Um cristal de zircão contido num pequeno meteorito originário de Marte – e descoberto em Marrocos em 2011 – pode obrigar a reescrever o que se sabe sobre o potencial de vida naquele planeta. Um estudo publicado na Science Advances esta semana revela que estes cristais constituem “uma das provas físicas diretas do complexo impacto de formação de crateras em Marte” há 4,48 mil milhões de anos.
Apesar de já terem sido feitas anteriormente análises ao meteorito conhecido como Black Beauty (Beleza Negra, em tradução livre), a equipa de Morgan Cox, do Curtin’s Space Science and Technology Centre da School of Earth and Planetary Sciences, é a primeira a descobrir uma assinatura clara de um impacto de elevada densidade em Marte – estima-se que estará inclusive ao nível do que provocou a catástrofe que eliminou os dinossauros da Terra há 66 milhões de anos. Estes cristais de zircão são o primeiro exemplo de um mineral proveniente de um impacto que originou também crateras em Marte.
“Durante a evolução de Marte, uma colisão, ao ponto de deformar os cristais de zircão, pode ter afetado semelhantemente as condições ambientais críticas para o surgimento e continuidade da vida”, explica a equipa.
As colisões cataclísmicas e impactos de asteroides nos primórdios do Sistema Solar podem ter tido um papel importante na formação da vida na Terra e devem também ter influenciado igualmente a vida em Marte, numa altura em que o planeta era muito mais quente e húmido.
A descoberta da equipa de Cox pode alterar a cronologia dos eventos que se assumia até agora, ao constatar-se que os cristais se formaram há 4,45 mil milhões de anos por impactos com pressão de pelo menos 20 a 30 gigapascais.
“Estes cristais estão bem desenvolvidos e têm uma aparência semelhante aos que encontramos em três das grandes estruturas de impacto na Terra”, lê-se no estudo. Este mineral prova a existência de impactos devastadores em Marte há 4,48 mil milhões e supõe-se agora que as condições para a existência de vida naquele planeta só tenham sido possíveis entre 3,9 e 3,7 mil milhões de anos atrás, uma janela temporal que coincide com a existência de água no planeta, que é um dos ingredientes mais importantes para a existência de vida tal como a conhecemos.