A atracção é a percepção de determinado objecto como erótico ou excitante, provocando uma tendência para a aproximação, sedução, ou relação, se não houver a interferência de nenhum inibidor.
O que é que nos faz sentir atraídos por determinadas pessoas? Porquê pelo João e não pelo André? Porquê pela Ana e não pela Rita?
É difícil responder porque a atracção depende de muitos factores, alguns são biológicos, outros psicológicos, e outros são sociais. Os factores determinantes da atracção interpessoal já foram amplamente estudados, pela Psicologia Social, pela Biologia, e pela Antropologia, e os resultados são fascinantes. Cada vez que me sinto atraída por alguém, acabo por me repetir sempre as mesmas perguntas. O que é que me atrai nele? O que me faz gostar? E o que pode fazer desvanecer essa atracção? E o que a faz perdurar?
É porque tem aquele olhar para dentro de mim, ou porque os gestos e aquele corpo prometem intimidade amorosa, ou porque parece interessado e sabe insinuar esse interesse por mim, porque dá sinais de inteligência, porque me faz rir e é expressivo, ou pelo contrário, pela aura de mistério que desponta da falta de expressão. Ou é pelo cheiro da sua pele, inevitável naquele abraço (quando já houve abraço)? Sim, definitivamente o nariz é um actor principal nesta cena da atracção, e é-o de uma forma inconsciente, e nem nos damos conta, ou muito consciente, do tipo, “Eu sei que vou ceder ao desassossego do cheiro da sua pele”. Vejamos várias teorias e um aviso de entrada. Este texto pode parecer heteronormativo mas, o fenómeno que aqui apresentamos acontece entre pessoas, e por conseguinte, contempla todas as orientações sexuais.
A atracção é um processo multi-sensorial
Primeiro, o que diz a biologia evolutiva. Habitualmente, pensamos na atracção como uma coisa que vem do coração, mas efectivamente é o cérebro a processar um conjunto complexo de cálculos em poucos segundos, que é responsável por determinar a atracção. É o cérebro que processa mas, todos os sentidos estão envolvidos. Os olhos são os primeiros elementos na atracção. São procurados os padrões de beleza (daquela sociedade e cultura), bem como sinais de juventude, fertilidade e boa saúde, tais como cabelos compridos e brilhantes, pele macia e sem cicatrizes, cintura e ancas marcadas, e essas coisas indicadoras de capacidade reprodutiva, ou seja, uma boa fémea. Este é o discurso da Psicologia Evolutiva. Quando os olhos encontram algo que agrada, o instinto é aproximarmo-nos para que os outros sentidos possam investigar. De seguida entra o nariz, cuja contribuição é mais do que notar perfumes e colónias. Ele é capaz de captar sinais químicos naturais conhecidos como feromonas. Estas não só transmitem importantes informações físicas e genéticas acerca da sua fonte, como são capazes de originar um estado fisiológico ou uma resposta comportamental no receptor. Num estudo, um grupo de mulheres em diferentes fases do ciclo de ovulação vestiram a mesma t-shirt durante 3 noites. Depois de voluntários masculinos terem sido aleatoriamente escolhidos para cheirar uma das camisolas usadas ou uma não usada, amostras de saliva revelaram um aumento de testosterona naqueles que tinham cheirado uma camisola usada por uma mulher em ovulação. Esse aumento de testosterona pode levar um homem a procurar uma mulher que provavelmente de outra forma não teria notado. Nas mulheres, o nariz está particularmente em sintonia com as moléculas de CPH (Complexo Principal de Histocompatibilidade) que são usadas para combater doenças. Neste caso, os opostos atraem-se. Quando um estudo solicitou a mulheres que cheirassem t-shirts que foram usadas por homens diferentes, elas preferiram o cheiro daqueles cujas moléculas de CPH diferiam das delas. Isto faz sentido pois, genes que resultam numa maior variedade de imunidades podem dar ao descendente uma maior vantagem de sobrevivência. Os ouvidos também determinam a atracção. Os homens preferem mulheres com vozes finas, sussurradas e melódicas, associadas a corpos de menor tamanho. Ao passo que as mulheres preferem vozes graves, uniformes, que sugerem um maior tamanho corporal. Se um potencial parceiro conseguir passar a todos estes testes, ainda há mais um: o famoso primeiro beijo. Uma troca rica e complexa de estímulos tácteis e químicos, tal como o odor da respiração do outro e o sabor da sua boca. Este momento mágico é tão crítico, que a maioria dos homens e mulheres referem terem perdido a atracção por alguém depois de um mau primeiro beijo. Assim que a atracção é confirmada, o sistema sanguíneo é inundado de norepinefrina, que ajuda a manter o foco no objecto de desejo.
A atracção também vem pelo coração
A biologia evolutiva tem sem dúvida muita relevância mas, a atracção também pode ser mais emoção e menos química, ou seja, podemos sentir-nos emocionalmente atraídos por alguém, pelos sentimentos que essa pessoa nos desperta, pelo que nos faz sentir. Contudo, mais tarde ou mais cedo, é inevitável a entrada da orquestra química em todo o seu esplendor.
Vários estudos mostram que os ingredientes essenciais da atracção sexual são diferentes para homens e mulheres. Weinrich (1987) descreve dois tipos de atracção erótica: lust e limerence. A lust é dirigida a um tipo particular de objecto, enquanto na limerence a atracção erótica surge depois de uma atracção emocional. Ou seja, nas mulheres a atracção emocional precede a atracção erótica mais frequentemente, e o contrário é mais frequente nos homens. Por isso dizemos que o desejo sexual das mulheres precisa de um contexto emocional, mais do que o dos homens.
A Psicologia Social também aponta alguns aspectos determinantes na atracção. Tendemos a sentir-nos atraídos por pessoas semelhantes a nós em termos de atitudes e valores, que estão geograficamente próximas, e que nos lembram os nossos pais. Mas existem outras variáveis que influenciam a nossa atracção. Podemos já conhecer a pessoa e manter com ela um contacto regular até que um dia, de repente, sentimos por essa pessoa uma atracção súbita, que não compreendemos bem. E temos duas razões essenciais para explicar isto. Uma, a alteração de disponibilidade dessa pessoa, ou seja, está agora disponível e livre para constituir um potencial parceiro. Outra possibilidade, é essa pessoa manifestar interesse por outra, e ser essa demonstração de interesse ou de desejo que desencadeia a atracção.
Mapas de amor
A atracção pode ainda ser entendida como uma aprendizagem. John Money defendeu a teoria dos mapas de amor (Love Maps), segundo a qual cada pessoa desenvolve na infância o que designa como “mapas de amor” ou esquemas erótico-sexuais. O mapa de amor é uma representação desenvolvida e personalizada no cérebro, que elabora o amante ideal e o repertório de actividade erótico-sexual ideal. Não se trata de uma coisa inata, programada nos genes. Estabelecido e aprendido ao longo da infância e adolescência, é esse mapa de amor que nos faz procurar um determinado parceiro. E é tão personalizado como as impressões digitais.