Naomi Osaka devia ser a mulher de quem se fala. Ela é uma atleta de excelência, dotada, focada e humilde, e venceu o Open do Estados Unidos contra uma lenda do ténis. Mas, curiosamente ou talvez não, o momento não é de Naomi Osaka, e isso diz muito sobre os dias de hoje e o discurso contaminado pelo politicamente correto. Esta é a triste história de uma heroína esquecida. Naomi, a japonesa de origem havaiana, é o futuro do ténis e só tem direito a três linhas de texto na Wikipédia e a referências de passagem nas notícias que falam de Serena Williams e do árbitro Carlos Ramos.
A foto para a posteridade é aquela em que se vê uma menina de 20 anos, serena, tão serena, concentrada apenas no jogo mais importante do seu primeiro Grand Slam, de costas voltadas para um espetáculo triste de uma Serena aos gritos e de dedo em riste para um árbitro português e implacável. Um espetáculo mediático que vem de trás e em que a sua adversária é expert. Se há coisa, aliás, em que Serena Williams é imbatível é nisso: gerir a sua imagem pública com unhas e dentes, socorrendo-se de todas as armas que conseguir para se manter na liderança, apesar das inequívocas desvantagens que teve de superar. O jogo do ténis, como qualquer outro de alta competição altamente mediatizado, também se joga fora das quatro linhas, e Serena sabe-o melhor do que ninguém. Só que a recém–chegada Naomi talvez seja demasiado jovem e inocente para perceber isso…
(Artigo publicado na VISÃO 1332, de 13 de setembro de 2018)
De raquete na mão, Naomi virou as costas a uma Serena descontrolada e focou-se no essencial: ganhar. Mesmo que isso significasse bater a sua heroína de sempre. Durante o jogo, esteve impenetrável e implacável e isso deu-lhe a vitória. Mas como a própria confessou, quando Serena a abraçou no final, voltou a ser a miúda pequenina que olhava para a deusa com admiração. E isso explica que todas as suas palavras tenham sido mais para elogiar e desculpabilizar a adversária sem fair play do que para falar de si própria e do seu feito extraordinário. Humildade é um dos traços maiores dos realmente bons. Naomi foi exemplar, Serena foi a sombra lamentável de uma deusa caída em desgraça.
Fazer do que se passou em campo um caso de discriminação sexual é lamentável. Insultar o árbitro e partir raquetes em campo é inadmissível a homens e mulheres. Inúmeros homens foram penalizados por tal ao longo das suas carreiras – que o diga John McEnroe ou Jeff Tarango. Serena cometeu três violações de código, e este juiz não fechou os olhos. Se outros fecharam nas mesmas circunstâncias estiveram mal. Custa-me ver mulheres a abusar da acusação de sexismo e o mundo inteiro a engolir este tipo de argumentação manipulatória que só desvaloriza as discriminações sexuais que acontecem, efetivamente, todos os dias um pouco por todo o lado. Mais serenidade no discurso, como a de Naomi, fazia-nos tanta falta.