? Quanto do preconceito e do fecho à imigração não resulta na paralisação da economia e do estado social numa Europa envelhecida? E quanto do apelo à extrema-direita não tem, exatamente, como objetivo criar tanto conflito na sociedade ocidental ao ponto de destruí-la por dentro?
Sejam quais forem os objetivos dos algoritmos e consigam, ou não, ser mais ou menos eficazes na manipulação, a transformação da Geração Z em apenas 5 anos é assustadora.
É preciso recriar empatia. É a palavra que vai salvar o mundo, o sentimento que nos faz compreender o outro e os problemas que nos rodeiam. É preciso que as gerações rejeitem o mundo velho e continuem a sonhar com o que pode ser diferente para melhor.
Felizmente, há quem resista, sobretudo na Geração Z.
Ouvido na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, anunciou esta quarta-feira que nas próximas semanas vão estar a funcionar 15 centros de atendimento da Estrutura de Missão da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA). Segundo o ministro, além do maior, que está a funcionar desde setembro em Lisboa, vão abrir centros de atendimento a imigrantes em Braga e no Porto.
O governante frisou que estes centros permitem “triplicar a capacidade de atendimento do Estado”.
Destacando o “impacto relevante” desta estrutura de missão criada recuperar os mais de 400 mil processos de imigrantes pendentes, Leitão Amaro disse que não se trata de uma “opção de legalização”, uma vez que só obtém autorização de residência “quem cumpre a lei”.
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“É uma operação de regularização de papéis e de o Estado cumprir as regras que fixou”, disse, frisando que se trata de “dar dignidade e humanismo, mas também trazer ordem porque este mecanismo ou operação de regularização permite saber quem são, onde estão e o que fazem cada uma daquelas pessoas que estão em Portugal”.