Para marcar a chegada aos 30 anos, a VISÃO lança a rubrica multimédia “Ideias com VISÃO”. Serão 30 semanas, 30 visionários, 30 ideias para fazer agora. Da ciência à saúde, das artes ao humor, das empresas ao ambiente, figuras de referência nas mais variadas áreas darão os seus contributos para pensar um Portugal melhor. Semanalmente em papel e aqui em vídeo.
“Como psiquiatra deparo-me muitas vezes com receios infundados sobre os tratamentos médicos e mitos sobre saúde; as pessoas têm frequentemente certezas que as levam a recusar medicação, por exemplo. Também verifico que perante evidências científicas bem fundamentadas sobre temas de saúde, e não só, muitas pessoas são renitentes em acreditar na informação veiculada se esta for contrária ao que elas já acham”, justifica Gustavo Jesus, médico psiquiatra, observando que “quanto menos alguém sabe sobre um assunto, maior a convicção com que defende ideias (muitas vezes erradas) sobre o mesmo – um fenómeno a que se chama efeito Dunning-Krüger”.
E explica melhor: “Na base deste efeito – e do negacionismo em geral – estão vieses cognitivos, ou seja, formas através das quais o nosso pensamento nos engana e nos leva a negar dados que são cientificamente comprovados. O mesmo princípio está na base da proliferação das fake news e do seu impacto em dimensões tão importantes como as escolhas políticas. A leitura da informação é feita de forma polarizada, numa lógica de ‘sou contra versus sou a favor’ e de seleção da informação que confirma o que as pessoas já acham saber.”
Dessa forma, a ideia de Gustavo Jesus é “introduzir nos programas escolares uma disciplina que ‘ensine a pensar’ de acordo com o método científico, fornecendo ferramentas para o pensamento crítico e para a análise da informação, para identificação de vieses de pensamento e análise de falácias”. O programa incluiria: “O que são probabilidades e o que é a aleatoriedade; o que é a correlação e o que é a causalidade (não é por dois acontecimentos ocorrerem em simultâneo que um está a causar o outro); vieses cognitivos, como o viés de confirmação (a tendência de as pessoas procurarem ou interpretarem informações de modo a que estas confirmem as suas crenças), o viés de atenção, o viés de disponibilidade ou o viés do ponto cego.”
O psiquiatra conclui: “Essa disciplina deveria percorrer toda a escolaridade obrigatória, de forma a que todos chegassem à idade adulta mais capazes de colocar perguntas, pôr em causa o que pensam saber e conseguir analisar os factos para saber no que acreditar.”