Que Rio cometeu muitos erros, eis o que parece ser pacífico. Deixo a sua enumeração para a “noite das facas longas” com que se divertirão, doravante, os barões do PSD. Centro-me no que pode parecer menos óbvio, até porque, ao contrário do que subitamente toda a gente afinal sempre soube, continuo convencido de que Rio não fez tudo errado. E uma das intuições que ele sempre teve e em relação à qual estava certo era a de que as eleições se ganham ao centro. Se dúvidas houvesse, basta atentar num facto: cerca de 70% dos eleitores escolheram os dois partidos centristas do nosso regime (PS e PSD). É um facto extraordinário ao nível europeu que, por ora, não interessa qualificar, mas apenas registar. Com este panorama, é quase absurdo sustentar que é possível ganhar eleições sem conquistar uma parte significativa do centro político.
Mas vou mais longe. Não foi o centro que escapou a Rui Rio. Atente-se, para perceber isto, noutro facto: o PSD alcançou, em termos percentuais, praticamente o mesmo resultado do que em 2019. Ora, num contexto em que os partidos à direita do PSD conquistaram uma importante fatia do eleitorado (mesmo contando com a implosão do CDS), é evidente que essa manutenção do resultado de 2019 só é possível porque o PSD conquistou espaço no centro, à direita do PS.