O campeonato está ao rubro. Depois de já ter estado com sete pontos de atraso em relação ao Sporting, o Benfica chega às últimas nove jornadas isolado na liderança, com dois pontos de vantagem sobre o eterno rival de Lisboa e com seis de vantagem do FC Porto. Quem diria? E quem diria também que a ultrapassagem se iria fazer em pleno Estádio José de Alvalade, perante a equipa orientada por Jorge Jesus?
Há uns meses, quase ninguém arriscaria apostar neste cenário. Recentemente, quando o Benfica recuperou e chegou a estar a par do Sporting, percebeu-se que seria possível, mas logo depois, a derrota, na Luz, perante o FC Porto voltou a revelar uma equipa pouco talhada para jogos grandes, e de cujo treinador os adeptos voltavam a desconfiar. Mas a vitória sobre o Zenit, na Champions League, trouxe de volta confiança e galvanizou a equipa orientada por Rui Vitória. Isto, ao mesmo tempo em que, de tanto desvalorizar a Liga Europa, Jorge Jesus viu o Sporting ser afastado da competição com duas derrotas perante uma equipa, recorde-se, a quem já ganhara. Ele, sozinho, como fez questão de frisar, após a derrota com o Leverkusen em Alvalade, ignorando o facto de ser, na altura da tal vitória na Alemanha, treinador do Benfica. Mas pior do que essas duas derrotas, foi o facto de, todas as poupanças que fez na sua equipa a pensar no único objetivo que é a conquista do título, terem resultado, desde então, em apenas uma vitória sobre o Boavista e um empate em Guimarães.
E foi neste cenário que o Benfica foi a Alvalade vencer, num jogo em que entrou melhor, confiante, mandou e carregou até chegar ao golo. Depois, soube controlar a situação. Com alguma sorte, é verdade, apanhando uns quantos sustos, mas conseguindo segurar a vantagem até ao fim. E por muito que Jesus se queixe de que “a melhor equipa perdeu” e que o Benfica “jogou como equipa pequena”, a verdade é que, por culpa própria, o Sporting se vê, em duas jornadas, na condição de ter de esperar por uma escorregadela de um adversário que saiu de Alvalade líder isolado, com a certeza de que só depende de si próprio para se sagrar tricampeão nacional.
A tarefa não é, contudo, fácil. Bem pelo contrário, sobretudo se a humildade e o espírito de sacrifício que presidiram à recuperação forem trocados pela euforia e a bazófia. Mesmo já não tendo pela frente nenhum dos adversários diretos, a verdade é que as receções ao magnífico Sporting de Braga e ao Vitória de Guimarães serão de grau de dificuldade máximo, bem como as deslocações a Vila do Conde e à Madeira, para defrontar Rio Ave e Marítimo, respetivamente. É verdade que o Sporting, tem um calendário teoricamente mais difícil, sobretudo porque lhe ainda lhe faltam as deslocações aos terreno do FC Porto e do Sporting de Braga. E, já agora, vários jogos em casa, onde, esta época, já perdeu bastantes pontos de forma inesperada. Mas este campeonato já teve tantas peripécias que quem der o título por garantido em março corre o sério risco de o ver escapar em maio.
É, portanto, muita a água que ainda vai ter de correr por baixo das pontes, antes de se perceber quem vai, afinal, celebrar a conquista do título. Mas há uma conclusão que pode, desde já, tirar-se. A de que falhou a teoria de Jorge Jesus de que não precisa de mais ninguém para ser campeão. E de que, afinal, ter a tal “estrutura” pode ser determinante para ganhar campeonatos. Porque não são um treinador, por melhor que seja, e um presidente, por mais posts que faça no Facebook, que podem ganhar sozinhos