Acordámos no passado sábado com um brutal ataque terrorista a Israel e ao povo israelita. Não demorou muito para que as imagens da barbárie indiscriminada por parte do grupo terrorista Hamas chegassem aos nossos telefones e às nossas televisões. À hora que escrevo este artigo, o último balanço indica que os ataques causaram a morte a mais de 900 israelitas, incluindo crianças e idosos, além de 2 600 feridos, dos quais cerca de 400 se encontram em estado crítico.
Raparigas ensanguentadas a serem levadas à força para jipes, abrigos domésticos a serem fuzilados, corpos empilhados em passeios, reféns aterrorizados a serem exibidos em desfiles à chegada a Gaza, centenas de jovens a fugirem para a morte ou captura num festival a sul de Israel, crianças judias a serem humilhadas em rodas compostas por outras crianças incentivadas pelos terroristas. Isto é barbárie e terror. Não visa resolver nenhum conflito ou dialogar. É um massacre indiscriminado de civis inocentes apenas por serem israelitas ou judeus.
O Presidente de Israel, Isaac Herzog, partilhou com o mundo, que desde o Holocausto não eram assassinados num só dia tantos judeus como no ataque de sábado: “Desde o Holocausto que nunca foram mortos tantos judeus num único dia. E desde o Holocausto que não testemunhávamos cenas de mulheres, crianças e avós judeus, incluindo sobreviventes do Holocausto, a serem metidos em camiões e levados para cativeiro”, acrescentando que “o Hamas importou, adotou e imitou o selvagismo do Estado Islâmico. Entrar em casas de civis num dia santo e assassinar famílias inteiras a sangue-frio. Jovens e velhos. Violando e queimando corpos. Golpear e torturar as suas vítimas inocentes”.
Sei que é difícil desassociar estes últimos acontecimentos do prolongado conflito israelo-palestiniano que há décadas decorre na região, mas o que temos visto desde sábado, se há coisa que não se pode admitir é um “mas”. A selvajaria terrorista condena-se e combate-se, não admite justificativas. O conflito que divide estes povos não pode ser arrastado para a lama do terror do Hamas. Israel e a Autoridade Nacional Palestiniana são uma coisa. O Hamas, a Jihad Islâmica da Palestina e o Hezbollah são outra. O Hamas não representa os palestinianos inocentes que lutam pelo seu futuro, antes, usa-os como escudos humanos no seu ódio e na sua posição intransigente de eliminação do Estado de Israel e de erradicação do povo judeu.
Acredito e defendo que é no diálogo entre israelitas e palestinianos, no espírito dos acordos de Oslo, que se encontrará uma solução duradoura que respeite as aspirações dos dois povos. Precisamos de líderes – nos dois lados – com essa vontade e coragem. Já os tivemos no passado e não há nenhum determinismo divino que impeça que no futuro voltemos a ter líderes desse calibre e com esse sonho de paz e convivência pacífica. Tenho batalhado por tal na Assembleia da República, em todas as posições do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Israel.*
Recentemente, em maio de 2023, quando aprovámos um voto histórico de saudação ao Estado de Israel pelos seus 75 anos, no qual reiterámos a importância da cooperação conjunta nos domínios económico, cultural e social entre Portugal e Israel, não deixámos de manifestar o apoio a todos os esforços que procuram alargar o círculo da paz na região e que visam acautelar as aspirações nacionais dos povos israelita e palestiniano através da resolução do conflito israelo-palestiniano com base na solução de dois Estados, em linha com as resoluções relevantes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e em acordos anteriores firmados entre israelitas e palestinianos.
Não é sério debater um problema complexo, difícil e doloroso, que já causou a morte a milhares de pessoas nas últimas décadas, atribuindo a um dos lados todos os erros, todas as culpas e todas as falhas em cumprir resoluções, partilhas e planos (esta discussão não nos faria parar na cronologia dos últimos 120 anos da Palestina). Tal como não é sério ou revela, no mínimo, uma enorme falta de humanismo e empatia desvalorizar a barbárie e o terror do Hamas com adversativas simplistas, ou então, estamos efetivamente perante uma questão de anti-sionismo e anti-semitismo primários.
É legítimo tomar partido nos diferendos e nos conflitos, cada um com as suas razões. Neste, em particular, eu também tomo. Não gosto de viver com palas seja em que tema for e nunca poderei relativizar ou aceitar sem contestar que relativizem, entre nós, o terrorismo ou o ataque bárbaro e indiscriminado contra civis. Já não suporto ler ou ouvir os “mas” desde sábado.
*Desde 30 de novembro de 2022 que estou como Presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Israel.
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