Numa semana dominada pelo 24.º Congresso do PS e pelo lançamento oficial da AD, a coligação PSD/CDS/PPM, os comentadores do Olho Vivo debruçaram-se sobre o estilo de Pedro Nuno Santos, as suas circunstâncias, as suas possibilidades e, sobretudo, as medidas que já foi anunciando, para incluir no programa eleitoral dos socialistas, e que foram conhecidas através do seu discurso de encerramento do Congresso. Afinal, PNS é mais moderado do que se pensava? Ou há ali uma marca ideológica de esquerda? E a posição face a Marcelo Rebelo de Sousa? Por outro lado, como responde o AD? A Aliança Democrática, diz o editor executivo da VISÃO, Filipe Luís, é o regresso a um local “onde o PSD já foi feliz”, mas, para o jornalista, “a única semelhança entre esta AD e a AD de 1979, de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Telles, é… a sigla”.
Começando pelo congresso do PS, o jornalista da secção de Política da VISÃO, Nuno Miguel Ropio, nota que “Pedro Nuno Santos, considerado o rebelde, o radical e o esquerdista do PS, conseguiu ter o papel de mais moderado no congresso, em relação a todos os outros, inclusive a Carlos César, o presidente do PS, que é visto como a consciência do partido, e que foi o primeiro dirigente a apontar baterias a Marcelo Rebelo de Sousa”. Filipe Luís concorda: “Para Marcelo, o PS desempenha o papel do ‘polícia mau’ e PNS o do ‘polícia bom’… Pedro Nuno segue a estratégia de António Costa, em 2015, quando entrou num tom apaziguador com o então Presidente Cavaco Silva, tendo tudo terminado com um convite ao PR para, na despedida de funções, presidir a um conselho de ministros…”
Nuno Aguiar destaca que o congresso correu bem a Pedro Nuno Santos. “Seja ou não fachada, o partido apareceu unido, num contraste impressionante com o que costuma acontecer no PSD”. E acrescenta: “À direita, começa a perceber-se o potencial eleitoral da mensagem de Pedro Nuno Santos, capaz de mobilizar pessoas para irem votar.” O jornalista da EXAME de da secção de Economia da VISÃO analisa, também, as medidas propostas por Pedro Nuno Santos: “Não me pareceu que qualquer medida referida tenha um potencial enorme de popularidade, mas o que elas têm é bastante sumo; em especial, a descrição que faz de uma política industrial para o país”. E detalha Nuno Aguiar: “A ideia de não distribuir dinheiro por todos e concentrar nalguns setores é apoiado por evidência académica. Mas será necessário explicar quem vai decidir e se há solidez institucional para fazer algo deste género numa Administração Pública que foi perdendo a sua capacidade de planeamento estratégico.”
Já Nuno Miguel Ropio aponta que “as medidas de carácter económico, entre elas os apoios à produção nacional e à internacionalização da economia, que Pedro Nuno Santos elencou, soaram a duas críticas. Por um lado, às opções políticas de António Costa – neste caso às dos ministros Pedro Siza Vieira e António Costa e Silva, que tiveram essa pasta e foram uma aposta pessoal do primeiro-ministro – e também às do antigo secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, atual líder parlamentar do PS e apoiante de José Luís Carneiro. Depois, uma outra crítica, à direita, à IL e ao PSD, que defendem um afastamento da intervenção direta do Estado em áreas como a Saúde ou Educação, e que, em contrapartida, se batem por um aumento dos apoios às empresas”.
Sobre estas medidas, Filipe Luís concretiza que as principais novidades estão na nova política de apoios, que PNS quer direcionar, não para todos, mas para as áreas consideradas estratégicas da Economia: “E quem define quais são essas áreas estratégicas?”, questiona o editor da VISÃO. Por outro lado, acrescenta, “há uma ideia de ‘marca’ que é mais importante do que a da simples exportação de produtos, “o que é uma nova maneira de ver a internacionalização”. E ainda, a única proposta nova para a Habitação, indexar os salários às rendas, diz Filipe Luís que é “uma medida de esquerda numa área onde o PS já tinha um pacote de esquerda…”
Já Nuno Miguel Ropio afirma que “a direita – e viu-se isso durante o Governo PSD e CDS, no período da troika – convive mal com as grandes obras do Estado que herda do PS. Por isso, custa-lhe tanto a comprometer-se com os atuais projetos como o TGV ou o aeroporto”. Ainda assim, diz Nuno Aguiar, o afã fazedor que PNS quer imprimir e colar à sua imagem deixa a direita na defensiva: “De repente, parece que a direita é que tem falta de capacidade de decisão” – e que, por isso, o PSD teve de vir a jogo “caindo na armadilha de António Costa e sendo obrigado a viabilizar o lançamento do concurso do TGV”.
Sobre a AD, Filipe Luís, já citado, a propósito do tema, no início deste texto, insurge-se contra o alegado apagamento da fotografia de Diogo Freitas do Amaral, por parte do CDS e do PSD, quando se sabe, historicamente, que Freitas foi um dos rostos essenciais da primitiva AD e que Adelino Amaro da Costa, embora muito importante, era até considerado, à época, à esquerda de Freitas. E conclui: “Este apagamento da fotografia, completamente estalinista, é uma vigarice política e revela um problema moral grave. Na verdade, o que distingue a AD de Sá Carneiro desta, além das lideranças – e, se não puserem uma mordaça na boca do atual líder do PPM ele só pode provocar estragos… – é que a de 1979 movia-se por convicções, enquanto esta surge por puras razões aritméticas, devido ao método de Hondt na atribuição de mandatos.”
Para ouvir em Podcast
DISPONÍVEL NAS SEGUINTES PLATAFORMAS