Como é do conhecimento geral, na passada quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa chumbou o diploma referente à pretensão da correção de assimetrias que dizem respeito ao congelamento das carreiras dos educadores de infância e dos professores do pré-escolar, do ensino básico e secundário. Este veto do Presidente da República obrigou o Governo a levar a cabo várias alterações ao diploma apresentado, ainda que haja um manifesto desalinhamento de algumas ideias entre as partes.
O certo é que esta decisão de Marcelo Rebelo de Sousa abriu a porta para novas negociações e surgia como uma lufada de ar fresco neste braço de ferro vivido há meses entre professores e governo. O Chefe de Estado salientou, e bem, que a educação é um dos pilares de qualquer país e que os direitos dos professores devem ser respeitados, assim como a profissão enaltecida no seio da sociedade.
Contudo, estas esperanças acabaram por perder o fôlego no passado domingo, depois de o Presidente da República ter admitido que poderia promulgar o diploma com base em algumas alterações que, no seu ponto de vista, deixariam a porta aberta para um acordo. Desconfio que isso será pouco relativamente aos que os professores devem ter, por direito legítimo.
Quem perde com todos estes impasses e paredes colocadas à frente das negociações é a educação e, com ela, todo um país. Esta radicalização de ambos os lados tem de ser contornada para que um verdadeiro acordo aconteça, uma vez que se o caminho continuar a ser traçado da forma como tem sido nos últimos anos, ninguém vai desejar seguir esta carreira no futuro e, dessa forma, não teremos professores, tendência que já se vem, aliás, a notar, em algumas disciplinas, onde tem sido verdadeiramente difícil recrutar profissionais com habilitação para as lecionarem.
Podemos, pois, se a radicalização de ambas as partes se mantiver, prever um próximo ano letivo com novas greves e instabilidade nas escolas, o que só prejudicará os nossos alunos. Mesmo no plano internacional, ficamos muito mal na fotografia, como um país que coloca a educação em segundo plano e que desconsidera desta forma a classe docente, o que em nada contribuiu para uma boa reputação de Portugal no mundo.
Pergunto-me, pois, se esta potencial promulgação do novo diploma por Marcelo Rebelo de Sousa não será mais um balde água fria na luta dos professores. Parece-me que, infelizmente, poderá ser o caso. Esperemos pelos próximos capítulos deste enredo que já se arrasta há demasiado tempo…
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