Paris e Londres desempenham um papel decisivo na manutenção da estabilidade militar na Europa, dissuadindo qualquer aventura vinda de Moscovo ou de Pequim. Os dois países, juntos, possuem 515 ogivas nucleares, distribuídas entre submarinos e aviões, e o seu poder de destruição, bem como a capacidade de resposta a um primeiro ataque, permanecem intactos.
Os Estados Unidos têm 5.244 ogivas nucleares, repartidas pela tríade estratégica – submarinos, aviões e silos – mas, quando se equaciona um cenário em que essas armas sejam utilizadas, a quantidade torna-se substancialmente irrelevante. O poder nuclear de França e do Reino Unido é mais do que suficiente para destruir o mundo várias vezes. Daí a importância que agora assumem, face ao isolacionismo de Trump, que considera a NATO um desperdício de dinheiro e de recursos militares.
A reunião de emergência em Paris, com os líderes europeus, terá um papel decisivo na forma como a Europa, em conjunto, pode manter o apoio à Ucrânia e fazer frente a qualquer expansionismo sonhado por Putin. Em teoria, a Aliança Atlântica já não pode contar com o total empenho militar dos Estados Unidos, e esse papel dissuasor cabe agora ao Reino Unido e a França. Dois por Todos.
Nesta nova realidade, a Europa tem de demonstrar que nunca haverá um acordo de paz sem a Ucrânia e sem a União Europeia – ou, pelo menos, sem a nova União de Defesa Europeia que se tenta criar rapidamente. Trump pode cometer as tolices que quiser, por agora, mas, em novembro de 2026, se o Congresso mudar de maioria, a Casa Branca tornar-se-á dispensável. É apenas uma questão de resistência. E Putin sabe-o. Ou consegue uma paz rápida, ou tudo voltará ao que era nos últimos três anos – mas com uma Rússia mais debilitada, vulnerável e incapaz de manter os territórios ucranianos.
Zelensky pode ter perdido, momentaneamente, um grande aliado, mas ganhou uma Europa forte, que deseja Kiev na União e que está disposta a dar garantias de defesa e segurança. Russos e americanos podem conversar indefinidamente em Riade, mas não passarão de figurantes que perderam o controlo da guerra e da paz.
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