«Se usa um aparelho como o Roku ou a Amazon Fire TV, há várias empresas que podem construir um panorama bastante completo daquilo que está a ver (…) há muito pouca monitorização ou noção das suas práticas, incluindo que dados estão a ser vendidos», alerta Arvind Narayanan, professor em Princeton. O The Verge explica que este tipo de aparelhos está disponível a preços relativamente baixos devido, precisamente, à subsidiarização conseguida pelas empresas que têm acesso a esses dados. Tecnicamente, os utilizadores estão a concordar em ceder os dados quando fazem a configuração inicial, mas muitos nem sequer se apercebem disso.
Para chegar a estas conclusões, os investigadores de Princeton construiram um bot que instalou milhares de canais nos seus aparelhos Roku e Amazon Fire TV e depois replicou comportamento humano a pesquisar e a ver conteúdos. De cada vez que fosse mostrado um anúncio, o bot registava que informação estava a ser recolhida. Alguns anúncios chegam a enviar informação desencriptada sobre os endereços de email dos utilizadores, os títulos dos conteúdos a serem vistos, enquanto outros partilham o tipo de dispositivo, cidade e estado, bem como o número de série do equipamento, rede Wi-Fi e ID de anúncio. O estudo concluiu que 69% dos canais do Roku e 89% dos canais Amazon têm este tipo de anúncios “coletores de dados”. O DoubleClick da Google foi encontrado em 97% dos canais Roku.
Ambas as plataformas permitem desabilitar a publicidade direcionada, mas ao fazê-lo apenas se impede a partilha do ID de anúncio e não dos restantes dados únicos. Narayanan considera mesmo que haver melhores controlos de privacidade não deixa de ser apenas um “penso rápido”, dado que todo o modelo de publicidade direcionada na TV é incompatível com a privacidade dos utilizadores. «Para maximizar a receita, as plataformas vão usar mineração de dados e personalização algorítmica para manter as pessoas coladas ao ecrã o máximo tempo possível».
Outro estudo separado, da Northeastern University, concluiu que muitos dos 81 aparelhos de casas inteligentes analisados monitorizam as conversas e movimentos dos utilizadores, sem que essa indicação seja visível e mesmo quando os aparelhos não estão a ser usados. É o caso de campainhas inteligentes como a Ring da Amazon ou o modelo da Zmodo. Este comportamento é detalhado apenas nas letras pequenas da política de privacidade.