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Não escolheu ser professora, decidiram por ela. “O meu pai achava que uma mulher só devia ser ou enfermeira ou professora, então, tive que seguir a escolha dele”, conta Manuela Castro Neves, soltando gargalhadas, feliz pelo destino que lhe foi traçado. E, para que não restem dúvidas, conclui: “Gosto mesmo de trabalhar com miúdos”. Natural do Ribatejo, iniciou aos 18 anos uma carreira de mais de 4 décadas como professora do 1º ciclo. Da primeira aula, numa escola no Vale de Santarém, lembra-se de sentir um “grande susto”, do qual tirou uma lição para o resto da vida: é preciso trabalhar muito em casa e preparar bem as aulas para dar tudo certo. Lecionou, depois, no concelho de Salvaterra de Magos até casar e ir viver para Lisboa, onde, após passar por algumas escolas, se fixou na EB1 Manuel Beça Múrias, em Oeiras.
Manuela Castro Neves diz nunca ter sido uma professora “tradicional”, mantendo-se sempre atenta a novas práticas pedagógicas que pudessem “cativar mais os meninos, ouvir e seguir mais os seus interesses”. Tanto procurou que, no final da década de 60, encontrou o Movimento da Escola Moderna (MEM), uma Associação de Professores e outros Profissionais da Educação, formalizada em 1976, que promove a integração dos valores democráticos na vida das escolas. A pouco e pouco, foi integrando nas suas aulas as práticas e o modelo pedagógico do MEM, que, segundo a professora, distingue-se do tradicional, sobretudo, por “partir dos interesses das crianças”. E explica, em resumo: “Por um lado, os alunos são responsáveis pela gestão dos conteúdos escolares, no sentido em que há um programa para ser cumprido e eles participam na sua planificação; por outro, são também chamados a gerir os conflitos, pois há um ‘Diário de Turma’ no qual registam os incidentes positivos e negativos que, depois, são discutidos”.
No entanto, decorria ainda o regime ditatorial e não era fácil adotar uma pedagogia alternativa na Escola Pública. Foi, então, que, em 1972, Manuela Castro Neves e um grupo de pais, descontentes com o ensino público, montaram uma escola de jardim-de-infância e 1º ciclo, o Externato Alameda, em Oeiras. Aqui, pôde implementar de forma mais alargada o modelo pedagógico do MEM, o qual veio a nortear todo o seu percurso profissional. “Eu era a diretora, havia mais quatro professoras, e os pais faziam toda a gestão da escola, desde o trabalho de secretaria até ao transporte dos meninos”, recorda. Uma ‘aventura’ em nome dos filhos, das crianças e de um ensino livre, que, para Manuela Castro Neves, terminou com a Revolução, em 1974, quando decidiu regressar à Escola Pública para dar o seu “contributo”.
Paralelamente à carreira na escola primária, desenvolveu trabalho na formação de professores em Língua Portuguesa e Matemática, bem como uma série de projetos em torno da relação entre a escola e famílias de baixa literacia, e da promoção do sucesso escolar em zonas ‘problemáticas’. Mas é quando fala da vida na escola, junto das crianças, que se enche de entusiasmo e que as palavras se tornam mais emotivas. “Agarrar num grupo de meninos do 1º ano e vê-los crescer do ponto de vista das aprendizagens é uma experiência quase de milagre: é deslumbrante, lindíssimo”, desabafa. Para Manuela Castro Neves, o entusiasmo é, de resto, um “belíssimo ponto de partida” para se ser um bom professor. Além disso, preza, entre outros valores, a capacidade de reflexão, o afeto, o sentido de justiça e a competência técnica.
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São, precisamente, aqueles princípios que encontramos no livro que acaba de lançar, Não os desiludas, uma seleção de 37 histórias vividas no quotidiano escolar, ao longo da sua carreira. O ‘formato’ não é, todavia, inédito: já em 2006, Manuela Castro Neves havia publicado um outro conjunto de episódios intitulado Da Vida na Escola. É que para si, escrever é uma forma de refletir sobre as experiências passadas e de aprender com as suas falhas e vitórias. Por outro lado, acredita na “capacidade interpelativa das histórias” e na sua utilidade enquanto instrumento pedagógico, sobretudo, para os professores que estão a entrar na profissão.
Em Não os desiludas, são muitas as narrativas de momentos felizes junto dos alunos, como ‘Passo a Passo’, na qual Manuela Castro Neves relata as peripécias à volta de duas enormes tartarugas, que se tornaram, durante dois meses, nos animais de estimação da turma. Mas há também histórias difíceis, como a da Rosa, cuja obsessão pela saúde do pai, alcoólico, afetava o seu processo de aprendizagem ou a do Gustavo, que estava sempre a apertar o pescoço aos colegas. Não obstante, todas refletem uma mesma atitude por parte da professora – a procura permanente de um equilíbrio entre o afeto pelas crianças e a sua aprendizagem. “Neste livro, quis evidenciar aquilo a que alguns autores chamam de ‘esbater a diferença entre o aluno e a criança’, porque os alunos, antes de o serem, são crianças, e levam para a escola os seus hábitos, sentimentos e as vidas que têm em casa”, explica. E remata: “A escola não deve nem ser tecnicista, nem descurar a importância das aprendizagens”.
Reformada desde 2004, Manuela Castro Neves trabalha atualmente em casa, no apoio a crianças que se atrasaram no percurso escolar. Uma forma, diz, de, por um lado, manter o contacto com as crianças, e, por outro, de não “desperdiçar” uma experiência de 44 anos de ensino. Além disso, autora sobretudo de títulos relacionados com pedagogia (de entre os quais Organização de Trabalho na Sala de Aula – Uma Prática Alternativa e Pedagogia Intercultural), dedica-se, agora, à literatura infantil: em 2009, publicou Um Elefante Diferente e garante estar a trabalhar numa série de histórias para crianças. No entanto, não esconde as saudades da escola: “Sinto falta da vida que se gera dentro de uma turma e da maneira como as crianças me entusiasmavam todos os dias”. E, num tom grave, como quem conta um segredo íntimo e doloroso, confessa: “É uma falta da qual nunca me vou curar”.