O nº 15 do JL abre com três substanciais ensaios de duas pp. cada, o que no atual formato do nosso jornal corresponde a bastante mais. A saber: “Dostoievsky e Raúl Brandão”, por Guilherme de Castilho, o reputado autor de estudos, entre outros, sobre o escritor de Húmus e sobre António Nobre, que foi embaixador de Portugal em várias capitais; “O conflito adolescente: progenitores em Romeu e Julieta”, por Eurico Figueiredo, o ex dirigente associativo das lutas estudantis que se doutorou em – e prof. de – Psiquiatria e publicou diversos livros; “O que nos revela uma aldeia em tempo de festa”, por Moisés Espírito Santo, o sociólogo, etnógrafo e etnólogo, prof. da Un. Nova de Lisboa, especialista em Sociologia Rural e das Religiões em Portugal.
Porém, a capa da edição, de 15 de setembro de 1981, tem como figura central o pintor português, decerto com mais destaque na nossa 1ª página: Júlio Pomar. No título da sua longa entrevista, de três pp., a Pedro Vieira, palavras suas: “Na minha relação com o quadro ele tem de sair sempre vencedor”. No texto vê-se que quando fala daquela “relação”, concretiza, em forma interrogativa: “experiência, diálogo, luta?”; e ao “sair vencedor” acrescenta: “impor o seu mando, abrir a sua surpresa, mostrar-me o que eu não via”.
Em matéria de artes, um muito bom exclusivo para Portugal – outra longa entrevista, esta com o mundialmente famoso escultor britânico Henry Moore. Que confessa a António Caballero o seu sonho, não pequeno, de “ser como Miguel Ângelo”. Lá na área final, as habituais críticas de cinema, teatro, música. Quanto a esta sendo de realçar. no “Debate-Papo”, um muito interessante texto. “País de músicos, país de poetas”, do incomparável Carlos Paredes, a propósito de uma frase sua na entrevista publicada no nº anterior.
Quanto à literatura, nesta edição não é dominante. Mas temos uma carta inédita de José Régio para Eugénio Lisboa, por este comentada; uma conversa com um novo romancista, Américo Guerreiro de Sousa, sobre um seu romance que teria muito êxito, Os Cornos de Cronos; Irineu Garcia a escrever sobre Lygia Fagundes Telles. Na crítica, de par com o sempre fundamental “Guarda-Livros”, uma pormenorizada análise de Maria de Santa Cruz ao que considera “um romance fundamental da literatura angolana”, Mayombe, de Pepetela, e além do mais, um livro de E. M. de Melo e Castro recenseado por Manuel Frias Martins – que, recorde-se, na edição anterior escreveu sobre o mesmo poeta e ensaísta, na sua morte, e nesta assina o ensaio de abertura das Letras.
No domínio da atualidade, António Braz Teixeira faz o “balanço do seu trabalho como secretário de Estado da Cultura”, após apenas oito meses no cargo, que deixou, assinalamos na entrada do seu texto “depois de ser contestado por alguns sectores da sua própria área política (PSD) precisamente porque tomou algumas atitudes que visavam mais a defesa da cultura do que os interesses partidários”. E, passando a Cultura e ser ministério, publica-se o programa do novo ministro, Francisco Lucas Pires.
Enfim, temos as colunas ou crónicas regulares de Augusto Abelaira, Nuno Júdice e José Sesinando, esta com “Excertos de J. S. Buch” e com o “Quantinho do Leitor” – além de uma narrativa (ou conto?) de Ilse Losa. Na última página, mais um “ás”: na magnífica prosa do poeta Manuel António Pina, “Como Eugénio de Andrade viu o Festival Internacional de Poesia de Morélia” (México), em que o autor de As mãos e os frutos participou e sobre o qual conversou com o nosso camarada e colaborador. Uma conversa entre dois futuros Prémios Camões, ilustrada por uma foto em que Eugénio está com outro futuro vencedor do Camões, João Cabral de Melo Neto. Que também esteve num festival a que nem faltou Jorge Luís Borges…