Devemos considerar a Inteligência Artificial (IA) como um perigo ou, pelo contrário, como um benefício? Esta questão quase filosófica tem monopolizado o debate praticamente desde o advento desta revolução tecnológica. No entanto, se nos cingirmos à análise dos factos, a IA surge inequivocamente como uma grande oportunidade, sendo mesmo um novo paradigma para o emprego, o nosso modelo de crescimento, a inclusão e até mesmo para a preservação do planeta.
A IA como máquina de criação de empregos e, por isso, de riqueza
A IA é responsável pela cristalização de medos e do mito da máquina que domina o Homem. Não podemos esquecer, contudo, que a IA é e será a fonte de criação de novos postos de trabalho em torno de um vasto espectro de profissões, incluindo a gestão de dados, o design de interface entre o Homem e a máquina ou operações de manutenção. De acordo com o estudo “Future of Jobs Report 2018”, realizado pelo Fórum Económico Mundial, 133 milhões de empregos deverão ser criados até 2022 em todo o mundo, o que corresponde a um número muito superior aos 75 milhões que se espera que sejam eliminados. O saldo será, por isso, positivo em mais de 58 milhões. Além disso, as perdas irão afetar principalmente profissões de baixo valor acrescentado, frequentemente ligadas àquilo que são operações manuais repetitivas e restritivas.
Garantir o dinamismo da nossa economia
Ironicamente, os detratores da IA rapidamente se esquecem que a IA é pensada e implementada por humanos. Num momento em que todas as empresas enfrentam as maiores dificuldades no recrutamento de pessoal especializado, é crucial para a nossa economia e o seu futuro garantir a formação especializada em qualidade e quantidade. Felizmente, nos últimos anos, têm sido desenvolvidas várias iniciativas com esse objetivo em mente. Em França, por exemplo, foram criadas escolas acessíveis a jovens desempregados, a profissionais em reconversão de carreira, a pessoas provenientes de bairros desfavorecidos ou com algum tipo de incapacidade, e estabelecidas parcerias entre empresas e organismos governamentais no sentido de desenvolver ações de formação para pessoas à procura de emprego nas profissões digitais.
A IA como base para o impacto social
A IA e, de uma forma geral, a tecnologia são uma excelente oportunidade para promovermos a inclusão dos 650 milhões de pessoas afetadas por algum tipo de incapacidade em todo o mundo. A título de exemplo, em França foi criada a Handitech, uma associação que tem como missão melhorar o dia-a-dia das pessoas com incapacidade e que desenvolveu um ecossistema composto por start-ups, empresas, escolas, instituições, associações e investidores com o objetivo de criar soluções úteis para este segmento da população. A competitividade promovida por esta iniciativa já levou ao desenvolvimento de soluções como o SignBand, um software que aproveita o poder da IA para traduzir instantaneamente língua gestual; o Translator AI, um plug-in para PowerPoint que permite legendar apresentações; ou a Wyes, uma tecnologia que permite que pessoas paralisadas interajam através do piscar dos olhos utilizando uns óculos e sensores infravermelhos.
A IA também pode salvar o planeta
O movimento “AI For Good” pode também ter uma poderosa influência positiva nas questões ecológicas. Assumindo a missão de preservar o meio ambiente, para a nova geração de start-ups envolvidas nessa luta a IA é uma forma clara de acelerar a criação de aplicações e serviços dedicados à redução do impacto ambiental, aproveitando as enormes quantidades de dados públicos e privados disponíveis provenientes de inúmeras fontes (meteorologia, agricultura, dados de empresas de transportes, etc.). O objetivo passa por combater a poluição, melhorar a gestão energética, ajudar na reciclagem de resíduos e preservar os ecossistemas. É neste contexto que surge, por exemplo, a start-up Bilberry, que criou uma solução baseada em algoritmos de deep learning que permite a redução da utilização de fertilizantes.
Apesar das evidentes preocupações que pairam sobre as mentes de muitas pessoas e, em particular, de muitos decisores económicos e políticos, a realidade tem demonstrado ao longo dos anos que a evolução tecnológica deve estar na base da criação de melhores condições ambientais, económicas ou sociais de uma forma transversal. Os sucessivos exemplos que têm surgido neste contexto são claros nos seus intentos: a IA veio para ficar e vai fazer parte das nossas vidas. Só temos de olhar para as suas potencialidades e adaptá-la às nossas necessidades, garantindo que estará ao serviço do bem comum e da evolução humana.