Numa visita ao centro de vacinação de Odivelas, o vice-almirante Gouveia e Melo, coordenador da task force para o Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19, foi inesperadamente barrado por um pequeno, mas aguerrido, grupo de “ativistas” antivacina, que gritava a palavra de ordem “assassino, assassino!”. Com fleuma e alguma bravata, Gouveia e Melo fez questão de atravessar por entre o grupo contestatário e, lá dentro, afirmou que sairia, de novo, pela mesma porta: “Medo, eu? Medo de quê?”. A atitude de desafio de Gouveia e Melo, perante o que chamou, apropriadamente, “obscurantismo”, é talvez uma das formas de desarmar a ignorância arrogante dos negacionistas.
E o episódio fez lembrar outro, ocorrido na campanha para as presidenciais de 1976, quando o candidato apoiado por PS, PSD e CDS, general Ramalho Eanes, cuja caravana fora barrada por manifestantes afetos ao PCP e à extrema-esquerda, subiu para o tejadilho da sua viatura e, de pé, de mãos nas ancas e olhar destemido, percorreu, muito devagar, por entre a multidão – essa, sim, numerosa… – o pequeno percurso que havia de conduzi-lo ao local do comício. Lá chegado, mandou os manifestantes “irem trabalhar”. Faltou a Gouveia e Melo esta cereja no topo do bolo. Preferiu, com toda a calma e pedagogia, responder que “o vírus é o verdadeiro assassino e o obscurantismo pode ajudá-lo”.