O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, 77 anos, habituou-nos a trabalhos fotográficos únicos e monumentais. Mal terminou Genesis, um projeto de oito anos em que documentou o planeta intocado (e que a VISÃO publicou em fascículos), mergulhou na Amazónia, onde tinha estado pela primeira vez ainda na década de 1980. O resultado das 48 viagens – será mais rigoroso falar em “expedições” – está reunido num livro e numa majestosa exposição que inaugurou a 20 de maio na Philharmonie de Paris, onde pode ser vista até 31 de outubro. A mostra, comissariada pela sua mulher, Lélia Salgado (que desta vez o acompanhou em algumas viagens), seguirá para Londres, Roma, São Paulo e Rio de Janeiro. Sebastião Salgado gostaria muito de a trazer a Portugal, e está a trabalhar nisso. A partir do seu escritório em Paris, o fotógrafo respondeu, via Zoom, às perguntas da VISÃO. “Estou satisfeito por as coisas irem direitinhas, mas triste com essa história da Covid, porque a gente não viaja mais. Ficou a vida meio sem perspetiva, né? Mas estamos aí!”

Quando surgiu a ideia de fazer um livro e uma exposição sobre a Amazónia?
Para o Genesis, trabalhei muito na Amazónia. Já lá tinha estado antes e constatei que a situação não era mais a mesma: o ecossistema estava realmente em perigo e as tribos estavam ficando expostas. Então, mal terminei a montagem de Genesis no Rio de Janeiro, em maio de 2013, voei para a Amazónia. Este é um trabalho que fiz durante sete anos, entre 2013 e o final de 2019. A Amazónia está muito ameaçada. O resultado é um livro grande, com mais de 500 páginas, editado pela Taschen; um segundo livro, mais pequeno, também da Taschen; e uma exposição. No total, fiz cerca de 48 viagens à Amazónia. Nos últimos sete anos, passei a maioria do meu tempo lá. Entreguei-me à Amazónia. Vivi com 12 tribos indígenas e tirei muitas fotografias aéreas, principalmente com o Exército brasileiro. Isso permitiu-me fazer uma outra representação da Amazónia.