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Lisboa, 25 Mar (Lusa) – Especialistas no mercado da produção de moedas e medalhas consideram que a actual crise financeira veio acentuar a queda de um sector da escultura já de si “envelhecido”.
O presidente do Conselho de Administração da Imprensa Nacional – Casa da Moeda (INCM), Estêvão de Moura, defendeu à Lusa que “o mercado da medalhística tem vindo a decrescer nos últimos anos em volume de negócio”.
A medalhística, sublinha, é uma “arte pela qual hoje se luta quase pela continuidade”.
O responsável reforçou que a medalhistica e a numismática, ciência que trata das moedas e medalhas, “vivem muito dos coleccionadores”, sendo evidente uma “perda de interesse” na área por parte das novas gerações.
“Antigamente – prossegue Estêvão de Moura – o coleccionismo fazia-se por gosto, mas também para aforro e investimento em produtos que se sabia que a longo prazo eram fortemente recompensadores. As crises económicas também têm feito deslocar o interesse das pessoas para produtos mais imediatos e menos para estes produtos de baixa reputação em termos patrimoniais”.
O administrador da INCM falava à Lusa na apresentação de uma exposição do colectivo Anverso/Reverso, formado por seis escultores, e que apresenta até Outubro uma exposição colectiva de moedas e medalhas nas instalações daquela instituição.
Helder Batista, mestre do colectivo, foi durante 33 anos professor na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, hoje Faculdade, sendo o grupo Anverso/Reverso constituído pelo próprio em simultâneo com antigos alunos, casos de José Simão, José Teixeira, Maria João Ferreira e Vitor Santos. A estes, junta-se para a exposição na INCM José João de Brito, escultor formado no Porto.
A escultora Maria João Ferreira, com obras presentes na mostra, reconheceu à Lusa que os efeitos da crise são sentidos por “todos”.
“Concursos públicos existem cada vez menos, encomendas existem cada vez menos, a crise sente-se muito e a cultura é uma área que é afectada à partida”, sublinha.
No que refere à produção de medalhas, a artista defendeu à Lusa que o “fundamental é nunca esquecer o que é uma medalha, a sua escala, finalidade, e nunca esquecer que é um objecto reproduzível”.
As moedas e medalhas portuguesas têm nos últimos anos recolhido diversos prémios internacionais, inclusive no congresso bienual da Fedération Internationale de la Médaille d’Art (FIDEM), cujo próximo decorrerá em 2010 na Finlândia.
José Simão, do grupo Anverso/Reverso e também com obras na exposição no INCM, reconhece que actualmente o mercado de coleccionadores “não está tão bem como nos anos 70 e 80, mas continua a haver interesse de instituições e empresas”.
As medalhas e moedas têm tradicionalmente uma componente de comemoração de efemérides, “se bem que haja muitas medalhas de autor, que visam precisamente o inovar nos materiais, os processos de criação”, sublinhou o escultor.
“A INCM tem uma longa tradição na emissão, fabrico e comercialização de moedas e medalhas, que celebram o património, a história e os vultos mais importantes da cultura portuguesa e internacional”, refere uma nota da INCM acerca da mostra.
As peças expostas na exposição, acrescenta o texto, “foram maioritariamente produzidas e emitidas ao longo dos anos pela INCM, no âmbito da sua actividade, e representam uma pequena parte, mas muito importante, do seu acervo numismático e medalhístico”.
PZF/AMN.
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