Quando éramos crianças, o que sentíamos era que, se tivéssemos oportunidade de estudar e tirar o curso que desejávamos, ou se simplesmente optássemos por seguir uma determinada arte, o emprego seria, à partida, garantido e poderíamos alcançar o sonho de exercermos a profissão tão almejada. Nesse tempo, todas as profissão eram consideradas úteis e a tecnologia existente não fazia adivinhar o fantasma que se abateria sobre as gerações presentes: o medo do desemprego. Se nos perguntavam “O que queres ser quando fores grande?”, facilmente respondíamos “professor”, “médico”, “futebolista”, entre tantas outras profissões, escolhendo o que queríamos ser com base na nossa vocação.
Os jovens de hoje já não sentem a liberdade de outrora. Sentem que muitas das profissões com que tanto sonharam deixaram de ser opção, pela falta de empregabilidade, pelo salário tão baixo, ou porque a tecnologia, a longo prazo, pode substituir postos de trabalho hoje assegurados por seres humanos.
Na verdade, filmes que vimos há pouco mais de 20 anos e que considerávamos representar uma realidade ainda tão distante, como o caso do “Matrix”, tornaram-se, num piscar de olhos, em algo tão atual e, ainda que entusiasmante em tantos pontos, também assustador. O famoso ChatGPT promete maravilhas, no auxílio em tantas tarefas, mas também surge como uma ameaça a diversas profissões. Estaremos preparados para enfrentar um horizonte que se aproxima a passos largos da realidade? Desejamos mesmo que o mundo em que vivemos se torne num local tão desumanizado, liderado pela inteligência artificial? Que barreiras devem ser colocadas ao progresso tecnológico? São estas tantas perguntas sobre as quais a humanidade terá, obrigatoriamente, de refletir, para que o planeta em que vivemos não se torne num lugar cinzento, pouco sensível e dominado pelas máquinas.
Todos nós, ou a maioria de nós, concordamos que a tecnologia é essencial e em muito veio auxiliar, ao longo dos tempos, a vida das pessoas. Contudo, chegarmos a um ponto em que se atravessa no caminho da felicidade humana, em que serve os propósitos capitalistas de alguns, colocando em segundo plano a necessidade da interação entre os humanos, parece-me perigoso e não desejável.
As máquinas podem ser muito inteligentes, mas continuam a ser máquinas, frias e sem coração. E aquilo de que o mundo mais necessita é de mais coração, mais amor, mais sensibilidade e uma maior troca de gestos e palavras humanas. Não é justo que os jovens de hoje e manhã não possam seguir os seus sonhos, porque as máquinas os podem substituir. Na verdade, estas devem servir os humanos e não fazer deles seus serventes.
Por isso, pensemos que o mundo é nosso, de todos, e que devemos tomar as rédeas dele e não o deixar nas mãos de apenas alguns. É nosso dever cívico lutarmos pelo futuro da humanidade, para que o nosso mundo não venha a tornar-se num “planeta dos macacos”, no qual o homem não mais tem a liberdade de traçar o seu caminho. Não deixa de ser uma possibilidade que, se formos longe demais e perdermos o controlo do ritmo a que a tecnologia avança, passemos de senhores das máquinas a escravos das mesmas.
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