A recente manifestação dos professores foi, para muitos, um enorme “abre-olhos” para a situação que o País vive na Educação. Tanto pela quantidade de professores na rua, como pela forma de mobilização, já ninguém consegue negar uma realidade: a classe docente atingiu o seu limite. Os professores estão exauridos. Pior: sentem-se derrotados.
O que se passou leva-me a formular uma constatação, uma preocupação, um otimismo e um espanto. Estou numa situação única da minha vida, em que posso olhar para este problema sem qualquer interesse pessoal que não a ideologia (enquanto político) e a esperança (enquanto português). Ou seja: não sou professor, já não sou aluno, ainda não sou pai.
A constatação
Os trabalhadores estão fartos de certos formatos sindicais, incapazes e obsoletos.
Vejamos: esta foi a maior manifestação de professores desde 2008. Nessa altura, o partido de Governo era o mesmo: o PS. Tínhamos como primeiro-ministro José Sócrates e a Educação era liderada por Maria de Lurdes Rodrigues. Curiosamente, esse Governo incluía igualmente (meses antes) António Costa, na pasta da Administração Interna.
Tal como na altura, agora também os sindicatos foram irrelevantes na mobilização dos professores. Eles mobilizaram-se por força própria.
Sabemos que há mais de 20 sindicatos de professores. A esmagadora maioria deles está filiada ou na CGTP, ou na UGT. Quer isto dizer que os sindicatos têm forte relação com os partidos. No caso dos sindicatos afetos ao Partido Comunista, essa relação transforma-os em extensões do partido. Ouvir a FENPROF é (praticamente) ouvir o secretário-geral do PCP.
Os professores estão a revelar que essa fórmula está esgotada, e mostram-no de duas formas.
A primeira é o aparecimento de sindicatos que se “dizem” independentes. O mais mediático é o STOP.
Começou por ser o Sindicato de Todos os Professores e agora modificou-se para abranger os restantes profissionais de Educação. Apesar das ligações ao MAS (Movimento Alternativa Socialista), anuncia-se “não sectário, apartidário e realmente democrático”. E para o demonstrar, as regras do STOP não permitem mandatos consecutivos infinitos para os dirigentes e até torna “mais fácil apresentar listas alternativas à direção”. O tempo dirá se é verdade ou uma mera provocação aos sindicatos afetos à central comunista.
A segunda é a forma como esta manifestação foi organizada. Sim, houve um apelo inicial do STOP, mas depois foi tudo fruto do empenho de grupos locais de professores. Sem máquinas partidárias, sem os autocarros da CGTP, sem o apoio das autarquias do costume, sem o rosto pouco credível de Mário Nogueira na dianteira.
Muita gente que nunca tinha feito greve, ou que não fazia grave há muito tempo, saiu à rua. E, sem a FENPROF ter feito qualquer esforço para se juntar ao STOP, podemos dizer que nesta marcha de professores nenhum viajou até Lisboa arrastado pelo seu controleiro. É, por isso, que constato que estamos a assistir ao princípio do fim dos sindicatos partidários, muito meigos com os seus partidos quando estes estão no poder. Como se viu, de resto, nos tempos da geringonça.
A preocupação
O estado de saturação dos professores.
Os professores estão a perder autoridade corretiva dos alunos; estão destituídos de autonomia para dar notas e impelidos a dar passagens; é diária a sua insegurança dentro das escolas e em relação à sua progressão de carreira; sentem-se incapazes de perceber o seu estatuto e direitos no meio desta sucessão de reformas e contra-reformas legislativas; são hoje, tantas vezes, meros amanuenses, burocratas, tal é a tonelada de papéis que os ocupam.
Tão preocupante quanto a desmotivação maioritária dos professores no curso da sua vocação profissional, é o sinal muito pouco atrativo que se dá a qualquer aluno que pondere ser Professor.
O otimismo
Os portugueses começam a despertar.
Uma sondagem da semana passada, da Intercampus, indica que 60% dos portugueses estão ao lado dos Professores, contra 31%, que estão com o Governo. A mesma sondagem arrasa o Ministro da Educação.
Isto significa dois aspetos: desde logo que a máquina de comunicação socialista não está a conseguir demonizar os Professores; e que os portugueses podem estar a reatar a relação de grande respeito que sempre tiveram aos Professores.
Por outro lado, não é precipitado escrevê-lo: os portugueses começam a sentir nos ombros o peso da má qualidade da governação, estando mesmos suscetíveis à retórica de António Costa.
O espanto
Quem está a ganhar com isto?
Sou um defensor da iniciativa privada. A autonomia privada, a liberdade económica e a pluralidade de sistemas educativos são próprios de democracias sólidas. Neste sentido, assumo com naturalidade a existência de um sistema ensino privado robusto. Porém, não pode deixar de surpreender, num país em que os salários não sabem e o custo de vida tem vindo a aumentar consideravelmente, o avassalador crescimento de alunos no ensino secundário privado ao ponto de termos o valor mais elevado desde o 25 de Abril.
Um considerável aumento no período de governação da geringonça, revelador de que o ensino público não tem ido ao encontro do que as famílias e os alunos procuram.
Não há muitas conclusões fáceis do atual clima na Educação, mas uma parece cristalina: o Governo não sabe o que anda a fazer.
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