Gosto de imaginar as grandes cidades como portas que abrem para muitos outros lugares, pequenos ou grandes, solares ou o seu oposto. Em Madrid, na Fundação Mapfre, neste preciso momento, está aberta uma janela a partir da qual se pode ver Paris. Melhor ainda: uma Paris de lenda, boémia, algo canalha e incrivelmente romântica que se perdeu no redemoinho do tempo e em sucessivas renovações urbanísticas. Essa janela tem um título “Eugène Atget. El viejo Paris” e é uma exposição patente até 27 de agosto, composta por mais de duas centenas de fotografias, criteriosamente selecionadas a partir de um fundo de 4 mil peças, procedentes das coleções do Museu Carnavalet de Paris ou da George Eastman House, em Nova Iorque). Eugène Atget (1857-1927), por muitos copiado e por outros tantos considerado o precursor da fotografia documental, foi o primeiro homem da sua arte a atribuir dignidade estética à paisagem urbana e aos seus (frequentemente desconcertantes) protagonistas. Andou a espreitar pelos vãos de escada mais obscuros e deslumbrou-se com escadarias monumentais, quedou-se nos lugares de fruta, nas feiras, nos carrosséis, nos armazéns e nos bordéis. Mostrou as glórias monumentais da França, mas encontrando-lhes sempre uma fragilidade trágica ou um lado mais onírico do que real. Modesto o bastante para acreditar que não fazia escola, foi um dos grandes inspiradores dos artistas surrealistas.
Teremos sempre Paris
Foi um dos pais fundadores da Fotografia Documental e concedeu uma importância nova à paisagem urbana e seus protagonistas. O francês Eugène Atget e seu legado são recordados em Madrid
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