A manutenção de uma boa saúde oral é fundamental para uma boa qualidade de vida e para a promoção de um bom estado de saúde geral. O cuidado com os tecidos dentários e gengivais traduz-se não só numa boa capacidade funcional e numa boa aparência estética como evita ainda problemas em outros sistemas do nosso organismo, como por exemplo problemas gástricos, que são muitas vezes criados ou acentuados por uma função mastigatória ineficaz.
Uma rotina de higiene oral diária deficiente pode, muitas vezes, desencadear inflamação das gengivas, designada por gengivite, que caso não seja tratada pode evoluir para doenças mais graves, como a doença periodontal ou periodontite.
A gengivite é, então, uma inflamação das gengivas, que pode ser mais localizada ou generalizada, resultante da acumulação de placa bacteriana nas superfícies dentárias, junto a este tecido rosa. Esta presença prolongada de bactérias é a responsável pelo inchaço, desconforto e sangramento ao escovar os dentes, bem como pela aparência mais avermelhada nas gengivas. A não resolução deste quadro clínico poderá evoluir para uma forma mais grave de doença gengival, a periodontite.
Uma vez desencadeada a periodontite, começa a existir o comprometimento de outras estruturas que suportam o dente, como ligamentos e osso, que por sua vez, na presença de bactérias vão sendo destruídos, situação esta que é irreversível e poderá conduzir à perda de dentes.
Assim, aos primeiros sinais de inflamação nas gengivas, a pessoa afetada deve ir rapidamente ao seu dentista, para que seja feita uma higienização adequada para remover a placa bacteriana e o tártaro que está aderido às superficies dentárias e acumulado entre estas e as gengivas.
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Sinais de que se instalou uma periodontite
Para muitos indivíduos, a periodontite desenvolve-se muitas vezes de forma silenciosa, sem quadro sintomatológico doloroso, fazendo, por isso, com que não seja facilmente reconhecida pela pessoa afetada.
No entanto, alguns sinais que indiciam a doença podem ser detetados:
Formação de bolsas periodontais
Em condições de saúde, a gengiva que rodeia os dentes não está completamente aderida à superfície dentária pois exite um espaço milimétrico entre ambos ao qual damos o nome de sulco gengival.
Na periodontite, esses sulcos tranformam-se em bolsas com mais de 3mm de profundidade que propiciam uma ainda maior acumulação de placa bacteriana perpetuando o ciclo de inflamação e de doença.
Retração das gengivas
Em casos de pouca espessura de gengiva, isto é, em pessoas com um tipo de gengiva fino este processo inflamatório prolongado que origina a periodontite provoca a retração das gengivas, ao invés da formação de bolsas profundas enunciadas no tópico anterior. Esta retração, em casos graves, pode mesmo deixar quase a totalidade da raiz do dente exposta.
Hipersensibilidade dentária
Com o agravamento da doença periodontal aumenta a profundidade das bolsas ou a extensão das retrações gengivais o que faz com que a raíz do dente, com uma maior sensibilidade a estímulos, deixe de estar protegida pela gengiva aderida e fique exposta às flutuações térmicas do meio oral tendo como consequência a hipersensibilidade dentária dos dentes afetados.
Mobilidade e Perda de dentes
Enquanto que a gengivite se limita à inflamação das gengivas quando perante a periodontite não só estas estão afetadas como os demais tecidos de suporte do dente, como o tecido ósseo. Desta forma, com o prolongar da inflamação ao nível das gengivas, aumenta a profundidade das bolsas e a destruição do osso em redor, resultando na diminuição do suporte dentário e consequente aumento da mobilidade destes. Em casos limite, ocorre mesmo a queda dos dentes afetados ainda que hígidos.
Mau hálito e Alterações no paladar
São dois aspetos que podem ser bastante comuns perante um quadro de periodontite uma vez que a carga bacteriana presente na boca é significativa. Estes pequenos microorganismos quando decompõem os alimentos mastigados libertam e acumulam substancias com odor e sabor desagradáveis, provocando o mau hálito e/ou alterando o paladar.
Prevenção
Na medicina dentária, é costume dizer-se que a doença periodontal não tem cura mas sim tratamento, isto porque o dano causado pela periodontite é em grande parte irreversível. Ou seja, não é possível reverter os efeitos da periodontite mas sim tratar a doença periodontal impedindo que esta avance e cause ainda mais problemas.
Assim a melhor aposta é a prevenção e esta consegue-se através de uma boa higiene oral, hábito que se deve criar desde cedo e praticar consistentemente ao longo da vida.
Tanto para a gengivite como para a periodontite, a causa é sempre acumulação de placa bacteriana. Assim para evitar a formação destes agregados que acontece sempre que se mastiga há que ter bons hábitos de higiene oral que incluem a escovagem, a utilização de fio dentário e a visita semestral ao médico dentista ou higienista.
A escovagem bidiária é mandatória, sendo uma vez de manhã e outra antes de dormir, durante cerca de 2 minutos, com pasta fluoretada, e utilizando uma escova de cerdas não duras (médias ou macias). O uso de fio dentário é também essencial, pelo menos uma vez ao dia, para colmatar a limpeza nas áreas onde a escova não é eficaz, como acontece no espaço entre dentes.
As visitas regulares ao dentista também são muito importantes, não só para um controlo do estado de saúde oral como também para realizar higienizações em consultório, no mínimo a cada 6 meses.
Importa relembrar uma vez mais que um bom estado de saúde dentário e gengival é fundamental para a saúde em geral. O meio oral é o começo de todo o nosso processo digestivo, que por sua vez vai prover de nutrientes outros sistemas do nosso corpo. Assim um problema nesta linha de partida pode acarretar outros em qualquer ponto do percurso.
Ao notar quaisquer sintomas de periodontite, é importante marcar uma consulta com o médico dentista o mais cedo possível. Quanto mais cedo se cuidar desta doença, melhores serão as hipóteses de recuperação dos seus danos.
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