Boaventura de Sousa Santos, fundador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), demitiu-se esta terça-feira acusando a direção de o querer “expulsar” e de “promover o [seu] linchamento”. O académico diz ainda que a direção o quer condenar “antes que os tribunais se pronunciem” sobre os alegados casos de assédio sexual em que está envolvido. A notícia foi avançada hoje pelo Diário de Notícias, que cita um email enviado pelo sociólogo aos membros do CES.
“Já não confio que possa haver no CES qualquer tipo de julgamento imparcial e não tenho quaisquer dúvidas de que o objectivo da direção do CES é (e sempre foi) expulsar-me. Não tenho dúvidas de que a direção do CES age de modo parcial, com total violação das regras do direito democrático (presunção de inocência), politicamente motivada, devido às disputas internas na instituição, e quer condenar-me publicamente, antes que os Tribunais se pronunciem sobre os casos que estão a ser tramitados”, lê-se.
O sociólogo refere ter ficado a conhecer do desfecho do processo de averiguações interno da instituição contra si e afirma que vai divulgar publicamente “todos os documentos que sustentam a minha versão dos factos” e que “um dia a verdade fale mais alto”.
Os alegados casos de assédio sexual foram tornados públicos no ano passado após três investigadoras do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra o acusarem de abuso no livro “Má conduta sexual na Academia – Para uma Ética de Cuidado na Universidade“. A publicação levou à suspensão de Boaventura de Sousa Santos e Bruno Sena Martins dos cargos que ocupavam no CES, em abril de 2023.
Meses depois, a direção do Centro anunciou a criação de uma comissão independente para investigar as denúncias, tendo divulgado um relatório, a 13 de março deste ano, em que confirmou a existência de padrões de conduta de abuso de poder e situações de assédio. Foram realizadas 78 denúncias totais – por 32 denunciantes – e denunciadas 14 pessoas.
Boaventura de Sousa Santos anunciou ainda um novo processo nos tribunais contra o “coletivo de vítimas”.