Pressionado a remodelar o Governo, o titubeante primeiro-ministro com voz de barítono e tomates de lojista, decidiu remodelar a sala e mandou comprar uns reposteiros novos, em saldo claro, que os tempos não estão para manigâncias.
Ainda assim, o coro ululante da imprensa e da oposição não se comoveu e continuou a exigir uma remodelação ministerial.
O hesitante primeiro-ministro mandou chamar dois conselheiros, uma vidente e um prestamista da baixa e reuniu num secreto conciliábulo para decidir que medidas a tomar.
No dia seguinte, o jardineiro foi chamado a S. Bento e foi-lhe ordenado que cortasse as relvas daninhas do jardim e que plantasse uns cravos.
O jardineiro que não era de modas e tinha votado no Salazar para português do século, cortou as relvas daninhas, mas em vez de uns cravos plantou umas couves, daquelas repolhudas, boas para o cozido à portuguesa que foi servido aos distintos membros da imprensa e da oposição, que assim apascentaram os seus robustos ventres num almoço de trabalho na sala do primeiro-ministro, onde todos apreciaram o seu bom gosto na escolha de reposteiros e de ministros.