O solene edifício da Biblioteca Nacional de Espanha, no coração de Madrid, foi bruscamente “invadido” pelas imagens de risonhas raparigas tomadas pela coquetterie. Sob a autoridade literária de Cervantes ou Tirso de Molina, elas empoeiram o corpo com pós aromáticos ou devolvem aos cabelos a cor primitiva. Chocante, dirão os mais puristas habitués daquela casa, mas a exposição.
El arte de la belleza, visitável até 5 de junho, oferece uma preciosa seleção de mais de duzentas peças de materiais gráficos (revistas, gravuras, desenhos e fotografias, etiquetas, embalagens, discos e partituras, cartazes e impresos publicitários relacionados com o fabrico, a imagem e a publicidade da industria e da arte da perfumaria) ao longo dos séculos XIX e XX. Complementarmente, a BNE contextualiza estes materiais provenientes das suas coleções com uma abordagem da História da imagen, do desenho e da publicidade dos produtos de beleza, ao mesmo tempo que mostra o impacto que as campanhas publicitárias começaram a exercer nos hábitos de consumo da sociedade. Para além do valor histórico destes testemunhos, a exposição
El Arte de la belleza tem o mérito de mostrar que, quase sempre por razões de sobrevivência, grandes artistas plásticos trabalharam para a indústria da beleza. Num brillante ensaio, incluído no catálogo da exposição, Francesc Fontbona recorda a importância dessa colaboração: “Voltando ao círculo dos produtos de beleza e de toucador, diversos artistas mais ou menos conhecidos trabalharam ocasionalmente para a sua publicidade ou embalagens. Eulogio Varela Sartorio, o desenhadar Art Nouveau mais destacado do círculo madrileno, trabalhou para a Perfumaria Inglesa de Madrid em 1901. Francisco de Cidón desenhou para a Perfumaria Ladivfer de Barcelona em 1903. (…) Artistas preferencialmente dedicados à arte pura, a que se difundia nas galerias de arte, também foram chamados a colaborar na publicidade de perfumaria e cosmética.”Comissariada por Rosario Ramos, a exposição articula-se em torno de cinco grandes seções: o fabrico do produto de beleza a partir de una seleção de matérias-primas necessárias para a sua elaboração; o desenho das etiquetas e embalagens por ilustradores gráficos; os diferentes suportes utilizados para a publicidade dos mesmos con o objetivo de incitar ao consumo; os estabelecimientos como lugares de venda e comercialização; e, por último, o uso do producto de beleza, através de uma imagem de elegância, refletida nas campanhas publicitárias dos aromas e perfumes. Um toque de sedução atravessa os corredores da Biblioteca Nacional como a cauda de um vestido de veludo. E ficamos a saber que deixou de haver fronteiras para o conhecimento. A suposta futilidade deixou de ficar à porta das grandes instituições culturais espanholas..
O toucador na Biblioteca Nacional
A suposta diferenciação entre artes maiores e menores está a ser esbatida na Biblioteca Nacional de Espanha. Na exposição
El Arte de la Belleza, a História Visual da cosmética convive pacificamente com os grandes clássicos da Literatura