As circunstâncias de espaço e tempo estão determinadas: Guimarães será o local, 2 e 3 de abril, o tempo. Dois fatores aparentemente indiferenciados que ditarão o contexto decisivo para um partido matricial na democracia portuguesa: o 29.º Congresso do CDS-PP.
Num momento em que as prioridades estão viradas para o drama que decorre a Leste da Europa, a bússola de alguns resistentes centristas e de outros portugueses curiosos virar-se-á para a cidade-berço. Na cabeça da maioria desta minoria pairam algumas dúvidas: terá futuro o partido de Freitas e Adelino? Terá dia seguinte a casa do pensamento de Ofir, liderado por Lucas Pires? Terá prognóstico o partido dos pobres, de Adriano Moreira? Terá outra chance o Partido Popular de Monteiro? Terá ainda chama para continuar o partido dos dois dígitos, de Portas? Ainda sobra alguma ambição máxima de Cristas ou algum anseio fortalecido para Voltar a Acreditar como Rodrigues dos Santos?
A pergunta hoje colocada a qualquer militante do CDS é simples e decisiva. Terá o CDS viabilidade para o futuro? Ainda que simples, não tem resposta fácil – e não devemos cair no erro de tentar contornar a questão, passando-lhe ao lado, ignorando-a, convencidos de que assim a ultrapassamos e deixamos para trás. Não é por ignorar a realidade que os tempos voltam atrás; não haverá qualquer retorno a um tempo que já passou.
Há quem responda com entusiasmo. Mas, cuidado. Este poderá esfumar-se consoante passam os dias – à mesma velocidade que as dificuldades vão surgindo no caminho de um partido sem representação parlamentar, com uma parca projecção mediática e uma grave situação financeira. Esta tentativa de resposta (a do entusiasmo) crê na garantia de que ao CDS sempre lhe restará um espaço eleitoral. Infelizmente, foi precisamente essa crença que as últimas eleições legislativas vieram violentamente abalar: o nosso espaço eleitoral passou do hemiciclo para as galerias…
Em suma, ao contrário deste ânimo momentâneo (carregado de demonstrações de amor ao partido, de gritos que ecoam “o CDS não vai morrer!”) nós não podemos dar nada por garantido.
Se uns têm respondido com entusiasmo, outros sentem indignação – a indignação que tem guiado a vida interna do partido e a sua lógica de guerrilha intestina, que transformou a própria agenda nacional do CDS numa plataforma de batalha campal entre diferentes facções que preferiam digladiar-se de forma fratricida a falar de temas relevantes para os portugueses. Esta resposta também nos tenta mostrar que o partido apenas poderá sobreviver com um clima de paz interna, em que todos devem debater sem pedras na mão e no fim se respeitam as decisões.
Então como é que devemos encarar a questão sobre a viabilidade futura do partido?
Pensando, em primeiro lugar, naquilo que o CDS pode oferecer ao país. Depois, pensando na pessoa que pode protagonizar esse caminho.
Quais podem ser as bandeiras e o projecto político que o CDS deve apresentar a Portugal de forma diferenciadora? De que forma se sustentará, logística e operacionalmente, este projecto para o país. Entenda-se, que tipo de reorganização interna deve ser feita, quer ao funcionamento dos serviços do partido, quer à dinâmica e lógica de participação das estruturas locais e distritais.
Em Guimarães, a pergunta não se deve reduzir somente a quem pode ser o novo presidente do partido. Antes a questão deve passar por: quem deve ser o novo líder do CDS? Quem tenha percurso e credibilidade. Quem possa devolver foco mediático. Quem seja capaz de lhe dar rumo, alicerçando protagonismo a ideias, consequências estruturais a causas, capacidade e experiência a rostos novos.
Quem assuma com galhardia e inteligência a justiça intergeracional enquanto imprescindível, as políticas de natalidade como imperativas e a nação marítima conforme desígnio de Portugal.
A resposta à sustentabilidade do CDS deve assim ser tripla: explicar que projecto político pode o CDS apresentar ao país; mudar o funcionamento do partido para uma lógica muito distinta da atual; escolher o rosto certo para este tempo.
Para dar esta resposta a JP diz presente: a JP está cá com o CDS para isso mesmo. Para garantir a viabilidade do partido e o regresso de um partido fundador da democracia à Assembleia da República, sempre sem medo de avançar.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.