Nesta importante efeméride anual do Dia Mundial da Saúde, é especialmente relevante refletir sobre o papel dos médicos na saúde e como os preparamos para tal. O papel mais conhecido e visível dos médicos é aquele de tratar doenças, e é para isso, em momentos pontuais, que são procurados. No entanto, com o aumento progressivo da longevidade, particularmente no mundo ocidental, importa tomar medidas que permitam o mais possível que os cada vez mais longos anos de vida sejam anos de saúde. Isto também ajudará a reduzir os custos cada vez mais altos da prestação de cuidados, que absorvem dinheiro que podia ser utilizado em outras áreas fundamentais.
Lembremo-nos da definição de saúde proposta pela OMS: um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças ou enfermidades. E este resultado obtém-se através duma abordagem que inclua todos os aspetos do doente, desde a prevenção de doenças e complicações ao acompanhamento psicológico e emocional dos doentes, especialmente relevantes para o tema deste ano de saúde materno-infantil: inícios saudáveis, futuros com esperança. Devemos realinhar a nossa atenção a estes aspetos e não só aos tratamentos de doenças que já se instalaram.
Os dois métodos mais usados na prevenção de doenças são a adoção de estilos de vida saudáveis, sejam eles alimentares, de atividade física ou estímulo intelectual, e a deteção precoce de doenças ou fatores de risco que possam resultar em doenças. Neste contexto, o médico tem um papel claro e central. Permite personalizar os conselhos de estilo de vida com os quais somos bombardeados diariamente pelas mais variadas fontes; intervém para modificar fatores de risco para doenças, prevenindo assim a sua instalação e subsequentes complicações; e age perante a deteção precoce doenças, obtendo assim melhores respostas a tratamentos. Deste modo, o médico pode promover a saúde de uma forma individualizada, tendo em conta cada aspeto da saúde da pessoa.
Como preparamos todo um grupo profissional que se foca, naturalmente, em resolver os problemas que os doentes lhes apresentam, a incluir esta promoção de saúde na sua prática do dia-a-dia?
O primeiro passo passará por redefinir aquilo que é ensinado nas Faculdades e o tempo e ênfase investido nas atividades de promoção de saúde. Para além disso, a inclusão dos alunos em ações de rastreio e aconselhamento desde cedo dá um corpo prático e aplicado àquilo que é ensinado na sala de aula. Com o tempo e a prática, esta atividade de promoção de saúde passará a fazer parte tão natural do ato médico como a auscultação do coração.
Mas não podemos descurar e papel central que um médico pode ter no bem-estar mental e social daqueles ao seu cuidado. O médico é muito mais que um bom técnico, conhecedor profundo do corpo humano. A sua vocação é acompanhar os seus doentes na saúde e na doença, apoiando e guiando, promovendo também o bem-estar mental e social. Aqui torna-se essencial dotar os jovens médicos de competências que lhes permita ter esta atitude, comunicando de modo profissional, mas empático, dando notícias difíceis de modo que os doentes se sintam acompanhados e amparados. Mais uma vez, é através da exposição a experiências e atividades em contextos reais que os médicos podem aperfeiçoar estas competências.
Nos nossos esforços em preparar médicos para o futuro, devemos reajustar o foco para aquele que sempre foi o centro da vocação médica: o doente. Com este objetivo e uma preparação prática e contextualizada dos desafios no mundo da saúde, podemos realmente educar profissionais que promovam o bem-estar físico, mental e social dos seus doentes.
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