A falha eréctil ocasional é uma realidade inevitável na vida de qualquer homem. Mais tarde ou mais cedo, aos 20, aos 40 ou aos 70, não importa quando, porque nada tem a ver com a idade, ela acontece porque sim, sem dó nem piedade. Chamamos ocasional porque é isso mesmo, eventual, esporádica, sem razão clara nem relevante, acontece e pronto. A sua importância é aquela que o homem lhe der. E se o homem lhe dá demasiada relevância e lhe dedica muitos pensamentos, ela pode deixar de ser “ocasional” e passar a ser frequente. E está o caldo entornado.
Antes de avançar é preciso esclarecer que podemos falar de três realidades diferentes. Uma, a falha eréctil ocasional, que é pontual e isolada, como já explicámos. Duas, a dificuldade com a função eréctil, quando o homem perde a ereção já com alguma frequência e em situações particulares mas não se verificam os critérios para diagnosticar uma disfunção sexual. E três, a disfunção eréctil, que é uma situação disfuncional que precisa ser tratada e existe tratamento para ela. A primeira pode levar à segunda e a segunda pode levar à terceira, por isso, o tempo é sempre um inimigo na resolução do problema.
Pensamentos perigosos
A falha eréctil, seja ela em que circunstância for, é sempre uma experiência negativa. É verdade que tem um peso diferente dependendo do contexto em que acontece. Pode ser devastadora se ocorre no primeiro encontro com uma nova parceira por quem se está perdido de desejo. Como diz o meu mentor, o Dr. Francisco Allen Gomes, só os homens é que se inibem por amor. Gostar muito da parceira pode ser um factor de risco. Quando se gosta, há mais a perder. Pelo contrário, a falha eréctil pode ser apenas desconfortável se acontece numa longa relação de 20 anos numa noite em que se está cansado ou stressado com o trabalho. Considerando assim os diversos contextos e ocasiões, é certo e sabido que a vivência psicológica da falha eréctil pode ser muito difícil e trazer verdadeiro sofrimento para os homens. Quando a ereção se perde ou não se consegue, a cabeça dos homens entra em acção com pensamentos, interpretações e julgamentos. O homem deita as mãos à cabeça e dispara pensamentos em todas as direções. Aqui estão alguns exemplos:
Isto não pode acontecer comigo!
Eu não posso ter medo disto!
Quando mais preciso dela é quando ela me falha. Quando não preciso dela, é quando não tenho problema.
Estou perdido!
Depois do orgasmo dela, ela não está tão demonstrativa e eu sinto falta desse estímulo… e é aí que perco tudo.
Começo a pensar que ela está a apanhar seca e desconcentro-me… e perco-me…
Falhei com ela, não consegui a ereção e não dormi nessa noite.
Outros pensamentos perigosos surgem mesmo antes do encontro sexual ou logo no início da relação sexual. Do tipo, “A última vez correu mal… vamos lá ver hoje… E se hoje também corre mal?”. Estes pensamentos de preocupação geram uma ansiedade de antecipação que é suficiente para atrapalhar a ereção. O medo de falhar é muitas vezes o único responsável pela falha eréctil.
O medo da maldita falha eréctil
O medo de não ter uma boa performance sexual habita o universo masculino. Esta preocupação traz muitas vezes a ansiedade de performance, que é um grande inimigo da ereção. Isto não existe no universo feminino. O equivalente nas mulheres seria a preocupação com a imagem corporal. Na nossa sociedade a masculinidade está muito ligada à função erétil. A socialização sexual é exigente e os rapazes assimilam a ideia de que não podem falhar. Isto explica a facilidade com que surgem os tais pensamentos imperativos do tipo “não pode correr mal… não posso falhar” e a vergonha e embaraço quando falha. São estes pensamentos que originam a emoção de medo, e é o medo que perturba a performance, que por sua vez reforça os ditos pensamentos na vez seguinte. O homem fica assim enredado num ciclo vicioso negativo que dá cabo da sua confiança sexual. O sistema entra em colapso. E até pode piorar, somando outras dificuldades como atrasar ou nem conseguir a ejaculação. Muitas vezes o homem começa a evitar as relações sexuais mas, é preciso enfrentar o problema e procurar ajuda.
Razões para perder a ereção
As causas do problema são multifatoriais. Podem ser biológicas, psicológicas ou relacionais. Algumas doenças e respectivos tratamentos podem perturbar a função eréctil, como a diabetes, por exemplo, entre outras. Pode existir um problema venoso ou arterial no pénis ou uma situação do foro neurológico, mas é mais raro. Estados emocionais negativos como a depressão e a ansiedade também perturbam a ereção, e de novo, os fármacos usados para tratar estas situações. O stress profissional, por exemplo, é outro factor perturbador por si só, bem como os conflitos relacionais com a parceira ou parceiro. Enfim, são apenas alguns exemplos de variáveis duma equação complexa. Uma avaliação clínica é necessária para identificar a etiologia do problema. A melhor notícia é que há tratamentos simples e profissionais de saúde preparados.
Enfrentar e tratar o problema
“Durante muito tempo fechei-me cheio de vergonha, não falei com ninguém”
“Quando falei disto com os amigos percebi que já lhes tinha acontecido”
Ainda há muitos homens que silenciam o problema e não falam com ninguém. A melhor atitude é a contrária. Falar com o médico de família ou procurar um terapeuta sexual o quanto antes. Porque o tempo é um inimigo nesta matéria. Quanto mais tempo passa sem enfrentar o problema, mais este cresce. A dada altura, à dificuldade eréctil soma-se a preocupação com ela e isto alarga o problema.
Os terapeutas sexuais (maioritariamente psicólogos) são os profissionais mais indicados para quando se trata de dificuldades com a função eréctil sem causa biológica. Estes profissionais oferecem ajuda psicológica para dissolver a ansiedade e ultrapassar a dificuldade. Se for diagnosticada uma disfunção eréctil, os tratamentos de primeira linha incluem terapia farmacológica e terapia sexual mas há outras alternativas. Muitíssimas vezes é necessária a intervenção de ambos, do psicólogo terapeuta sexual (consultar www.spsc.pt para a lista de terapeutas certificados pela Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica) e do médico urologista para uma avaliação de ambas dimensões a biológica e a psicológica. Por esta razão eu referencio alguns clientes para o urologista e também recebo doentes referenciados pelo médico. Se o problema é multifactorial, a intervenção também tem de ser multidisciplinar.