Sempre que querem que o TDP8 execute uma tarefa, os profissionais da Efacec enviam, com uma semana de antecedência, comandos para o Centro de Operações da Inmarsat em Londres. Depois, os técnicos sedeados no Reino Unido enviam esses comandos para o computador que se encontra afixado numa das faces do satélite AlphaSat, a mais de 36 mil quilómetros de distância.
No sentido contrário a informação segue um fluxo diário, que permite apurar variações de temperatura, correntes e tensões, bem como os efeitos causados pelo impacto com partículas energéticas que pairam no Espaço. «Temos registado várias mudanças de estado nas memórias. Nos outros componentes, como os transístores de nitreto de gálio e os circuitos de fibra, precisamos de um prazo mais alargado para apurar os efeitos causados pela radiação. Talvez dentro de um ano já tenhamos informação suficiente», explica Costa Pinto, diretor de Projetos do Espaço da Efacec.
O TDP8 foi desenvolvido pela Efacec em parceria com o Instituto de Telecomunicações de Aveiro, o Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas, o Instituto de Telecomunicações de Aveiro, a Acosiber, a Evoleo e a DAS Photonics. O desenvolvimento deste “computador espacial” arrancou há cerca de três anos no âmbito de um projeto da Agência Espacial Europeia (ESA), que tem por objetivo avaliar a resiliência de equipamentos e componentes eletrónicos no Espaço.
Com pouco mais de três meses no Espaço, o TDP8 está ainda no início da árdua missão que tem pela frente. O projeto acordado com a ESA tem uma duração de três anos que pode ser alargada por mais um ano, mas Costa Pinto acredita que o período de vida de alguns componentes possa ser maior: «Nos transístores de Nitreto de Gálio há a forte convicção de que vão resistir durante os 15 anos (da missão do AlphaSat) sem grandes efeitos. As memórias Flash ainda não são muito usadas no Espaço. Há uma grande expectativa, mas não será de estranhar que parte dessas memórias acabe danificada… e nalguns casos irreversivelmente».
Além de serem apontados como peça fulcral da informática espacial, os transístores de Nitreto de Gálio têm ainda um atrativo suplementar: são, provavelmente, os primeiros transístores do género enviados para o Espaço no âmbito de um projeto europeu.
«Do ponto de vista da informática, este computador não será propriamente muito inovador. E isto porque o TDP8 foi desenhado para testar o comportamento de várias tecnologias no Espaço. Por isso, usamos componentes que resistem às radiações e que aguentam grandes variações de temperatura. Se fosse portátil comum, provavelmente a esta hora já não estava a funcionar», sublinha Costa Pinto.
A par dos transístores desenvolvidos com o apoio dos investigadores do Instituto de Telecomunicações de Aveiro, as atenções da Efacec estão centradas no monitor de radiação que segue ao lado do TDP8. Com este monitor, os investigadores portugueses podem medir o impacto gerado pelas partículas energéticas, bem como identificar a tipologia dessas partículas (protões, eletrões, etc.).
O monitor de radiação que segue a bordo do AlphaSat é apenas o primeiro desenvolvido pelos laboratórios da Maia: atualmente está a ser finalizada uma segunda versão que deverá rumar a Mercúrio, a bordo da sonda BepiColombo (lançamento previsto para 2015).
Em agosto de 2014, deverá ficar concluído mais um projeto que pode dar visibilidade ao esforço da Efacec no que toca à conquista do Espaço: desta feita, são dois altímetros – um que mede distância em relação aos alvos através de laser; e outro em radar. Ambos altímetros estão pensados para o uso em futuras sondas enviadas a Marte.
Antes das tão esperadas viagens aos planetas vizinhos, os investigadores da Efacec vão continuar a testar várias configurações e sujeitar o computador de 9,9 quilos a diferentes provações. Com o tempo, o TDP8 mostrará o que se pode ou não fazer com um equipamento eletrónico no Espaço.
FOTOS: Sérgio Azenha