A Medicina Veterinária há muito deixou de ser apenas a ciência dos consultórios onde se tratam cães e gatos. É um campo do saber e da prática que, apesar de muitas vezes remetido ao silêncio dos bastidores, tem um papel absolutamente central no funcionamento das sociedades modernas. A veterinária não anda de coleira; é livre, interdisciplinar e indispensável.
Num mundo onde as fronteiras entre a saúde humana, animal e ambiental se tornam cada vez mais ténues, os médicos veterinários assumem funções cruciais que vão muito além da consulta de rotina. São eles que, discretamente, garantem a segurança dos alimentos que chegam à nossa mesa, através do controlo sanitário nas cadeias de produção e distribuição. São também sentinelas da saúde pública, ao intervirem na prevenção e controlo de zoonoses – doenças que passam dos animais para os humanos – como a raiva, a leptospirose ou a gripe aviária.
A sua atuação no terreno é apenas uma parte de um universo muito mais vasto. A investigação científica em Medicina Veterinária tem contribuído significativamente para avanços na biotecnologia, prevenção e controlo de zoonoses, saúde pública, desenvolvimento de vacinas, tratamentos mais eficazes e diagnóstico precoce, onde muitos estudos em modelos animais têm permitido melhorias na saúde humana. Este conhecimento, construído com rigor e ética, é um alicerce para a inovação em várias áreas do saber.
Também no domínio do bem-estar animal, a veterinária ocupa uma posição de liderança. A crescente consciencialização social para os direitos dos animais tem sido acompanhada, e em muitos casos impulsionada, pelo trabalho dos profissionais veterinários, que lutam por práticas mais humanas na pecuária, na ciência e no tratamento de animais de companhia. São vozes ativas na defesa daqueles que não têm voz.
Importa ainda reconhecer o papel dos veterinários em contextos de crise, em cenários de catástrofe ambiental, conflitos armados ou surtos pandémicos, são frequentemente chamados a agir em nome da proteção das populações, humanas e animais. A crescente valorização do conceito One Health, que integra a Saúde humana, animal e ambiental, reforça a importância de um trabalho colaborativo onde a Medicina Veterinária é uma peça-chave.
A resposta a todos estes desafios começa na formação. O ensino da Medicina Veterinária tem vindo a evoluir, acompanhando as exigências da sociedade e da ciência. Um bom exemplo disso é o ensino moderno, modular, integrado, intensamente prático e especializado que caracteriza o curso de Medicina Veterinária da Egas Moniz, assim como o lançamento do novo Mestrado em One Health, que vem reforçar a aposta numa formação especializada, capaz de preparar profissionais para contextos cada vez mais complexos e multidisciplinares e para resolver os desafios globais da saúde animal, humana e ambiental.
Reconhecer a Medicina Veterinária é, por isso, muito mais do que valorizar uma profissão. É afirmar um compromisso com a vida, em todas as suas formas. É olhar para uma ciência que se move com liberdade, que se adapta, que pensa o futuro: uma ciência que não anda de coleira porque está na linha da frente, mesmo quando não damos por isso.
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