Em 7 de Maio e 9 de Outubro de 1829, na antiga praça Nova das Hortas, hoje praça da Liberdade, foram enforcados, vítimas do absolutismo mas, sobretudo, do torvo ódio miguelista, doze ilustres personalidades afetas ao regime liberal de então: Joaquim Manuel da Fonseca Lobo, Francisco Silvério de Carvalho Magalhães Serrão, Francisco Manuel Gravito da Veiga e Lima, Manuel Luis Nogueira, José António de Oliveira Silva e Barros, Clemente da Silva Melo Soares de Freitas, Vitorino Teles de Meneses e Vasconcelos, José Maria Martiniano da Fonseca, António Bernardo de Brito e Cunha e Bernardo Francisco Pinheiro, estes dez executados no dia 7 de maio; e mais dois: Clemente Morais Sarmento e João Henriques Ferreira Júnior, enforcados no dia 9 de Outubro daquele mesmo ano.
O assunto é tétrico, temos que o reconhecer, mas vamos ter de continuar neste tom mórbido para melhor compreensão do assunto hoje trazido à crónica. Após os enforcamentos, e para total cumprimento das sentenças, o carrasco João Branco cortou as cabeças aos cadáveres a fim de serem expostas, durante três dias, como ordenava o tribunal, diante das casas dos seus familiares mais próximos. A Cordoaria, a Foz e as cidades de Aveiro e Coimbra foram alguns dos locais onde as cabeças dos supliciados estiveram expostas depois de cravadas em altos postos do madeira.
O sistema penal daqueles tempos era aterrador. Diremos mais: feroz e sanguinário com o recurso à tortura, a forcas e a carrascos… Entretanto os cadáveres decapitados, tanto os do dia 7 de Maio como os do dia 9 de Outubro, foram sepultados num terreno que ficava nas traseiras do Hospital de Santo António, onde hoje está o serviço de urgência, chamado o “adro dos enforcados “. Era ali que se enterravam os que morriam nas forcas ou nas enxovias da cadeia. Não tinham direito a serem sepultados nos interiores das igrejas, como era prática da época, porque não era dignos do ir para o céu…
Sete anos depois (1836) após o triunfo do liberalismo, a Santa Casa da Misericórdia do Porto pediu autorização para remover os cadáveres do adro dos enforcados a fim de os colocar num mausoléu e assim prestar justa homenagem aqueles mártires da Pátria. A autorização chegou mas colocou-se então uma questão: em que sitio exato do adro dos enforcados estavam os restos mortais dos doze supliciados? Não foi difícil encontrar uma solução.
O coveiro, um tal Joaquim Manuel ainda era vivo e sabia onde havia enterrados os cadáveres dos mártires da Pátria. Além disso não era difícil identificá-los: eram os que estavam sem cabeça. A exumação fez-se. Os restos mortais dos também chamados mártires da Liberdade foram metidos num mausoléu e levados para o átrio da igreja da Santa Casa, nas ruas das Flores onde estiveram até 1878, ano em que foram solenemente transladadas para o talhão da Misericórdia no cemitério do Prado do Repouso onde ainda se encontram.
Na base da estátua equestre de D. Pedro IV, que está no meio da praça da Liberdade, mandou a Câmara do Porto, em 1914, colocar placas de bronze com os nomes dos doze Mártires da Liberdade gravados.