Os Jogos Olímpicos são, para o melhor e para o pior, um espelho do mundo e, nos dias intensos e preenchidos em que se concentram as atenções planetárias, ajudam-nos a observar a realidade de uma forma diferente: ao vibrarmos com a proeza de um atleta, somos capazes de, imediatamente, passar a simpatizar com um país que, muitas vezes, nem sequer conseguíamos identificar no mapa; ao olharmos para as listas de medalhados, sentimo-nos obrigados, noutras ocasiões, a desfazer algumas ideias feitas sobre a relação entre economia, demografia e desenvolvimento desportivo; ao assistirmos a várias provas, das mais diversas modalidades, percebemos como, apesar de cada atleta envergar as cores da sua nação, o mundo é hoje um local mais diverso e miscigenado, e em que se desfazem, de forma imparável, os estereótipos de uma imagem associada à fisionomia e aparência física dos naturais de cada país.
Embora se tenha transformado num negócio colossal, o olimpismo não perdeu a magia de nos fazer acreditar, nem que seja por um instante fugaz, que é possível reunir os representantes de todas as nações do mundo num ambiente de paz e de respeito mútuo. E, quando esse espírito de união e de confraternização consegue alastrar pelas ruas da cidade que acolhe os Jogos Olímpicos, como se tem visto nestes dias em Paris, o efeito torna-se ainda mais forte. Pode ser só uma ilusão, mas as imagens de festa e de confraternização, despidas dos hooliganismos e de alguns tribalismos que se veem noutro tipo de competições, são um alento para as melhores utopias e ilustram, com cores vivas, o que pode ser viver em liberdade, igualdade e fraternidade, em plena e total diversidade.