A maioria de nós já experimentou a sensação de ir almoçar a locais com comida disponível em buffet e cujos pratos têm dimensões diferentes: nuns casos muito grandes, noutros muito pequenos. No caso dos pratos de dimensões mais reduzidas, temos a tendência de os encher um pouco mais, mas curiosamente não voltamos para repetir numa quantidade de vezes significativa. Por outro lado, quantos de nós exageraram nos pratos maiores, deixando quantidades variáveis de comida para trás?
Neste contexto, foi recentemente publicada na Cochrane Library (CDSR 2015, Issue 9. Art No. CD011045) uma revisão sistemática procurando avaliar os efeitos de intervenções sobre diferentes tamanhos e formatos de porções, embalagens, pratos e copos no consumo de alimentos, bebidas não alcoólicas e alcoólicas, e tabaco, em adultos e crianças. Foram seleccionados 72 ensaios clínicos (que é o desenho mais rigoroso para estabelecimento de uma relação causal) publicados entre 1978 e 2012 e as principais medidas de resultado foram a selecção e o consumo dos produtos mencionados. A grande maioria dos estudos avaliou em adultos intervenções relacionadas com a alimentação e com o tabagismo, mas nenhum com bebidas alcoólicas. Quase metade dos estudos analisou o tamanho das porções, um quinto o tamanho e formato dos pratos e copos e um sexto o tamanho das embalagens.
Os resultados foram curiosos:
– Em 10 estudos com 1164 participantes observou-se que nos adultos (mas não nas crianças) a exposição a porções, pratos e copos de maiores dimensões aumentava a quantidade de alimentos seleccionados, quando comparado com recipientes de menores dimensões
– Observou-se também em 3 estudos com 232 participantes que a utilização de garrafas ou copos curtos e largos – em comparação com garrafas ou copos longos e estreitos – favoreceu a selecção de maiores quantidades de alimentos e bebidas não alcoólicas, e isto quer em adultos, quer em crianças
– Em termos do tamanho no consumo, o grupo a quem foram oferecidas porções, embalagens ou pratos ou copos maiores (58 estudos, 6603 participantes), consumiu mais comida e bebidas não-alcoólicas
– No tabagismo não houve diferenças quando se compararam cigarros curtos com cigarros compridos no consumo total de tabaco (3 estudos, 108 participantes)
– Houve ainda influência na forma dos recipientes em relação ao consumo (1 estudo, 50 participantes): os participantes beberam mais quando comparadas garrafas curtas e largas com garrafas longas e esguias.
Os autores concluem que a população em geral tende a consumir e seleccionar maiores quantidades de alimentos quando estes são oferecidos em porções, embalagens, ou pratos maiores, ou no caso especifico das bebidas não alcoólicas, em recipientes curtos e largos.
Este estudo parece sugerir que os restaurantes (por exemplo com buffet) que apresentam pratos mais pequenos poderão forçar-nos a comer menos e, assim, a ter uma dieta mais equilibrada e menos calórica (espera-se!). É pena que não existam estudos incidindo no consumo de bebidas alcoólicas, uma área particularmente relevante no mundo da nutrição saudável. O mesmo se aplica ao tabaco, em que nada podemos dizer sobre a dimensão dos maços ou dos cigarros individuais.
Não se sabe se a mudança comportamental irá surtir um efeito a nível da obesidade e também não se sabe se este efeito se manterá em relação a porções, embalagens ou pratos cada vez mais pequenos, mas que os resultados são curiosos, lá isso são.
Para que serve esta evidência científica?
Bom, parece que poderá ajudar-nos a decidir melhor e às autoridades de saúde a apoiar medidas de redução da ingestão de bebidas ou alimentos pouco saudáveis através da diminuição das dimensões dos pratos e copos onde são consumidos, já que esta revisão sistemática sugere que a utilização de porções, embalagens ou pratos de menores dimensões estão associados à diminuição da quantidade de alimentos consumidos e, do mesmo modo, copos e garrafas estreitos e longos associados à diminuição do consumo de bebidas não alcoólicas.