Todos os meses, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) publica o seu boletim climatológico, com a análise daquilo que sucedeu, digno de nota, a nível meteorológico, nos 30 dias anteriores: principais ocorrências, valores máximos e mínimos de precipitação e temperatura, fenómenos extremos e variações em relação à média.
Depois de se ouvir o ministro das Finanças afirmar, no Parlamento, que o “investimento no primeiro trimestre deste ano” foi “adversamente afectado pelas condições meteorológicas dos primeiros três meses do ano que prejudicaram a actividade da construção”, vale a pena voltar a ler os boletins do IPMA, referentes aos primeiros três meses de 2013. E tentar encontrar, então, as condições adversas de que fala Vítor Gaspar.
O que dizem os especialistas da meteorologia sobre Janeiro? “O mês classificou-se como normal a chuvoso em quase todo o território, exceto no Sotavento Algarvio onde foi seco.” A única nota relevante a que Vítor Gaspar se poderia referir foi o “vento muito forte ou excepcionalmente forte” registado nos dias 18 e 19 – mas que ocorreram a uma sexta-feira e a um sábado, que dificilmente podem ser caracterizados como dias relevantes para o investimento económico ou até para a actividade da construção.
Fevereiro foi, segundo o IPMA, “caracterizado por valores médios da quantidade de precipitação e da temperatura média do ar inferiores ao valor normal 1971-2000.” E, logo a seguir, ao analisarem a quantidade de chuva caída em Portugal nesse período, os técnicos que elaboraram o relatório não podiam ser mais eloquentes: “O mês classificou-se como muito seco a seco em todo o território.” A única ocorrência digna de nota, foi uma onda de frio entre os dias 24 e 28 de fevereiro – e, mesmo assim, a temperatura mais baixa registada foram -6 graus, no dia 26, em Carrazeda de Ansiães (em contrapartida, dez dias antes, em Évora, o termómetro chegara aos 21,5 graus).
Finalmente , o mês de março é o único em que Vitor Gaspar pode encontrar justificação para a sua tese. Segundo o IPMA, “março de 2013 foi o segundo mais chuvoso em Portugal continental nos últimos 50 anos e o sétimo desde 1931.”. Durante esse período foram mesmo “excedidos os valores máximos da quantidade de precipitação nos últimos 50 a 73 anos em alguns locais das regiões da Beira Interior, Estremadura, Ribatejo e Alentejo.”
Resumindo: ao contrário do que disse Vitor Gaspar, não se registaram três meses com condições meteorológicas adversas, mas apenas um, o de março. Os outros dois, estiveram perfeitamente dentro do que é normal chamar-se… inverno.
Está, assim, encontrada a explicação para muito daquilo que temos vivido em Portugal nos últimos dois anos. A culpa não é da chuva, mas sim de Vítor Gaspar fazer previsões económicas com o mesmo método com que lê o boletim meteorológico: confunde três meses com um, tira conclusões apressadas e… engana-se no fim.