Para atingir a aclamada condução autónoma, a Society of Automotive Engineers ou SAE International estabeleceu uma escala internacional composta por 5 níveis a qual os veículos necessitam de percorrer. Começando no nível 0 – sem automação; o nível 1 – Condução assistida – o condutor continua com o controlo do veículo, embora este o assista em simples tarefas automatizadas; por sua vez, no nível 2 – Automação Parcial – o veículo incorpora algumas funções de automação simples como aceleração e direção, contudo, o condutor continua a monitorizar todas as tarefas de condução e pode tomar o controlo a qualquer altura; no nível 3 – Automação Condicional – em que o veículo possui sistemas complexos de automação em que, para além dos sensores internos, está equipado com sensores capazes de detetar eventos no ambiente à sua volta e é capaz de executar a maioria das tarefas de condução; já o nível 4 – Alta Automação – chega com o veículo a executar todas as tarefas de condução e a ser capaz de executar Manobras Cooperativas com os restantes elementos da faixa de rodagem; por fim, o nível 5 – Totalmente Autónomo – em que o veículo é capaz de tomar todas as decisões na tarefa de condução e a intervenção humana é nula. Os condutores deixam de existir e passa a haver unicamente passageiros. Estamos, atualmente, entre o Nível 2 e Nível 3 de automação. Para atingir o Nível 4, impõe-se a necessidade de uma infraestrutura capaz de suportar um “robot” munido de capacidade de decisão. A verdade é que, atualmente, a infraestrutura não se encontra equipada para suportar esse nível de autonomia.
Os veículos conseguem comunicar entre si?
A resposta a esta pergunta é um contundente e convicto sim! O conceito V2X ou Vehicle-to-Everything Communication veio facilitar a comunicação segura não só entre veículos, mas também entre veículos e infraestruturas, veículos e pedestres, veículos e Cloud – resumidamente, comunicação entre veículos e todo o ambiente veicular. Essa comunicação consiste na recolha da informação presente nos sensores internos do carro e a partilha da mesma com os restantes nós veiculares. Como a comunicação não é unicamente num sentido, o veículo também vai recolher a informação proveniente de todo o ambiente em seu redor, permitindo assim um acesso rápido, atualizado e fiável à informação necessária para um veículo autónomo tomar as decisões na tarefa de condução. Agora, com esta enorme quantidade de dados gerada, como garantimos que a comunicação é segura, rápida, fiável e que consegue abranger o elevado número de elementos heterogéneos presentes neste ambiente veicular tão diverso? A solução passa pela Quinta Geração das redes móveis, mais conhecida por 5G.
Afinal qual é a relação do 5G com a condução autónoma?
Chegados ao ano 2020, observou-se um crescimento exponencial do número de dispositivos móveis capazes de aceder à Internet através da quarta geração móvel e, concomitantemente com a criação das plataformas de streaming, ao consumo exponencial de dados multimédia. Repetindo-se a história, as aplicações e utilizadores começam a ser muito mais exigentes em relação às taxas de transmissão de dados, cobertura, latência e fiabilidade das comunicações, com a agravante dos milhões de novos dispositivos que diariamente se ligam a esta rede, não só smartphones (e outros gadgets), bem como linhas de produção inteiras, casas e veículos autónomos. O 4G começa, deste modo, a atingir o seu limite, impulsionando, assim, em 2020, a implementação da quinta geração de redes móveis.
O rádio 5G levará a banda larga móvel tradicional ao extremo em termos de taxas de transmissão de dados, capacidade e disponibilidade. Além disso, espera-se que o 5G tenha um impacto fundamental em todos os setores da sociedade, melhorando os níveis de eficiência, produtividade e segurança, permitindo novos serviços, incluindo conectividade industrial, automóvel e Internet das Coisas (IoT).
Para quando os veículos autónomos a circular em Portugal?
Regra geral, somos bons a adivinhar como será o futuro, mas já não tão bons a prever quando será esse futuro. Contudo, e como de futurologia não percebemos muito, antes do veículo autónomo é necessário implementar toda a infraestrutura necessária para suportar esse veículo nas suas decisões. Desta feita, tomando o exemplo da União Europeia, e mais especificamente de Portugal, no nosso país está previsto o pontapé de saída da implementação da rede 5G em 2021, com previsão de 75% de cobertura nacional em 2023 e 95% em 2025. Se conjugarmos a cobertura 5G com as iniciativas de outros países da UE para reduzir, até quase zero, o número de vítimas em acidentes de viação, podemos prever o surgimento de veículos autónomos após a implementação total da rede 5G, atingindo maior incidência a partir de 2050.
A pergunta final que se impõe: como é que a condução autónoma vai influenciar o nosso quotidiano?
Não restarão dúvidas de que a condução autónoma vai revolucionar sobeja e inequivocamente o nosso quotidiano já que os condutores tornar-se-ão passageiros e não necessitarão de tomar atenção ao ato de condução, abrindo caminho ao chamado «Terceiro Espaço para Viver» ou Third Living Space. Atualmente, a pessoa comum possui dois espaços para viver ou, dito de outro modo, os dois locais onde passa mais tempo – a nossa casa e o nosso local de trabalho. Agora, com a condução autónoma, o passageiro poderá ocupar o seu tempo de viagem das mais diversas formas, desde atividades de lazer, trabalhar, ler e-mails, videochamadas, entre tantas outras coisas. As possibilidades são incontáveis! Também é possível antecipar uma mudança de paradigma no que concerne ao próprio veículo e à conceção da sociedade a este respeito, já que se tornará maioritariamente num serviço, i.e., não quer dizer que vamos, de repente, deixar de ter veículos próprios, mas tal originará, por certo, uma massificação de serviços de veículos autónomos, podendo significar um decréscimo de veículo por habitante.
Por fim, cumpre dar uma palavra para a influência da condução autónoma nos processos industriais ou logísticos, porquanto veículos autónomos irão permitir a formação de pelotões de veículos (o chamado Platooning) através de manobras cooperativas, de forma a otimizar a eficiência energética do transporte de bens ou mercadorias que, por sua vez, se traduz numa diminuição da pegada ambiental. Assim, podemos esperar por um futuro mais verde, mais seguro e mais autónomo.