E de repente, chegámos ao mês de agosto.
O mês de paragem para a maior parte dos portugueses, o mês do subsídio, das férias, do sol, do mar, do campo, da reunião com família que há muito não vêem, das festas, sem dúvida o mês que a maior parte das pessoas espera e o mês que ninguém quer ouvir falar de crise.
Pois bem, percebo, mas isso não faz com que a crise desapareça.
Com as alterações climáticas a evoluírem para um cenário de aumento de temperaturas dificilmente reversível, temos de volta a crise climática e os eventos do costume que nos lembram do problema. Em particular, destaco o problema dos incêndios.
Como pessoa do imobiliário, considero que os incêndios são um problema do meu setor.
Um problema que começa no ordenamento do território, e acaba nos proprietários. Um problema crónico que não tem tido grandes evoluções em mais de 30 anos.
Algumas das causas deste problema imobiliário:
– Reabilitação das florestas como medida de prevenção, antes e depois de incêndios;
– Limpeza de terrenos, por parte de privados, e por parte do estado como o maior proprietário deste tipo de bem imóvel;
– Construção de habitação em locais que representam um potencial perigo para o seu proprietário, por estarem muito perto de locais de perigo de incêndio, ou locais que não estão preparados com as infraestruturas certas para facilmente se atuar num cenário de incêndio (muito importante o corpo de bombeiros e fulcral a formação e preparação da população);
– Burocracia na habilitação de herdeiros e de múltiplos proprietários de terrenos, as pessoas não se entendem, não conseguem organizar-se em processos complexos e por isso deixam as suas propriedades praticamente ao abandono;
– Imigrantes e estrangeiros proprietários de terrenos em Portugal, estão fora, não têm ligação ao bem imóvel, nunca mais cuidaram dele, e deixam uma autêntica manta de retalhos ao abandono;
– E apesar de não ser um problema do imobiliário, a falta de mão pesada na aplicação da lei que puna de forma eficaz os incendiários.
Falando de outro problema imobiliário, mesmo que corra o risco de me tornar impopular durante este mês, vou falar sobre o problema do aeroporto.
Sou italiano, considero que Portugal sempre foi um país com enormes potencialidades ao nível do turismo e vivo em Lisboa desde 81. Vi a cidade crescer e desenvolver-se como um destino de excelência, primeiro europeu e depois mundial, mas curiosamente, sempre com o mesmo aeroporto perto da zona onde habito no Areeiro. Sim, foi sendo reabilitado, sim, foi sendo melhorado, e sim, foi sendo aumentado, mas hoje não tem por onde crescer e a decisão que devia ter sido tomada atrás, teima em não aparecer.
E será que esta falta de decisão crónica do Estado em relação à nova localização do aeroporto tem a ver com mais outro problema imobiliário que teima em atrasar muitos projetos?
Falo do problema do forte lobby do investimento e construção, ser um lobby não é um problema, o problema é que condiciona muitas decisões por haver demasiados interesses envolvidos.
Por exemplo, o que fazer com a Portela? Deixa-se ficar? Ou desmantela-se e faz-se uma mega urbanização para Lisboa (o que não era mal visto) para combater a escassez de habitação?
E por fim, outro problema que afeta o imobiliário, este então ninguém quer mesmo ouvir falar em Agosto!
A subida da Euribor e inflação.
Mas como em agosto “nunca há crise”, o importante é mesmo aproveitar as férias, a praia, o sol, o descanso e em setembro ou outubro, logo se vê.
Inspirado na célebre frase de Mark Twain “compre terra, porque já não se fabrica”, deixo-vos a minha reflexão sobre tudo isto…
– “cuide da sua terra, porque já não se fabrica”.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.