O coro de elogios a Jorge Sampaio, na hora do seu desaparecimento físico, revelou como os valores da sinceridade, da verdade e da autenticidade são os mais importantes para se construir a memória que guardamos das pessoas, quer elas nos sejam próximas ou não. Perante estes, tudo o resto passa a ser secundário e até supérfluo, em relação ao que vamos recordar daí em diante. E a verdade é que ao longo da sua longa vida pública, nos mais diversos combates e causas, Jorge Sampaio teve sempre a virtude de se mostrar exatamente como era, sem precisar de esconder nada do seu passado, dissimular as suas convicções ou arvorar-se em algo com que não se sentisse bem. Por isso, mesmo aquelas que, a partir de certa altura, muitos apontavam como as suas maiores fragilidades – como a ponderação exacerbada, antes de tomar uma decisão, ou as declarações um pouco redondas, imunes a sound bites bombásticos – acabaram, no final, por se revelar as forças que nos permitem também recordá-lo agora como um homem autêntico, para quem a verdade era sempre mais relevante do que o joguinho político.
Mais importante ainda – Jorge Sampaio foi um homem de ação, toda a vida. Um homem livre que soube escolher os seus combates, mesmo quando eles podiam nem ser os mais mediáticos ou os mais benéficos para uma carreira política. A importância do seu exemplo está no facto de toda a sua vida ter sido marcada pela necessidade de agir, de tentar ajudar os outros, de procurar contribuir para a criação de um mundo mais justo e solidário. Fê-lo em ditadura, quando era preciso coragem física para enfrentar a polícia política e a repressão, e fê-lo em democracia, blindado pela força mental das suas ideias e convicções.