Enquanto alguns se deliciam a discutir a importância do 25 de novembro de 1975 e do 25 de abril de 1974, a Democracia que tanto se desejava e obteve (graças aos militares) está neste momento ferida de morte e o país começa a ter laivos de terceiro mundo.
Bem sei que Paul Krugman, Nobel da Economia, considerou recentemente, e bem, que “Portugal é uma espécie de milagre económico”. Mas, parece-me que se esqueceu de olhar para o todo e para as consequências desse mesmo milagre económico. Gerir um país através de cativações tem consequência sociais no curto/médio prazo. E, em Portugal essas consequências já estão a conduzir o país para modelos sociais que começam a lembrar os tercermundistas, para uma Democracia que deixa de confiar nas suas instituições, que estão feridas de morte e a ter sombras de um certo anarquismo.
Começa a ser difícil ao cidadão comum acreditar nas mensagens que a classe política diariamente faz passar. São mensagens ocas, que em nada correspondem às necessidades do país real. Um país onde diariamente as grávidas acordam sem saber onde e como irá nascer o seu filho. Onde o cidadão de um Estado laico tem de rezar diariamente (acredito que quem vive no interior passou a rezar o Rosário em vez do Terço) para terminar o dia com saúde. Onde quem precisa de saúde tem de ir dormir à porta da USF ou passar dias numa urgência hospitalar a aguardar para ser observado. Onde o cidadão comum aperta a família para poder alugar o quarto que até então era dos filhos e assim poder ter folga orçamentar para honrar os seus compromissos. Um país onde em cada semana somos “brindados” com nova investigação a uma ou várias instituições. Esta semana chama-se “Operação Gota D´Água” e tem a ver com falsificação de análises de água destinada ao consumo humano.
Escrevo este texto na véspera do 25 de novembro de 2023 e pergunto-me: Como chegámos aqui? Como é possível termos arrepiado tanto caminho percorrido? O que fazer para voltar ao ponto de desvio, incluindo nos Açores onde o governo está em risco de cair? Até quando vamos manter o nosso descrédito nas instituições?
É urgente retomar o ideal da Liberdade e por isso nunca é demais recordar as palavras de Salgueiro Maia, a quem presto homenagem nesta véspera do dia 25 de novembro: “Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou! Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos”.