Os chips desenhados pela ARM têm tecnologia originária dos EUA e esse é o argumento invocado pela administração da empresa, que tem sede no Reino Unido, para ter enviado, na semana passada, um comunicado interno para os trabalhadores a solicitar que se suspenda «todos os contratos em vigor, serviços de suporte, e qualquer tipo de obrigações pendentes» com a marca de telemóveis Huawei.
A BBC deu a notícia, em primeira-mão, publicando excertos da tomada de posição que já começou a circular entre os profissionais da ARM: «A ARM está a aplicar as mais recentes restrições determinadas pelo governo dos EUA e está em conversações com as agências dos governo dos EUA para assegurar que se mantém em consonância».
Depois dos fabricantes de processadores Qualcomm e Intel, o cerco aperta-se substancialmente com esta posição tomada a nível interno pela marca britânica que desenha as arquiteturas usadas pela maioria dos chips dos telemóveis da atualidade.
Apesar de ser uma empresa britânica que é detida pela gigante japonesa Softbank, a ARM tem vários laboratórios e escritórios nos EUA. Na semana passada, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, emitiu uma ordem executiva a banir dos concursos estaduais e federais marcas e fornecedores que estejam classificados como potenciais ameaças para a segurança dos americanos. Essa medida, que a Casa Branca garante destinar-se a fornecedores de todas as proveniências, viria a afetar diretamente a Huawei depois de o Departamento de Comércio ter incluído a marca chinesas e outras empresas relacionadas na lista de empresas consideradas como potenciais ameaças para a segurança dos EUA.
Sem poder contar com os maiores fabricantes de chips e sem a fornecedora das arquiteturas desses mesmos chips, a Huawei terá de encontrar uma solução rapidamente para poder manter-se na disputa dos primeiros lugares do ranking das marcas de telemóveis. De outros quadrantes das tecnologias surgem outras notícias igualmente alarmantes para os gestores da Huawei: a Google já tinha feito saber que ia deixar de fornecer o sistema operativo Android para a marca de telemóveis chinesa. No Reino Unido, a Vodafone anunciou que iria suspender a compra de telemóveis compatíveis com a rede de quinta geração (5G) da Huawei. A suspensão é temporária e incide sobre a compra de telemóveis Mate 20X.
No caso dos sistemas operativos, a Huawei fez saber que já estaria a tratar de encontrar um sucedâneo do “universo” Android que permite manter a compatibilidade com as apps que já estão em circulação. O Dinheiro Vivo adiantou durante esta semana que a portuguesa Aptoide, que tem vindo a disputar com a própria Google a venda de apps para o Android, está a ser equacionada como potencial fornecedora de sistemas operativos alternativos àqueles que hoje são disponibilizados diretamente pela Google.
Nos chips, o bloqueio comercial é bastante mais grave e difícil de superar: a Huawei tem vindo a fabricar vários chips através da empresa subsidiária HiSilicon. O fabrico e a distribuição dos processadores Kirin 985, que serão a principal referência da marca chinesa para o segmento dos telemóveis e smartphones depois do verão, não deverão ser afetados pela suspensão das relações comerciais decretada pela administração da ARM, refere a BBC. Pelo contrário, a geração de chips que deverá seguir-se aos Kirin 985 poderá ter de ser reformulada, a fim de não conter qualquer componente das arquiteturas ARM.
Mais crítica é a posição dos chips Tiangang, igualmente produzidos pela HiSilicon. Atualmente, estes chips são usados nas estações de base das redes 5G – e foi precisamente esta geração das redes móveis, que ainda está em fase de testes em Portugal e em vários pontos do mundo, que serviu de argumento para o braço de ferro comercial que tem vindo a ser protagonizado pelos governos dos EUA e da China.