A sonda BepiColombo, uma missão conjunta entre a Agência Espacial Europeia (ESA) em conjunto com a Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA) , passou recentemente num voo ‘rasante’ a 37628 quilómetros da superfície de Mercúrio e captou imagens do planeta num espetro de luz inédito até agora.
A missão registou imagens em infravermelho médio, onde se podem detetar variações na temperatura e composição ao longo da superfície do planeta. Esta é apenas a terceira missão dedicada a Mercúrio, sendo a segunda que irá mesmo entrar na órbita em torno daquele corpo em 2026. Antes, só a NASA Mariner 10, entre 1974 e 1975, e a Messenger, entre 2011 e 2015, estiveram junto ao primeiro planeta a contar do Sol.
A BepiColombo pretende captar mais dados sobre o misterioso planeta e o ambiente envolvente, registando fotografias e leituras de dados sobre os campos de partículas e eletromagnéticos. Com recurso ao MERTIS, (Mercury Radiometer and Thermal Infrared Spectrometer), criado por investigadores alemães, a sonda conseguiu captar imagens no espetro de luz infravermelho médio pela primeira vez.
Harald Hiesinger, investigador da Universidade de Munster, explica em comunicado que “com o MERTIS, estamos a abrir caminho e vamos ser capazes de perceber a composição, a mineralogia e as temperaturas de Mercúrio muito melhor”. “Após cerca de duas décadas de desenvolvimento, medições em laboratório de rochas quentes semelhantes às de Mercúrio e inúmeros testes de toda a sequência de eventos para a duração desta missão, os primeiros dados do MERTIS de Mercúrio estão disponíveis. É simplesmente fantástico”, corrobora Jörn Helbert, do Centro Aeroespacial da Alemanha.
As imagens recolhidas têm uma resolução de 26 a 30 quilómetros à superfície, refletem parte da Bacia Caloris e da planície vulcânica no hemisfério norte do planeta. O espetrómetro é sensível a luz no comprimento de onda de sete a 14 micrómetros, alcance que permite distinguir minerais formativos de rochas.
Solmaz Adeli, do Instituto de Investigação Planetária de Berlim, que contribuiu para o planeamento deste voo, conta que “o momento em que vimos os dados do voo rasante do MERTIS pela primeira vez e pudemos distinguir imediatamente as crateras de impacto foi de tirar a respiração. Há tanto para ser descoberto neste conjunto de dados – características da superfície que nunca foram observadas desta forma antes aguardam-nos”. “Nunca estivemos tão perto de entender a mineralogia global à superfície de Mercúrio e o MERTIS está pronto para a fase orbital da BepiColombo”.
O entendimento de como os diferentes minérios brilham em luz infravermelho média e como isso varia com a temperatura é fundamental para interpretar os dados do MERTIS. A parte de Mercúrio banhada pela luz solar pode atingir temperaturas muito elevadas, com os instrumentos a registar até 420 graus centígrados ali. A sonda deve chegar a Mercúrio em 2026 e a equipa está a preparar-se para testar muitos materiais diferentes e misturas de minerais em laboratório para se prepara para novas interpretações. Nessa altura, são esperadas imagens com resoluções de 500 metros à superfície.
A BepiColombo foi lançada a 20 de outubro de 2018, sendo a primeira missão europeia ao planeta Mercúrio. Depois da chegada ao planeta em 2026, a sonda irá dividir-se em duas que estabelecerão as suas próprias órbitas em torno do planeta a partir de 2027 e com um plano de missão para um ano, que pode ser estendido por mais um ano.