Agora que o futebol para nós acabou, a comunicação social e as redes retomam alguns assuntos de especial interesse interno e externo que ficaram em stand by enquanto a bola rolava.
Parece que a guerra na Ucrânia ainda continua e tudo aponta para a existência de movimentos populares em países de governos musculados (sendo que a palavra é um mero eufemismo) que exigem mudanças dos respetivos regimes.
Por momentos, leia-se breves dias, chegou-se a pensar que o Irão cedera ao movimento maioritariamente feminino e teria abolido a polícia da moralidade, essa entidade tenebrosa que recusa o estatuto de humano a toda a mulher ou homossexual.
Afinal e infelizmente, tinham razão os que não acreditaram em tal. O recuo do anúncio veio mostrar algo que deveria ser evidente: não basta que o povo saia à rua, se manifeste e se revolte. Num mundo global e potencialmente perigoso, qualquer movimento de alteração tem que ter um respaldo político.
Corajosas mulheres que enfrentaram o regime misógino mais atroz do momento! Mas a sua revolta bateu na fachada da real politik, com os seus acordos, os seus objetivos económicos e diplomáticos que só utilizam o argumentário dos Direitos Humanos quando tal lhes é útil.
Quer o que se passa na Ucrânia, quer as revoltas pela liberdade em países como o Irão, o Afeganistão ou a China, estão condenados ao fracasso porque de facto não interessa ao Ocidente que se mude o status quo pois tal pode colocar em causa interesses não divulgados.
Claro que a diplomacia e a política não devem ser feitas em praça pública. Mas têm o dever de serem levadas a cabo em nome e para o bem público!
As ações de apoio à Ucrânia, em bom rigor, foram completamente infrutíferas. Estavam destinadas a sê-lo! Inundar a guerra apenas com armamento (o que dá um enorme jeito a países como a Alemanha e os EUA, diga-se em abono da verdade) e pacotes de sanções sobre a Rússia é o mesmo que tentar esvaziar o mar com um balde de criança
A guerra já se conta com a proximidade ao aniversário. Ou seja, um conflito que se previa durar uns poucos de meses está prestes a concluir o primeiro ano.
As ações de apoio à Ucrânia, em bom rigor, foram completamente infrutíferas. Estavam destinadas a sê-lo! Inundar a guerra apenas com armamento (o que dá um enorme jeito a países como a Alemanha e os EUA, diga-se em abono da verdade) e pacotes de sanções sobre a Rússia é o mesmo que tentar esvaziar o mar com um balde de criança.
A questão, sabem-lo bem os políticos ocidentais (pelo menos esperemos que sim, embora a qualidade tenha decaído de tal forma que já nada nos espanta) é mais profunda e implica afrontar claramente o regime do Kremlin. Não com armas que só levariam a uma escalada do conflito, mas com o apoio às alternativas que começam a surgir internamente, promovendo de modo sustentado uma implosão do regime. E esse apoio deve ser público de forma a sustentar as manifestações populares que surgem, de maneira mais ou menos espontânea mas sem respaldo, um pouco por toda a parte.
Quem apoiou os movimentos de Navalny? Que país encetou algumas diligências para a sua libertação? Navalny morrerá certamente na prisão. Mesmo não sendo especialista em química, não tenho dúvida que o veneno que lhe foi inoculado deixa resíduos e bastará faltar-lhe assistência médica para que não sobreviva.
Quem se ergueu real e eficazmente perante as manifestações das mulheres humilhadas, batidas, escravizadas, relegadas à condição de meros animais, que diziam “basta”? Que país ou países tomaram partido pela defesa dos direitos humanos que tanto apregoam?
Qual o governo que exigiu explicações ao Qatar sobre a coincidência da morte fulminante do homem que se manifestara pela comunidade LGBT+?
Repudiar esta ou aquela ação dum regime que não reconhece outra lei a não ser a da força ou da religião lida por olhos masculinos, apenas descansa a consciência dos que o fazem. Em termos reais, tem um efeito ZERO!
Falar ou tomar uma ação sancionatória e preparar uma alteração do regime quer do Irão quer do Afeganistão quer da Rússia, é coisa para colocar os políticos e diplomatas ocidentais em trincheiras do “isso é muito complicado…” ou do eterno “não é bem assim…”.
Mas o que está sempre em causa são as pessoas! As que vivem no dia a dia a angústia, o medo, a dor, o terror e a morte às mãos desses regimes!
O Ocidente interveio na Líbia e no Iraque supostamente para defender a democracia, a liberdade e os direitos fundamentais do ser humano. É certo que deixaram um rasto de destruição tal que nos perguntamos qual a real razão da intervenção. Até porque perante estes atropelos a tudo quanto são os nossos valores e princípios, esgrimidos em argumentos sempre que convém, nada, rigorosamente nada é feito!
A Europa assume a sua irrelevância decretando pacote de sanções atrás de pacote de sanções à Rússia e transformando-se numa fortaleza construindo muros de contenção! Face aos movimentos das mulheres e dos grupos mais vulneráveis em países de islamismo exacerbado (no qual se insere o Qatar, que afinal foi um grande contribuinte para algumas áreas das instituições europeias…), limita-se a manifestar o seu repúdio e o seu apoio moral. Em bom português, nem um nem outro valem um caracol! Os regimes estão-se pouco importando com repúdios e os apoios morais não afastam as execuções a que estão sujeitos os que se rebelam.
O momento chegou em que as tibiezas não têm lugar. Assistimos a um mundo que grita “Liberdade ou Morte”.
Não o deixemos morrer!
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.