Passos Coelho reúne na sexta-feira, 9, com António Costa, e tentará puxá-lo para o apoio a um governo de Direita, com margem mínima no Parlamento. Pelo menos para passar o Orçamento de Estado de 2016, porque pensar a mais longo prazo parece difícil, com umas eleições presidenciais de permeio. O principal partido da coligação faz assim o único – não se imagina Passos e Portas e negociar com o BE e o PCP – e derradeiro esforço para constituir governo a partir da maioria relativa que os portugueses lhe deram a 4 de outubro.
Para Costa esta será uma situação difícil. Como muleta da direita, será responsabilizado, à esquerda, por cada posto de trabalho perdido, por cada português que emigrar, por cada cêntimo que seja cortado à segurança social. Quando o governo cair – e cairá -, o PS não terá a vida fácil. Certamente que no Largo do Rato não se esquecerão das eleições de 1997, que nos trouxeram oito anos de Cavaco Silva em maioria absoluta.
Contudo, se o namoro à esquerda passar à fase em que se compram as alianças, António Costa pode ser uma alternativa ao papel de muleta da Direita. O PCP, conta-nos o Público de quinta-feira, deixou cair as exigências de saída do euro, já não pensa na renegociação da dívida e, pasme-se, esqueceu-se do Tratado Orçamental. Tudo para criar uma via verde para António Costa. Não se pode dizer que os comunistas não estejam dispostos a negociar: na verdade, abdicaram de importantes ideias chave que constituem o seu ADN. Ou algo mudou mesmo na Soeiro Pereira ou o PCP prepara-se para engolir sapos, como os de 1986, quando apelou ao voto em Mário Soares na segunda volta das presidenciais.
Na segunda-feira, será Catarina Martins a receber António Costa na sede do BE, na Rua da Palma. No debate televisivo, a líder do BE lançou a Costa um repto para negociar após as eleições, embora tenha traçado linhas vermelhas que condicionavam um possível acordo: o abandono do congelamento das pensões, da descida da TSU e do novo regime de despedimentos proposto no programa do PS.
Costa, que perdeu as eleições, encontra-se agora na posição de fiel da balança. Seja para viabilizar o governo de Passos/Portas ou para liderar um, em alternativa, o PS voltou a ser relevante quatro anos depois da merecida derrota de 2011. É este papel de charneira que mantém António Costa na liderança, depois de ter conduzido o seu partido a uma derrota humilhante, após quatro anos de medidas económicas e sociais duras.
Para garantir a sua sobrevivência política, António Costa precisa de manter o seu partido relevante. Para assegurar a governabilidade, precisa de fazer acordos, à direita ou à esquerda. Costa é hoje o mais crucial líder partidário do país. Raras vezes um perdedor é tão solicitado. Costa é o desejado.