Há um provérbio popular que se aplica como uma luva a quem vive muito intensamente o fenómeno do futebol: “Não cuspas para o ar que te pode cair na cara”. Lembro-me dele sempre que vejo os festejos de quem, a meio do campeonato, vai à frente mas ainda não ganhou rigorosamente nada. Desta vez, calhou aos sportinguistas.
Em menos de uma semana, foi mesmo o céu que lhes caiu na cabeça. Depois de meses de euforia, muito por culpa das três vitórias sobre o eterno rival Benfica, a quem tinham roubado o treinador no verão, eis que chegaram os primeiros socos no estômago. Primeiro, foi o Sporting de Braga, a eterna besta negra dos tempos benfiquistas de Jorge Jesus, a afastar o Sporting da Taça de Portugal. Depois, foi o União da Madeira, que dias antes com o empate a zero parecia ter arredado o Benfica da luta pelo título. Mesmo sem rematar à baliza (“foi um cabeceamento”, esclareceu Jesus), o modesto 14º classificado venceu os leões e retirou-lhes a possibilidade de virar o ano no primeiro lugar da tabela. Finalmente, o Tribunal Arbitral do Desporto veio dar razão à Doyen, num processo em que aquele fundo exige ao Sporting uma verba na ordem dos 12 milhões de euros relativos à transferência de Marcos Rojo para o Manchester United.
É por estas e por outras que isto do futebol apaixona tanta gente. Até porque mesmo quando o nosso clube não vai lá muito bem, pode haver sempre um rival a dar-nos grandes alegrias. De repente, os “tripeiros” que já não podiam com as invenções de Lopetegui, chegam ao Natal isolados no primeiro lugar. Ao mesmo tempo, os “lampiões” que já não acreditavam (e provavelmente continuam a não acreditar) que, com Rui Vitória, fosse possível ganhar alguma coisa esta época, acabaram por ganhar uma alma nova. E os “lagartos”, que já tinham deixado de o ser para passar a ser “sapos” por serem verdes na mesma mas andarem inchados, aconteceu-lhes o que acontece à maioria dos sapos que incham: rebentaram.
O que vale é que isto ainda só vai a meio e, como já dizia Jorge Jesus na sua imensa sapiência, “isto interessa é como acaba e não como começa”. Preparemo-nos, pois, para um ano novo de emoções, em que para passarmos de bestas a bestiais (e vice-versa) basta um remate. Ou um cabeceamento, vá.