Para marcar a chegada aos 30 anos, a VISÃO lança a rubrica multimédia “Ideias com VISÃO”. Serão 30 semanas, 30 visionários, 30 ideias para fazer agora. Da ciência à saúde, das artes ao humor, das empresas ao ambiente, figuras de referência nas mais variadas áreas darão os seus contributos para pensar um Portugal melhor. Semanalmente em papel e aqui em vídeo.
É pior, muito pior do que julga. Assim começa um dos mais famosos livros sobre as alterações climáticas [A Terra Inabitável, de David Wallace-Wells]. No entanto, teimamos em negar o óbvio, porque o óbvio é doloroso e obriga-nos a reconhecer que o planeta que vamos deixar aos nossos filhos está pior e mais poluído do que o planeta que herdámos dos nossos pais. Porque o óbvio obriga-nos também a mudar de vida e de comportamentos: menos carros, menos roupas da moda e menos viagens de avião e férias no estrangeiro. Por isso, há uma grande resistência em reconhecermos aquilo que, queiramos ou não, vamos ter de aceitar.
A dúvida não é em termos mudanças ou não termos mudanças, mas sim em termos mudanças controladas por nós, graduais, paulatinas, ou termos mudanças impostas abruptamente, como aquela que aconteceu na África do Sul, quando quatro milhões de cidadãos da Cidade do Cabo se viram privados de água para beber praticamente de um dia para o outro.
As mudanças vão provocar resistências e grandes tensões políticas e sociais. Resistências, não apenas dos cidadãos, mas também de grandes interesses e empresas, que não querem perder os seus lucros, decorrentes do petróleo, dos combustíveis fósseis, do carvão, e também do betão, a segunda maior causa de emissão de CO2 do planeta.
Daí que seja fundamental que as nossas democracias mantenham um elevado nível de consenso para enfrentarmos as mudanças exigidas pela alteração climática. A minha ideia é um pacto de regime entre todas as forças políticas, sob a égide do Presidente da República, sobre as alterações climáticas e a proteção da biodiversidade. Como, aliás, foi possível fazer há 50 anos, quando mesmo numa conjuntura altamente perturbada e revolucionária, fomos capazes de aprovar a Constituição que ainda hoje nos rege. Ficam o repto e o desafio, agora falta a vontade. Na certeza de que se nada fizemos os nossos filhos não nos perdoarão.