A 14 de abril, Elon Musk anuncia que quer comprar o Twitter por $54.20 a ação, oferta essa que é aceite dia 25 do mesmo mês. Em julho, Musk volta atrás e procedimentos legais começam em marcha de ambas as partes, mas agora, dias depois do início do julgamento ter sido adiado (estava previsto começar dia 17 de outubro), Elon Musk é oficialmente o dono da App do passarinho azul.
Já em abril tinha escrito sobre o Elon Musk e a compra do Twitter, mas se na altura levantava mais questões do que as respondia, agora começamos a levantar o véu. No fim de setembro foram reveladas algumas mensagens entre Elon Musk, pessoas relacionadas com o Twitter (como Jack Dorsey, um dos co-fundadores da app), e vários “amigos” ricos sobre a sua aquisição do Twitter. As mensagens redatadas podem ser lidas aqui, mas deixo-vos algumas pistas sobre o que estas dizem.
Entre as várias mensagens de amigos a incentivar a compra do Twitter porque “it will be fun”, a sugerir pessoas para cargos de direção da empresa ou mesmo a pedir emprego, surgem algumas mensagens que apontam para o que Elon Musk quis e quer fazer com a plataforma.
Em primeiro lugar, já se começam a ver ensaios para a edição dos tweets que é uma funcionalidade que Musk revela querer de forma muito direta nas suas mensagens. A nível técnico também se tem falado muito no combate aos bots e, além disso, as mensagens sugerem uma possível integração das mensagens privadas do Twitter com a app Signal para melhorar a sua encriptação.
São muitas as sugestões que os amigos de Musk lhe fazem chegar, como a redução significativa dos termos e condições – mas que devem manter a não divulgação de pornografia ilegal, o que leva o autor da mensagem a enviar um “reverse smile” emoji. Contudo, apesar de Musk ter dito no dia em que comprou a app que não o fez para fazer dinheiro, mas para tentar “help humanity, whom I love“, o foco das mensagens é em grande parte como monetizar a app:
· Melhorar o produto “Twitter blue” e criar pagamentos anuais para membros de $50 a 100 ou $10k para empresas – ao que Musk responde “you are a mind reader”;
· Pagar $0.01 por seguidor por ano e permitir mandar mensagens diretas a todos os seguidores de uma só vez – opção que traria o “Justin Beaver” de volta para o Twitter para estar em contacto com as suas fãs de acordo com quem sugeriu a ideia;
· Recuperar market share ao Tiktok criando novas ferramentas de edição de vídeo na app – ideia que foi rejeitada por Musk porque o Twitter não permite monetizar vídeos “yet”.
· Tornar a app blockchain-based, em que os tweets são comentários nas transações e o utilizador teria de pagar $0.01 Dogecoin (uma criptomoeda associada a Musk e cujo valor aumentou 30% desde segunda-feira com o aproximar do acordo sobre o Twitter) por cada comentário ou repost – ideia que foi descartada por motivos técnicos da ordem de grandeza da plataforma.
Por último, desengane-se quem acha que a aquisição do Twitter por parte de Elon Musk é uma ação puramente de negócios e não política. Embora entre as mensagens Musk diga que o Twitter não se tornará uma “right wing nuthouse” (só o facto de o ter de dizer levanta suspeitas), também se encontram mensagens como as de Joe Lonsdale a dizer que as decisões de censura na app atualmente não devem passar todas pelo Board para que os “lefties” possam ter “plausible deniability”. Há também mensagens sobre como políticos dos EUA – como Ron DeSantis, o governador Republicano da Florida que é um dos potenciais candidatos à Casa Branca em 2024 – querem entrar em contacto com Musk sobre a sua intenção de comprar a app.
Elon Musk, nas primeiras horas como dono do Twitter Inc, despediu vários executivos – incluindo Vijaya Gadde, a top Twitter legal and policy executive, que foi em grande parte responsável pela expulsão da conta de Donald Trump da app – e tweetou “The Bird is Free” (o pássaro está livre), aludindo ao logo do Twitter. Mas estará o pássaro mesmo livre, ou mudou só de jaula?
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.