Por se terem esgotado, mais por excesso de oferta do que por falta de procura, em abono da verdade, o discurso e o argumentário assente na discriminação do pequeno comércio e da inexistência de politicas públicas vocacionadas para o setor estarão fora de moda.
Efetivamente, sempre se terá tratado de conversa pouco escorreita que nunca foi moda, seja do ponto de vista da teoria estatística, seja da sua evidente falta de … modernidade. Longe de se poder classificar como retórica atrasada no tempo, o facto é que chegou tarde demais, perdurou em demasia … atrasou-se em relação ao “seu tempo”!
Os Mercados Municipais eram vistos como polos desestabilizadores do comércio local, fosse pela própria concorrência comercial que exerciam, fosse pelo “desordenamento” urbano-comercial que provocavam, fosse, ainda, pela proliferação da venda ambulante que geravam ao seu redor ou, ainda, por outras maleitas sociais que pareciam sustentar.
Dir-se-á que, hoje, as coisas estarão diferentes e, efetivamente, estão.
O Comércio “abriu- se” aos comércios, tendo-se apercebido que o comércio só pode ser aquilo que … a procura quiser viver, valorizar e … comprar/consumir.
Se pudermos ver, se quisermos olhar e se repararmos bem, a realidade atual dos Mercados Municipais, do ponto de vista do comércio, que é o foco desta breve reflexão, é algo dispare do que muitos vêm apregoando!
Hoje, num Mercado Municipal, a banca do “peixe fresco” faz mais negócio, vende melhor, fatura mais numa manhã de sábado de princípio de mês, do que boa parte das lojas da Rua do Comércio em vários dias da semana, incluindo o sábado, em que, alguns, até estão … encerrados!
Num outro Mercado Municipal, o talho das “carnes e enchidos nacionais” chega a ter sábados bem mais rentáveis do que aquilo que alcançará uma boa dúzia e meia das lojas mais antigas dos mais diversos ramos da Baixa Comercial (contabilizando-se as “entradas de caixa” em conjunto).
Nesse mesmo ou noutro Mercado Municipal, para o caso pouco importará, e sem desprimor pelo “sub-setor” dos Mercados que tantas vezes parece querer esgrimir argumentos para se “auto-ostracizar”, ainda mais que o próprio setor do Comércio, a banca das “frutas, legumes e hortaliças”, hoje renascida em resultado das novas lides de uma agricultura local, biológica e saudável, ombreia com as mercearias, minimercados e estabelecimentos afins, vendendo muito, mais e melhor do que estes e, acima de tudo, ganhando a confiança dos fregueses.
Mas porque o comércio é muito mais do que vender, comprar e consumir, começa-se a verificar, por enquanto sem qualquer base estatística, que circulam mais pessoas no interior do Mercado Municipal, em determinados dias da semana e a certas horas do dia, do que aquilo que circulam na Rua Direita (a tal dos comércios) e artérias adjacentes durante quase uma semana inteira.
Por fim, tem-se tornado mais do que evidente que no(s) dia(s) ou no período do dia em que o Mercado Municipal está encerrado, os comércios, ditos de rua, instalados na Baixa, nas imediações do Mercado, registam um decréscimo assinalável de procura, sendo que a circulação pedonal de pessoas e automóveis também decresce.
Em suma, constatar que o comércio dá vida às cidades já não constituiria grande descoberta, no entanto, poucos serão os exemplos de planos de revitalização do centro da cidade assentes em tal premissa, isto é, considerar o comércio, e tendo em consideração os Mercados Municipais.
Será que o Mercado Municipal, seguramente a maior “loja” instalada no centro da cidade, na Baixa e/ou no centro histórico, não merecerá outro tipo de destaque e protagonismo, seja ao nível do seu papel na economia local, seja em termos da sua importância na promoção e dinamização dessas zonas urbanas centrais?
Dado que o plano A (regeneração urbana do centro versus revitalização do comércio de proximidade) terá, em tantas situações, simplesmente, falhado no que à vertente comercial diz respeito, por omissão, inação ou simples desconsideração, talvez comecem a vislumbrar-se no horizonte os potenciais méritos de um plano B.
Não é apenas preciso querer estudar, é bem mais preciso crer naquilo que se estuda!